Logo O POVO+
Música autoral cearense precisa de mais apoio, diz cantor
Vida & Arte

Música autoral cearense precisa de mais apoio, diz cantor

Após show no Centro Cultural do Banco do Nordeste, cantor e compositor cearense Isaac Cândido defende a necessidade de ampliação do espaço para a música autoral
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cantor e compositor cearense Isaac Cândido  (Foto: Ricardo Damito/Divulgação)
Foto: Ricardo Damito/Divulgação Cantor e compositor cearense Isaac Cândido

É inegável como o Ceará é capaz de “fornecer” à música brasileira artistas e composições de grande valor. Contribuições de nomes como Belchior, Amelinha, Fausto Nilo, Ednardo, Fagner e diversos outros ajudaram — e seguem ajudando — a posicionar o Estado como uma das referências na indústria musical.

Ainda assim, o cenário para quem deseja solidificar a carreira por meio da autoralidade no Ceará segue desafiador. Desde a preferência de público a shows de artistas de outros estados à escolha por repertórios já conhecidos, a situação se alonga há anos e impõe aos cantores e compositores cearenses alternativas para seguir sobrevivendo da (própria) música.

Um desses exemplos foi o cantor e compositor Isaac Cândido, que estreou no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) no último sábado, 27, o show autoral “Sobre as Asas”. O espetáculo — cujo nome faz referência a uma das composições de Isaac e Marcus Dias, seu maior parceiro — levou ao público músicas produzidas durante a pandemia.

A casa recebeu bom público para o show autoral, o que acendeu uma luz de ânimo. Afinal, há espaço de destaque para as composições autorais cearenses? “Estive cercado de uma galera que saiu muito motivada a querer escrever, estar no meio dessa cena. Gente que estava desmotivada, sem saber mais o que fazer, sem esperança, e que com o show ficou mais animada. Vamos dar as mãos, chegar junto. A nossa música é muito rica”, aponta Isaac em entrevista ao Vida&Arte.

O show de Isaac Cândido ocorreu em meio a um planejamento estratégico do cantor. Após passar anos focado na produção cultural, desejou retornar ao “mercado”, mas precisava encontrar uma forma de demarcar sua volta. A alternativa foi realizar o show “Isaac Cândido Canta Fagner”, em 2022, com os sucessos e as faixas lado B de Fagner.

Com isso, conseguiu chamar a atenção do público para suas próximas produções — como, por exemplo, a apresentação do CCBNB. “Foi uma estratégia minha, mas corri riscos o tempo todo. Poderia ser que nesse show autoral não houvesse ninguém. Eu não sabia se teria público ou não. Na hora que saí do camarim e vi que a casa estava cheia, foi tão bacana! Eu sorri. Acho que é um movimento coletivo. O povo cearense e a imprensa precisam abraçar um pouco mais”, relata.

Isaac acrescenta a necessidade de maior valorização dos cachês para artistas locais, incentivando, assim, projetos mais robustos, com melhores figurinos e cenários em shows. Ele também aponta a importância de “saber exportar” os nomes cearenses para outros estados, estimulando circulação para além do Ceará.

Nesse contexto, destaca o problema de o Estado só “absorver” a produção artística de fora. Assim, é necessário “chamar a atenção” de outras regiões para o que se produz em terras cearenses. “Vamos chamar a atenção deles lá fora, porque é uma forma de falar do Ceará. É bom para o turismo também”, analisa.

Além do olhar para sua produção autoral, Isaac Cândido visa estimular de outras maneiras o cenário da composição cearense. Um exemplo é o projeto Praia da Música Cearense, realizado pela primeira vez em março de 2023. A iniciativa promove apresentações musicais gratuitas de artistas do Ceará em cidades litorâneas do Estado.

Na época, ele sinalizou que o projeto surgiu para preencher “uma lacuna enorme” na programação musical de cidades que “não têm projetos” para estimular a música cearense. Quando há, são para comemorar o aniversário da cidade — ou um “Carnaval no qual as pessoas pegam ‘milhões’ de projetos e jogam tudo em dois ou três dias de evento”.

No início, o foco era a produção autoral dos artistas, mas Isaac percebeu que “não estava funcionando” porque “esvaziava” o local. “No projeto, fui cantar Fagner, porque se eu fosse cantar meu autoral não iria rolar. Acho que temos que incentivar de novo a classe. Está na hora de ter mais incentivos mesmo — um pouco de todos nós, seja da imprensa, do poder público ou com uma classe artística mais unida”, afirma.

Hoje, o cantor destaca outro sentimento sobre suas apresentações: “Perdi meu medo. Se houver dez pessoas ou cinco mil (na plateia), para mim está do mesmo jeito. Se eu tivesse tocado para metade do público (no CCBNB), eu estaria do mesmo jeito, porque foi um show pensado para dizer a quem estava ali que existe uma qualidade muito grande na nossa poesia. É um grito que estamos dando para dizer que existimos”, enfatiza.

Lucas Arruda é multi-instrumentista
Lucas Arruda é multi-instrumentista

Lucas Arruda

A nova geração da música do Ceará tem como um dos expoentes Lucas Arruda, como avalia Isaac Cândido. Ele “imprime uma estética singular abraçando diversos gêneros ao lado de artistas nacionais e internacionais”. Em 2018, teve a oportunidade de dividir palco com Toninho Horta no X Festival Choro e Jazz em Jericoacoara, um dos “pontos altos” da carreira do multi-instrumentista. Arruda toca guitarra, baixo elétrico e violão, além de cantar. Em uma das edições do projeto Praia da Música Cearense, relembrou grandes sucessos de Vander Lee.

Luciano Raulino é cantor, compositor e instrumentista
Luciano Raulino é cantor, compositor e instrumentista

Luciano Raulino

Um dos nomes contemporâneos da composição cearense destacados por Isaac Cândido é o cantor, compositor e instrumentista Luciano Raulino. Tem trajetória no grupo de cultura popular Carroça de Mamulengos. No campo da composição, venceu o Festival da Canção UP e foi finalista do Festival Toca, no qual concorreu com nomes como Zélia Duncan e Celmar. Foi finalista em 2021 do Festival da Canção de Fortaleza e teve composição campeã no Festival Arcos, em Minas Gerais.

Natural de Bela Cruz, o cearense Giuliano Eriston se sagrou campeão da 10ª edição do The Voice Brasil
Natural de Bela Cruz, o cearense Giuliano Eriston se sagrou campeão da 10ª edição do The Voice Brasil

Giuliano Eriston

Vencedor do The Voice Brasil 2021 o cantor, compositor e multi-instrumentista Giuliano Eriston é apontado por Isaac Cândido como um nome de referência atualmente na composição. No reality musical, foi elogiado pelo público e pelos jurados do programa por sua voz "sincera" e pela "paz" que trazia. Em 2022, lançou “Universo em Si”, seu disco de estreia. O trabalho reúne colaborações de Mariana Aydar, Carlos Malta e Kassin e reúne 14 músicas autorais que passeiam por inspirações em ritmos como forró e xote.

O que você achou desse conteúdo?