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O show de Madonna no RJ e o show do público em Copacabana
Vida & Arte

O show de Madonna no RJ e o show do público em Copacabana

Unindo públicos de diferentes idades e com sotaques diversos, show da Madonna no Rio de Janeiro foi marco como experiência coletiva de amor ao pop
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Madonna animou distintas gerações com músicas como
Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP Madonna animou distintas gerações com músicas como "Hung Up"

Batidos em sintonia, os leques montaram a trilha sonora para animar a espera pela chegada do grande momento. E, sim, eles também ajudaram na circulação do ar entre as mais de 1 milhão e 600 mil pessoas ansiosas nas areias de Copacabana.

Os objetos, itens obrigatórios em qualquer festinha do público LGBTQIA+, também ajudavam a plateia a pulsar em coletivo aquele sonho: viver e ver de perto a experiência Madonna no Rio.

Ao primeiro sinal de que ela subiria ao palco, os leques se calaram. Um silêncio curioso surgiu entre quem aguardava mais próximo às grades que antecediam a área VIP. Coletivamente todos seguravam o ar: é verdade, ela ia chegar.

Quando finalmente "Nothing Really Matters" soou, reparei no choro de Meire, uma pernambucana fã de Madonna "desde o comecinho dos anos 1990". Como eu, ela e sua trupe diretamente de Olinda também haviam chegado às areias no começo daquela tarde quente de sábado. Meire oscilou o show inteiro entre cantar, pular e chorar. Olhava ao redor como quem tem medo de ser acordada de um sonho bom.

Logo à minha frente, um grupo devidamente uniformizado veio diretamente de Curitiba. A diversidade etária dessa galera comovia. Não tinha linha dividindo os Gen Z dos 50 . Todo mundo com o mesmo look vermelho, gogó afiado e um copo de "caipirinha da Madonna".

Entre os curitibanos, Paulo, um sobralense infiltrado. Enquanto cantava "Holiday", ficou fácil perceber o sotaque cearense no inglês impecável de fã que conhece até a pausa pra respiração da sua ídola. "Tu é do Ceará, né?", perguntou meu amigo para Paulo antes de os dois se beijarem ao som de "Live to Tell". A cena romântica durou um tempinho e logo se desfez. Beijar na boca, sim. Perder tempo de tela da Madonna, jamais.

"90% não está entendendo o que ela está falando", provocou um carioca acompanhado da esposa logo atrás de mim. "99%", completou Meire, aquela de Pernambuco. Mesmo que o coro fosse na contramão da estatística sobre a barreira linguística, os trechos falados do show provocava reações ambíguas.

Durante os discursos da Maddona sobre aceitação, o público dispersava um pouco enquanto alguns tradutores espontâneos contavam para os amigos (e desconhecidos) o que estava rolando. Dependendo da temática, a linguagem universal despontava: "Ela está falando sacanagem", concluía um pai acompanhado da filha ali ao lado.

No quesito dramaturgia, Madonna acertou bastante com a aliança com Bob The Drag Queen. A multiartista faz o papel de mestre de cerimônia e dá o peso que cada ato do show. A drag traz ao palco as vozes que celebraram e criticaram a cantora ao longo de 40 anos de carreira.

Cada fala de Bob provocava euforia no grupo uniformizado de Curitiba. Algumas falas eram repetidas em coro. Não contentes em decorar as músicas, os fãs sabiam até os atos do show. Um banquete de emoções para quem estava ali há tantas horas esperando pelo espetáculo.

Entre os fãs que filmavam o show, um misto de alegria pelo registro com aquela tensão de ter o celular roubado. Na bolha dos fãs que estavam ali desde cedo, porém, o clima era de segurança. Nenhuma ocorrência quebrou o clima bom que estava ali.

Na entrada e saída da área do show, tudo correu bem nos percursos que fiz. Apesar dos vídeos de furtos divulgados pelas redes sociais, o clima geral era de muito cuidado. Dos funcionários do metrô aos bombeiros no meio da multidão, ficou evidente o investimento nos cuidados com o público.

Enquanto Madonna, Pabllo Vittar, Anitta e companhia se divertiam no palco, a plateia também dava seu show: pluma e salto alto com areia combina? Na cabeça dos fãs, sim. Perucas loiras, vestidos longos e óculos coloridos de um lado. Sungas e cangas do outro. Tudo cabia no dresscode.

Enquanto a rainha do pop se emocionava pelo carinho recebido, o público vivia cada segundo daquela experiência com sorrisos, choros, suor, euforia e tudo de mais humano que uma experiência genuína com a música pode oferecer. Madonna fez história e o público esteve junto. Protagonistas e coadjuvantes de um evento que já marcou a história da cultura no País.

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