Amizades improváveis que marcam uma vida e reflexões sobre ciclos da vida e solidão são algumas temáticas abordadas no curta-metragem de animação cearense "Juzé". A obra conta a história da relação de uma criança surda e uma baleia jubarte.
A produção foi criada por Cláudio Martins e Raquel Garcia, tem 11 minutos de duração e já passou por nove festivais pelo Brasil. Nesta quarta, 10, às 14 horas, o curta será transmitido no Cineteatro São Luiz com duas intérpretes de libras na sessão. A ação promove exibições gratuitas de premiados filmes de realizadores brasileiros com temáticas infantojuvenis para alunos da rede pública e privada de ensino, instituições, entidades e associações diversas do Estado.
O filme mescla técnicas de animação em aquarela e giz de cera, narrando a história de Juzé, um menino que sofre um naufrágio e se perde em um pequeno barco no oceano. Em meio ao momento de solidão, escuta algo pela primeira vez.
O som ouvido pelo menino é o canto de uma baleia, que entoa a voz na mesma frequência que ele consegue ouvir. Mas um evento trágico os separa, e Juzé cresce carregando consigo a lembrança desse momento único.
Para o diretor do curta cearense, Cláudio Martins, a ideia de criar uma história com essa temática surgiu após assistir a um documentário sobre uma baleia solitária que cantava numa frequência diferente de todas as outras e que por isso vivia vagando pelos oceanos.
"Na hora veio uma epifania que seria fantástico se somente uma pessoa pudesse escutá-la e logo veio a ideia de um garotinho surdo", revela o diretor, que também conta sobre sua relação com o tema abordado.
"Meu pai usava um aparelho auditivo e ele sempre desligava quando alguém ia o perturbar. Já o pai da Raquel era surdo de um dos ouvidos, pois era veterano de guerra. Mas me aprofundando no tema, vi como temos amizades que vão conosco até o fim das nossas existência, e isso é muito autêntico", declara.
Cláudio revela que as inspirações em aquarelas e pinturas infantis foram algo que usaram como prioridades na construção do filme, mas animar água foi mais complicado, algo que chegaram a fazer manualmente. Já todos os personagens foram feitos por "cutout" (digital).
A pesquisa para o filme incluiu pessoas surdas na busca pela melhor maneira de abordar o assunto no filme, que, de acordo com o diretor, foi uma "responsabilidade enorme".
"É um recado, uma mensagem para o mundo. Por mais que seja uma expressão minha, estou tratando de um tema sensível, nada mais claro no meu entendimento de chamar um consultor, que foi o Cleyton Santos. O envolvimento e o direcionamento dele foram enormes. Até o convidamos para atuar e ser nossa referência para animar o personagem", declara o criador de animação e roteirista, que usou como referências na obra os estilos de design francês e belga.
A primeira vez em que o curta esteve em exibição foi no Cinema Dragão do Mar em fevereiro e a reação do público adulto foi algo que Duarte não estava esperando.
"O cinema foi um ápice nosso, uma comoção. Não imaginávamos que o público adulto iria gostar também. Muitos chegaram com um olhar marejado para nos parabenizar. Já as crianças surdas da Escola Francisco Suderland Bastos ficaram extasiadas. Foi linda a experiência. O Cleyton Santos, nosso consultor que é surdo, falou na hora da emoção de se ver representado em uma animação, coisa que ele nunca viu e nem esperava desde criança", revela, acrescentando que o filme ainda não está disponível em nenhuma plataforma de streaming.
Filme "Juzé"