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Livro conta história de Sobral a partir da visão de religiosos
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Livro conta história de Sobral a partir da visão de religiosos

Em "Fabricação de passados por padres em Sobral", historiador reflete sobre a construção da história da cidade a partir da "humanização" das narrativas contadas por religiosos
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Sublime fotografias / Divulgação (Foto: O lançamento do livro ocorreu na escola onde trabalha, EEEP Monsenhor José Aloysio Pinto
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Foto: O lançamento do livro ocorreu na escola onde trabalha, EEEP Monsenhor José Aloysio Pinto Sublime fotografias / Divulgação

Entre os desafios na pesquisa para desvendar os mistérios das memórias da cidade de Sobral (a 243,5km de Fortaleza), o historiador Thiago Rocha apoia-se em novas perspectivas ao narrar a formação da cidade que compõe a região norte do Ceará.

No livro "Fabricação de passados por padres em Sobral", o pesquisador cearense identifica as "fissuras" no discurso popular construído sobre o município e pretende "desnaturalizar" a perspectiva hegemônica sobre o tema. Para isso, recorre aos escritos de religiosos que viveram intensamente a cidade.

Natural de Fortaleza, o autor uniu a paixão por Sobral e pela história para desenvolver a pesquisa da obra. Assim, conseguiu apontar as problemáticas que contribuem não apenas para produção dos clérigos, mas que impactam na construção da ideia de uma identidade sobralense.

Thiago Rocha, após migrar entre algumas cidades do Brasil, passou a residir em Sobral, em 1997. Ainda criança, desenvolveu interesse em resgatar momentos de um tempo passado.

"O contato com as narrativas que meus pais construíam quando morávamos em São Paulo, repleto de uma poética de saudade, deram-me o primeiro impulso de imaginação sobre o passado", relembra o pesquisador.

O historiador completa: "Ao retornar ao Ceará, tive um contato muito próximo, repleto de afetos, com meus avós, que teciam memórias de suas juventudes, o que intensificou meu apreço por um tempo distinto ao que eu vivia, imaginando pessoas, cenários e relações diferentes das que eu vivia".

O interesse por narrativas de outra época, incentivou o ingresso na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), onde cursou Licenciatura em História. Foi em seu doutorado que desenvolveu a pesquisa materializada em livro.

A escolha do tema surgiu ao professor, quando na produção do trabalho de doutorado, queria trazer a história de Sobral, afastando-se da exclusividade de uma narrativa "heroica colonizadora". Por outro lado, ele pensou em trazer a religião, influenciada pela sua família na infância, a partir de relatos de sacerdotes católicos para relembrar do passado na construção da cidade.

"Eles fabricaram passados, não no sentido de que suas versões sejam mentiras, mas na perspectiva que as estratégias de pesquisa e escrita seguiam formas similares a uma linha de montagem, consolidando marcos de uma ordem do tempo, cristalizando a ideia de que a cidade é modelar, civilizada, construída por heróis que eram católicos descendentes de portugueses, ao passo que personagens que fujam desse enquadramento ocupam papéis secundários ou sejam excluídos da narrativa do passado de Sobral", conta.

O fato de os padres na cidade serem tratados como autoridades quase inquestionáveis quando se trata do desenvolvimento da vila fortaleceu a decisão na seleção dos personagens. Humanizar os clérigos, tirando-os de um altar da história, foi a escolha do autor para uma melhor compreensão crítica sobre a história da cidade.

Na obra, foram analisados cinco clérigos: Fortunato Alves Linhares, Vicente Martins da Costa, dom José Tupinambá da Frota, João Mendes Lira e Francisco Sadoc de Araújo. Os textos tratados como referências para a historiografia contemporânea e para o poder público foram fundamentais para a construção de identidades e para o ordenamento do tempo em Sobral.

A partir deste acervo de informação, o autor fomentou os questionamentos acerca da estruturação da cidade diante de um ponto de vista crítico. O historiador ressalta que essa maneira de analisar o espaço considerando as inquietações históricas e do povo que habita determinada região.

"O conhecimento histórico necessita, em um pressuposto contemporâneo, de ser uma história-problema, ou seja, guiada por inquietações críticas, a fim de apresentar as relações de saber e poder contidas no passado, auxiliando na compreensão das relações contemporâneas nessas mesmas dimensões", acrescenta o Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco.

Esta perspectiva do passado sobralense que, segundo o historiador, tem sido de grande curiosidade do público é um forte fator para a popularidade do livro. "Creio que por desnaturalizar uma perspectiva hegemônica e apontar para problemáticas que contribuem para pensarmos não apenas a produção dos clérigos, mas a própria construção da ideia de uma identidade sobralense." pontua Thiago.

O escritor espera que o trabalho feito pelos padres não seja invalidado na obra, mas que o recurso humanize a narração do desenvolvimento da cidade da região norte do estado. "Como homens, são passíveis de escolhas, afetos, desejos e seleções que merecem ser investigadas para podermos melhor compreender a nós mesmos e nosso próprio tempo", acrescenta.

Além disso, o historiador também deseja que o livro produza inquietações e afetos aos leitores. Como ele afirma, foram estas as principais emoções que guiaram a pesquisa e a escrita. "Rogo que ela possa ser ponto de debate e ajude a desenvolver novas pesquisas, até mesmo superando-a no futuro, pois o conhecimento não é feito para ser fixo, mas sim dinâmico, envolto em novos debates e problemáticas a serem gestadas ao longo do tempo", complementa Thiago Rocha.

No início de 2024, ele realizou o primeiro lançamento da obra na escola onde trabalha, EEEP Monsenhor José Aloysio Pinto, a convite do diretor da escola, professor Francisco Antônio Freire de Sales.

Outros lançamentos já estão previstos. O novo lançamento acontece em Sobral, na Casa do Capitão-Mor, durante a programação da Semana Nacional dos Museus, no dia 14 de maio.

Fabricação de passados por padres em Sobral

  • Quando: terça-feira, 14 de maio, às 19 horas
  • Onde: Casa do Capitão-Mor (rua Randal Pompeu, 145 - Centro, Sobral)
  • Quanto: R$ 50
  • Mais informações e vendas: editoracancioneiro.com.br
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