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Espetáculo discute homofobia estrutural em Fortaleza e no Cariri
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Espetáculo discute homofobia estrutural em Fortaleza e no Cariri

Leonardo Netto apresenta em Fortaleza espetáculo que discute a homofobia estrutural a partir de pilares como a escola, a lei e o estado
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O espetáculo
Foto: Dalton Valerio/ Divulgação O espetáculo "3 Maneiras de Tocar no Assunto" passa pelo Ceará neste final de semana e conta com atuação e enredo de Leonardo Netto sob a direção de Fabiano Dadado de Freitas.

Enxergar o teatro para além da cena e encarar como um espaço de questionamentos é um dos desafios de um dramaturgo. Esta é a essência carregada pela peça escrita e representada por Leonardo Netto sob a direção de Fabiano Dadado de Freitas.

Fruto da parceria dos dois artistas fluminenses, “3 maneiras de tocar no assunto” chega ao público cearense. Em Fortaleza, a apresentação faz parte da programação dos 25 anos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, mas a obra terá também sessões no mês de maio no Centro Cultural do Cariri, no Crato.

O espetáculo encara a homofobia a partir das instâncias escolar, legislativa e política. Dividido em três atos, o monólogo inicia com o bullying na infância, passa pelos marcos dos direitos civis para comunidade LGBTQIAPN+ e chega à atuação de um deputado no Congresso Nacional — arco criado a partir de falas e pronunciamentos do ex-deputado federal Jean Wyllys. 

Focado na reflexão e na denúncia ao preconceito, o texto do ator Leonardo Netto, teve como inspiração a obra “Homossexualidade - uma história”, do escritor inglês Colin Spencer. O livro faz uma linha do tempo da temática e critica a forma como a Igreja se tornou aliada dos governos no século XIV, fortalecendo bloco hegemônico contra as diversidades.

Mestre em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ, Fabiano Dadado de Freitas dirige a obra. A partir dos seus estudos sobre a questão da sexualidade, destaca a necessidade de ampliar debates.

“A gente também está ampliando essa discussão para além da homofobia, chegando em outras intolerâncias. É uma reflexão e uma denúncia sobre a urgência de entender essas violências, que, de alguma maneira, são muito naturalizadas na sociedade. Também destacar a necessidade de trazer isso através da arte, para chegar ao público com a melhor compreensão”, pontua Fabiano, que é pesquisador em performance, política e sexualidade.

Para Leonardo, o teatro também ocupa o espaço de conscientização. O ator defende que a arte pode ter, sim, um teor educativo. O escritor enfatiza que provocação também pode ser pedagógica.

“O teatro é uma das formas de comunicação mais poderosas que existe. Acho que quando você assiste a um espetáculo que realmente te toca, te apresenta ideias novas, te conscientiza, ou te desperta para alguma coisa, aquilo fica para sempre. O teatro é uma maneira de comunicação muito, muito forte, quando é bem feito, porque está na sua frente de forma única, então, é muito exclusivo assim nesse sentido”.

Criada em 2018, “3 maneiras de tocar no assunto” surge em um momento de pouco investimento da cena cultural e a dupla iniciou a produção sem patrocínios. As apresentações só começaram a viajar Brasil afora após o suporte de editais de apoio à cultura.

Nos palcos desde 2019 e assistida por mais de 15 mil espectadores, a peça recebeu os prêmios Cesgranrio (Melhor Texto Nacional Inédito, Ator e Categoria Especial, pela direção de movimento de Marcia Rubin), APTR-RJ (Melhor Autor e Iluminação) e Cenym de Teatro Nacional (Melhor Monólogo), acumulando quase 20 indicações em premiações.

Dados disponibilizados pelo Itaú Cultural, em 2023, mostram que 3,11% do PIB brasileiro integra uma plataforma de mensuração do PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (ECIC) no Brasil. O cálculo considera salários dos profissionais, lucros das empresas e outros rendimentos de empresas e indivíduos, além da renda gerada via Lei Rouanet.

“A Lei Rouanet, a Lei Paulo Gustavo e os outros mecanismos têm tido um papel fundamental nos fundos municipais, estaduais e federal. Isso tem a ver com a empregabilidade de uma série de famílias, mas também tem a ver com continuar formando uma sociedade crítica, uma sociedade que pode fazer escolhas, ter liberdade de expressão”, reflete Fabiano.

Mesmo com a alta demanda para assistir à peça, o ator e diretor têm esbarrado com alguma dificuldade em fechar em algumas cidades. Como ambos relataram, o principal motivo dessa intervenção tem sido pelo teor da obra apresentada, pois alguns proprietários de teatros estão “desinteressados” em levar esse espetáculo para causa da discussão que ele provoca.

A passagem pelo Ceará contará com duas sessões, neste sábado, 27, e domingo, 28, no teatro Dragão do Mar. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados 1 hora antes do evento ou pelo site www.sympla.com.br. A peça também chegará dia 10 de maio ao Centro Cultural do Cariri, no Crato.

O diretor e dramaturgo destacaram estarem “muito felizes” com a vinda da peça e destacam a importância do Centro Cultural que completa 25 anos. “Está sendo um orgulho para a gente chegar ao Dragão do Mar, pois é um centro cultural importantíssimo para o Brasil, com uma repercussão grandiosa. Sabemos que tem uma obra, tem uma série de eventos de residências artísticas de repercussão nacional”, ressalta Fabiano.

“Fortaleza sempre esteve nos planos, pois, das principais capitais do Nordeste, sabemos que tem um público incrível. A gente quer encher o Dragão do Mar de público e tocar nesse assunto da peça com o maior número possível de pessoas”, completa o autor da obra.

3 Maneiras de Tocar no Assunto - Fortaleza

  • Quando: 27 e 28 de abril, às 19 horas
  • Onde: Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
  • Gratuito com ingressos disponíveis pelo Sympla e na bilheteria

 

3 Maneiras de Tocar no Assunto - Crato

  • Quando: 10 de maio, às 18h30min
  • Onde: Centro Cultural do Cariri (Rua Rocildo Alves de Lima, 33 - Parque Recreio)
  • Gratuito com ingressos disponíveis na bilheteria 1h30min antes da sessão
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