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Clima muda e altera a rota dos vinhos
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Clima muda e altera a rota dos vinhos

Estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment mostra que o calor e a seca aumentarão no planeta, alterando as áreas tradicionais da produção de uvas
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A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), por meio do trabalho desenvolvido no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho, em Caldas, no Sul do estado, potencializa a produção de vinhos finos e espumantes de qualidade em Minas Gerais. Trabalhando em parceria com os produtores, a Epamig disponibiliza mudas de qualidade, tecnologias de manejo, suporte técnico capacitado e a infraestrutura de uma vinícola experimental para o processamento das uvas e a produção de vinhos.

No local, são produzidas mudas enxertadas de alta qualidade de uva, que são comercializadas para produtores de diversos estados. “Vendemos nossas mudas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, entre outros. A procura por uvas para produção de vinhos vem crescendo a cada ano, mas a demanda por uvas de mesa e de suco ainda é responsável pela maior parte das vendas”, diz o gerente do Campo Experimental da Epamig, Paulo Romão.

A expectativa de produção para 2016 é de 45 mil mudas, dos tipos Niágara Rosada, Niágara Branca, Bordo, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Merlot. Comercializadas sempre no segundo semestre do ano, as mudas começam a ser plantadas entre os meses de novembro e dezembro. Elas são certificadas pelo Ministério da Agricultura e pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).

O técnico em agropecuária do Campo Experimental de Caldas, Daniel Rodrigues, explica que o diferencial das mudas é que a Epamig utiliza a enxertia de mesa, técnica europeia usada pelos maiores países produtores de vinho.

“A forma como produzimos a muda influencia diretamente sua qualidade. Existe todo um cuidado envolvido, com o modo de corte das plantas, que é feito por uma máquina,com o tamanho das estacas, a hidratação, enfim, tudo é observado. Utilizamos ainda uma parafina importada, que facilita que o enxerto brote”, conta.

A Epamig em Caldas está em fase de encomendas das mudas. Os produtores interessados devem fazer suas reservas pelo telefone (35) 3735-1101.

Vinícola experimental

O Campo Experimental da Epamig em Caldas abriga a única adega enológica experimental do Sudeste do Brasil. Criada em 1936 e ligada ao Ministério da Agricultura, a unidade foi, ao lado das estações experimentais de Caxias do Sul (RS) e Jundiaí (SP), um dos três primeiros centros de pesquisa especializados em uva e vinho do país.

Os espumantes processados na vinícola experimental são feitos pelo tradicional método francês denominado Champenoise. Segundo a enóloga da Epamig, Isabela Peregrino, o processo de estabilização dos vinhos varia de acordo com o tipo desejado da bebida. “Temos capacidade para produzir vinho branco, tinto e espumante. Em geral, o processo leva um ano, desde o processamento da uva até o engarrafamento”, explica.

A vinícola, que completa 80 anos este ano, funciona como um teste final de desempenho da pesquisa do campo. O vinho produzido pela Epamig, dos tipos Bordo e Syrah, é comercializado no próprio Campo Experimental, com o rótulo da Empresa.

Auxílio aos produtores

A experiência da Epamig atrai gente de todo o país. Desde o final de 2008, o paulista Márcio Verrone começou a plantar uvas em sua propriedade em Itobi, cidade do interior de São Paulo e próxima ao Sul de Minas Gerais. Agora, ele pretende dar o próximo passo e começar a comercializar vinhos. A empreitada de Márcio na vitivinicultura, que é o cultivo das uvas agregado à fabricação dos vinhos, foi viabilizada com o auxílio e consultoria da Epamig.

Ele utilizou técnica de dupla poda da videira, desenvolvida pelo pesquisador da Epamig, Murillo Albuquerque, que implica na inversão do ciclo produtivo da videira, alterando para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos finos. 

