Recriar um clássico é uma tarefa árdua quando o assunto é a sétima arte. Fazer isso pela terceira vez, após uma trilogia que conseguiu honrar e renovar o clássico em questão, é ainda mais difícil. E essa é a missão do Diretor Wes Ball ("Maze Runner - A Cura Mortal", de 2018) em “Planeta dos Macacos: O Reinado”.
Muitas gerações após o reinado do famoso líder símio César, os macacos são de fato a espécie dominante do planeta e é cada vez mais raro se encontrarem com humanos. Noa (Owen Teague), um jovem macaco que pertence a uma tribo isolada, é o rosto que nos guia agora e, após ter sua vila atacada por outros macacos e ver toda sua família raptada para um reino distante, Noa parte em uma aventura que o fará questionar tudo em que acreditava até então.
Logo de início, o novo longa da franquia subverte as expectativas e nos faz perceber que o confronto agora não será contra os humanos, o que é natural, já que a espécie agora é totalmente subjugada. Mas o que realmente choca é em “nome” de quem os vilões do filme estão agindo. A franquia “Planeta dos Macacos”, no geral, sempre fez muitas analogias religiosas, mas em seu longa anterior, “Planeta dos Macacos - A Guerra” (de 2017), essas similaridades ficam ainda mais evidentes, pintando César sendo visto cada vez mais como um messias.
O roteiro do novo longa não só leva isso em consideração, mas eleva a questão ao extremo ao mostrar que muitos macacos louvam César como uma espécie de Deus e distorcem suas palavras. O que é, de forma muito clara, um comparativo em como muitos religiosos distorcem as palavras das “escrituras sagradas” para que se moldem ao seu olhar.
Além disso, a escolha de trazer um novo líder símio tirânico como vilão é um grande acerto. Apesar do pouco tempo de tela, Proximus Caesar (Kevin Durand) é o suprassumo da arrogância e intolerância, sendo assim um ótimo reflexo do que o filme busca criticar. A começar por seu nome, que é uma clara referência ao ex-líder dos macacos que tem seu nome e grandeza cravados na história daqueles seres.
Mas, apesar de tudo isso, o longa não esquece que, de uma forma ou de outra, a relação entre os macacos e os humanos é um dos pilares desta franquia e consegue inseri-los de forma natural e convincente dentro da trama com a personagem Mae (Freya Allan). Aqui o roteiro consegue construir de forma muito natural toda a relação, não só de Mae, mas dos humanos com os macacos no geral. A desconfiança e até a arrogância da personagem em alguns momentos se mesclam com o sentimento de empatia e respeito perante Noa, traçando uma relação ambígua, mas muito palpável do início ao fim da trama.
Mas podemos falar de “Planeta dos Macacos” sem citar a potência de seus efeitos visuais como um todo. Desde seu primeiro lançamento em 1968, o longa surpreende com o quão realistas são seus personagens e com a grandiosidade de seus cenários, e em “Planeta dos Macacos - O Reino” isso não é nem um pouco diferente. Utilizando da captura de movimento dos atores que impactam os personagens símios, o longa beira a perfeição. Desde as expressões faciais ao menor detalhe do pelo de seus corpos, com movimentos fluidos e muito naturais, que, por incrível que pareça, consegue superar seu antecessor que concorreu como favorito ao Oscar na categoria de efeitos visuais em 2017.
E apesar do espetáculo visual que Wes Ball e a 20th Century Studio nos apresentam, o roteiro é o grande protagonista do filme. Trazendo analogias profundas e superando o enorme desafio que seria seguir a franquia sem seu protagonista anterior, “Planeta dos Macacos - O Reino” não só honra seus antecessores como inova e ainda encontra espaço dentro disso tudo para homenagear de forma muito natural toda a história que o deu origem de forma grandiosa.
Planeta dos Macacos: o Reinado