Da placa de trânsito recriada pelo artista cuiabano Gervane de Paula ao ferro de passar roupa pintado – e simbolizado – pela paulista Laura M. Mattos, a arte contemporânea brasileira dá um recado: o ordinário está em alta. É o que revela a 20ª edição da megafeira SP-Arte, que reuniu, até o último dia 7, importante recorte da cultura nacional em São Paulo.
“A força da arte contemporânea hoje é falar do momento presente. O corriqueiro, o diário. As pessoas estão buscando se identificar com o agora”, reflete o galerista Marco Antônio Lima, fundador da Galeria Lima, localizada em São Luiz. O aparentemente ordinário, porém, não é trivial e, sim, um dispositivo para um olhar social ao nosso tempo. Se a Inteligência Artificial e suas quimeras avançam na arte, o palpável ganha novos sentidos.
“A arte assume, mais do que nunca, um compromisso com o desenvolvimento humano e social. A arte não se desloca do presente. Não está presa à dimensão abstrata do belo”, dialoga o colecionador Leo Pedrosa, que integra o projeto carioca MT Projetos de Arte.
As percepções dos dois profissionais citados encontraram ecos e dissonâncias pelo pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, durante os dias de evento. Um dos maiores eventos de arte da América Latina, a feira reuniu 153 galerias de arte e de design, comportando cânones da nossa cultura (Antonio Bandeira e Chico da Silva, inclusive) e abrindo espaço para o novo – como os promissores cearenses Diego de Santos e Beatrice Arraes.
Movimentando mais de R$ 200 milhões em vendas de obras, o evento conecta curadores e compradores de muitas pontas do País. “A presença na feira implica em venda aqui no ceará”, pontua o galerista cearense Leonardo Leal, ressaltando que a edição foi “bem produtiva” do ponto de vista de negócios.
“Por mais que seja investimento muito alto para estar lá, algo que se for botar no papel em tese não faria sentido, mas faz por conseguir projetar artistas locais no cenário nacional”, reflete o nome à frente da Galeria Leonardo Leal, localizada na rua. Visconde de Mauá, 1515, na Aldeota.
Sobre as tendências que saltam para o mercado a partir dessa edição comemorativa de 20 anos, o cearense chama atenção para o mais basilar da arte: a relação do criador com as tintas, cores, texturas. “Este ano, a gente voltou um pouco mais a visibilidade para o exercício da pintura. Com trabalhos com muito refinamento”, ressalta.
Leonardo reflete sobre a força que a técnica tem para conectar a obra com o fruidor e faz críticas sobre movimentos curatoriais recentes. “Os temas (das obras) estavam tendo destaque independente da execução”, pontua, ressaltando o sucesso das obras dos cearenses Gustavo Diógenes e Cadeh Juaçaba – este, inclusive, com um dos trabalhos queridinhos entre os flashs dos visitantes da feira.
O colecionador Leo Pedrosa ressalta que, para além da cifras, a SP-Arte se torna “fundamental” por agrupar artistas do País e dimensionar o peso coletivo da produção nacional. “A cultura é um grande ativo para o Brasil nas suas mais diversas regiões e há muito desperdício de potencial. A gente acaba empobrecendo a nossa visão como povo quando invisibiliza artistas imprescindíveis”.