O método consiste na realização de podas em janeiro. “A sabedoria popular nos ensina que a poda de inverno deve ocorrer durante a florada do ipê, e a prática tem sido esta”, destaca Murillo. As uvas colhidas no inverno apresentam mais aroma e maior concentração de cor, o que contribui para o aumento qualidade do vinho.

Hoje, Verrone utiliza ainda a estrutura da vinícola experimental. Assim como ele, os vitivinicultores da região também podem usar o espaço para processar os seus vinhos. “Já faço espumante, vinho branco e tinto. Se não fosse a Epamig, esse meu projeto, que hoje é realidade, não teria saído do papel”, conclui o produtor.

Foto: Mário Sérgio/ EPAMIG (Foto: )
Foto: A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), por meio do trabalho desenvolvido no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho, em Caldas, no Sul do estado, potencializa a produção de vinhos finos e espumantes de qualidade em Minas Gerais. Trabalhando em parceria com os produtores, a Epamig disponibiliza mudas de qualidade, tecnologias de manejo, suporte técnico capacitado e a infraestrutura de uma vinícola experimental para o processamento das uvas e a produção de vinhos. No local, são produzidas mudas enxertadas de alta qualidade de uva, que são comercializadas para produtores de diversos estados. “Vendemos nossas mudas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, entre outros. A procura por uvas para produção de vinhos vem crescendo a cada ano, mas a demanda por uvas de mesa e de suco ainda é responsável pela maior parte das vendas”, diz o gerente do Campo Experimental da Epamig, Paulo Romão. A expectativa de produção para 2016 é de 45 mil mudas, dos tipos Niágara Rosada, Niágara Branca, Bordo, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Merlot. Comercializadas sempre no segundo semestre do ano, as mudas começam a ser plantadas entre os meses de novembro e dezembro. Elas são certificadas pelo Ministério da Agricultura e pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O técnico em agropecuária do Campo Experimental de Caldas, Daniel Rodrigues, explica que o diferencial das mudas é que a Epamig utiliza a enxertia de mesa, técnica europeia usada pelos maiores países produtores de vinho. “A forma como produzimos a muda influencia diretamente sua qualidade. Existe todo um cuidado envolvido, com o modo de corte das plantas, que é feito por uma máquina,com o tamanho das estacas, a hidratação, enfim, tudo é observado. Utilizamos ainda uma parafina importada, que facilita que o enxerto brote”, conta. A Epamig em Caldas está em fase de encomendas das mudas. Os produtores interessados devem fazer suas reservas pelo telefone (35) 3735-1101. Vinícola experimental O Campo Experimental da Epamig em Caldas abriga a única adega enológica experimental do Sudeste do Brasil. Criada em 1936 e ligada ao Ministério da Agricultura, a unidade foi, ao lado das estações experimentais de Caxias do Sul (RS) e Jundiaí (SP), um dos três primeiros centros de pesquisa especializados em uva e vinho do país. Os espumantes processados na vinícola experimental são feitos pelo tradicional método francês denominado Champenoise. Segundo a enóloga da Epamig, Isabela Peregrino, o processo de estabilização dos vinhos varia de acordo com o tipo desejado da bebida. “Temos capacidade para produzir vinho branco, tinto e espumante. Em geral, o processo leva um ano, desde o processamento da uva até o engarrafamento”, explica. A vinícola, que completa 80 anos este ano, funciona como um teste final de desempenho da pesquisa do campo. O vinho produzido pela Epamig, dos tipos Bordo e Syrah, é comercializado no próprio Campo Experimental, com o rótulo da Empresa. Auxílio aos produtores A experiência da Epamig atrai gente de todo o país. Desde o final de 2008, o paulista Márcio Verrone começou a plantar uvas em sua propriedade em Itobi, cidade do interior de São Paulo e próxima ao Sul de Minas Gerais. Agora, ele pretende dar o próximo passo e começar a comercializar vinhos. A empreitada de Márcio na vitivinicultura, que é o cultivo das uvas agregado à fabricação dos vinhos, foi viabilizada com o auxílio e consultoria da Epamig. Ele utilizou técnica de dupla poda da videira, desenvolvida pelo pesquisador da Epamig, Murillo Albuquerque, que implica na inversão do ciclo produtivo da videira, alterando para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos finos. O método consiste na realização de podas em janeiro. “A sabedoria popular nos ensina que a poda de inverno deve ocorrer durante a florada do ipê, e a prática tem sido esta”, destaca Murillo. As uvas colhidas no inverno apresentam mais aroma e maior concentração de cor, o que contribui para o aumento qualidade do vinho. Hoje, Verrone utiliza ainda a estrutura da vinícola experimental. Assim como ele, os vitivinicultores da região também podem usar o espaço para processar os seus vinhos. “Já faço espumante, vinho branco e tinto. Se não fosse a Epamig, esse meu projeto, que hoje é realidade, não teria saído do papel”, conclui o produtor. Foto: Mário Sérgio/ EPAMIG

