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A jornada faraônica de 'Megalopolis', nova obra de Francis Ford Coppola
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A jornada faraônica de 'Megalopolis', nova obra de Francis Ford Coppola

Obra megalomâniaca do diretor de "O Poderoso Chefão" e "Apocalypse Now" passou por diversos percalços até uma tentativa de chegar a sua apoteose
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Foto: American Zoetrope/Divulgação "Megalopolis" do diretor cinco vezes vencedor do Oscar, Francis Ford Coppola

Francis Ford Coppola, 85, é um dos maiores cineastas da história do cinema. O diretor está imortalizado com clássicos atemporais e consagrados como "Drácula de Bram Stoker (1992)", "A Conversação (1974)", "Apocalypse Now (1979)" e a trilogia "O Poderoso Chefão". Estas obras, principal os filmes sobre máfia e a Guerra do Vietnã, possuem algo em comum, foram produzidos em meio a um verdadeiro caos.

Briga do diretor por controle criativo contra o estúdio, venda de imóvel para custear a produção, mudanças recorrentes no roteiro e uma desorganização misturada com loucura e drogas, no caso de Apocalypse Now. Com a fórmula perfeita para o fracasso retumbante, Coppola mostrou ser único e conseguiu colocar suas ideias nos filmes e criar obras espetaculares.

Com "Megalopolis (2024)" não foi diferente, mas em níveis ainda mais megalomaníacos. A produção está na mente do diretor desde os anos 1980, mas foi por diversas vezes colocada de lado. A ideia de uma Nova Iorque futurista e inspirada no Império Romano, algo do fascínio de Coppola, é por si só desafiadora.

Embora faça claras referências, como vistas épico e empolgante trailer a Roma Antiga, Megalópolis é o nome de uma cidade grega da região de Arcádia. A ideia surgiu na brilhante, criativa e conturbada cabeça do diretor enquanto ele fazia o caótico "Apocalypse Now" e era descrito como o roteiro dos seus sonhos e talvez obra definitiva.

Francis encontrou ainda mais dificuldade quando nenhum estúdio quis bancar o filme, mesmo sendo produzido por um diretor cinco vezes ganhador do Oscar e de grande renome. A ideia arriscada fez com que o próprio Coppola investisse US$ 120 milhões, mais de R$ 600 milhões, do seu próprio bolso. O cineasta chegou a inclusive vencer a principal instalação de sua vinícola para bancar os custos. 

Após muitos anos e incertezas o filme está sendo exibido em festivais, mas ainda sem data para ser lançado nos Estados Unidos, sem qualquer grande estúdio decidir fazer a distribuição.

As dificuldades aumentaram quando, prestes ser exibido em Cannes, diversas polêmicas começaram a vir a tona. Já era sabido o tal caos recorrente em produções de Coppola com mudanças de roteiro, se fala em 300 ao longo dos mais de 40 anos, demissões da equipe de efeitos visuais e mais, mas recentemente ganharam tom mais grave.

Membros da equipe de filmagens da produção conturbada Megalopolis revelaram que o comportamento de Francis nos bastidores foi inadequado, principalmente com as mulheres. O diretor supostamente as puxava para sentarem em seu colo e tentava beijá-las, de acordo com relatos anônimos feitos ao The Guardian.

Ainda em relatos, Coppola ficava horas em seu trailer, local escolhido para ficar pois nenhum hotel o agradou, isolado sem conversar com a equipe sobre os planos de gravação, inclusive, fumando maconha, fazendo com que horas fossem desperdiçadas sem que as gravações, que chegavam a durar 12 horas prosseguissem e o elenco ficasse esperando.

"Parece doido dizer isso, mas houve vezes em que todos nós pensamos: 'Esse cara já fez um filme antes?'", disse um membro da equipe.

Neste período, Coppola ainda acompanhou a sua esposa Eleanor, que estava doente durante as gravações e veio a falecer em abril de 2024.

Sim, parece bastante fora da realidade, mas talvez nem tanto. Como falado, Francis Ford Coppola é um gênio incontestável no cinema, mas os sets de seus clássicos surgiram a partir de bastidores conturbados. Não que seja a fórmula do sucesso, longe disso, trata-se de uma realidade de alguém tão complicado como o diretor.

Coppola por vezes se colocando como um Ozymandias moderno, podendo ser descrito como arrogante e a permanência de sua arte, bem como a relação entre o próprio diretor com as suas obras, muitas delas megalomâniacas até chegar em uma verdadeira apoteoso.

Agora, se essa mistura complexa de caos e grandiosidade em mais uma obra faraônica, desta vez em seu máximo limite ao que parece, resultará em mais um filme clássico, consagrado e que faz jus ao nome de um dos maiores diretores, só o tempo dirá pela percepção da crítica e público. Este último, talvez demore um pouco mais para ter acesso.

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