Vinhedos nos Andes e nos Pampas argentinos? De acordo com um estudo francês, publicado no final de março, a mudança climática em curso no mundo resultará em uma modificação profunda na geografia vinícola em todo o mundo. "A mudança climática está alterando a geografia do vinho e haverá vencedores e perdedores", resume Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura de uma escola de engenharia agronômica francesa, Bordeaux Sciences Agro.

O calor e a seca aumentarão e, com eles, as doenças da videira e o surgimento de pragas, aponta o estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment.

Até 90% das regiões vinícolas tradicionais das áreas costeiras e do interior da Espanha, Itália e Grécia podem estar ameaçadas de extinção.

Ao mesmo tempo, áreas onde o cultivo de uvas é escasso ou inexistente, como no sul da Inglaterra, nos Pampas ou em regiões mais altas dos Andes, podem se beneficiar.

De acordo com seu nível específico de aquecimento, essas regiões tradicionais, desde La Rioja, na Espanha, até Bordeaux, na França, podem perder entre 49% e 70% de suas colheitas.

"É possível produzir vinho em quase qualquer lugar (em climas tropicais, na Polinésia, na Índia...), mas nos concentramos na produção de vinhos de qualidade, com rendimentos economicamente viáveis", explica Van Leeuwen. Por outro lado, entre 11% e 25% das regiões onde a videira já está estabelecida podem ver melhorias em sua produção e novas regiões podem surgir em latitudes e altitudes mais altas.

"Dada a extensão da irrigação já adotada nas regiões vinícolas mais secas, como Mendoza, as projeções de precipitação sobre os vinhedos tradicionais da América do Sul não indicam mudanças substanciais em sua adequação. Portanto, a adequação futura nessas regiões dependerá principalmente do aumento da temperatura, da disponibilidade de água subterrânea e superficial e da frequência de eventos extremos", indica o relatório.

"As regiões vitivinícolas de clima fresco, como a região dos Pampas, podem melhorar nessas condições. No caso de um aquecimento mais severo, a resiliência das regiões vitivinícolas do norte da Argentina pode exigir um deslocamento das terras baixas para as encostas mais altas dos Andes, enquanto o setor atlântico oferecerá poucas oportunidades para a vinificação", dizem os especialistas.

"A expansão para áreas recém-adaptadas poderia envolver um movimento para o sul em direção à Patagônia argentina ou potencialmente uma exploração das altas altitudes dos Andes equatorianos e colombianos", destaca. Esse aumento da temperatura média do planeta também permitiria a sobrevivência da maioria das regiões produtoras atuais na Europa, onde a maioria do vinho é produzido. Além dessa alta de 2ºC, a Califórnia também seria muito prejudicada. 

"Os vinhedos irrigados são mais vulneráveis à seca se houver falta de água" e a água "é um recurso limitado e é insensato alocá-lo para a videira, que pode se adaptar muito bem a um cultivo de sequeiro", enfatiza.

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