Retratar a vida de um artista vivo ou morto é sempre algo muito delicado, principalmente quando esse artista foi alguém que teve sua vida profissional e privada tão exposta na mídia internacional. E com Amy Winehouse isso não seria diferente. Em "Back to Black", a diretora Sam Taylor-Johnson (“O Garoto de Liverpool”, de 2009) traz um pequeno recorte da vida da jovem artista britânica com carreira meteórica, desde sua ascensão nos pubs ingleses até a sua trágica morte.
O longa foca quase cem por cento na visão de Amy sobre os fatos que assolaram sua conturbada carreira. E faz questão, quase que de imediato, em apontar não apenas sua personalidade forte e decidida, mas também alguns dos problemas que a rodeiam. Desde sua relação ambígua com a família, até os relacionamentos que não deram certo para a cantora.
Algo que definitivamente não é um problema, já que mostra o lado humano da superestrela do Jazz, humanizando-a de forma muito justa. O problema é que o roteiro não tem essa mesma coragem quando o assunto é o patriarca Mitch Winehouse (Eddie Marsan).
Quando se decide fazer um filme sobre uma artista tão grande quanto Amy, que tem diversas matérias, vídeos e até um documentário vencedor do Oscar ("Amy", de 2015), fica muito complicado ocultar certos fatos sem que isso pareça desrespeitoso com a artista. O roteiro de Matt Greenhalgh pinta o pai da cantora, no máximo, como alguém distante, mas que se importa bastante com a cantora.
Ocultando fatos muito importantes sobre a relação abusiva de ambos, a exemplo do fato de que o pai tirou a filha da reabilitação ou até mesmo assinou contratos de shows mesmo com Amy sem qualquer condição de se apresentar neles. Esses fatos ocultos atrapalham o desenvolvimento do longa tecnicamente? Não. No entanto, se o espectador conhecer minimamente a história da cantora, isso pode atrapalhar, e muito, a experiência ao assistir ao longa.
O mesmo se aplica à relação entre Amy e seu namorado/marido Blake Fielder (Jack O'Connell). Apesar do roteiro não aliviar tanto para Blake como alivia para o pai da compositora, acaba, de certa forma, colocando ele mais como vítima de um relacionamento abusivo do que como diretamente culpado.
Mas felizmente não são apenas erros que constroem "Back to Black". Um dos pontos de destaque do filme, sem dúvida, é a atuação de Marisa Abela, que em diversas cenas do longa canta e traz uma atuação bastante fiel à cantora.
O filme também se utiliza de músicas importantes da carreira de Amy para tentar contextualizar sua linha temporal, e apesar de se exceder um pouco, traz ótimos acertos como na interpretação de "Back to Black", música que dá nome ao filme. Contextualizando sua criação ao mesmo tempo que faz ótima referência ao clipe, só que mostrando a história real por trás dele.
Outro ponto interessante acertado aqui é a relação de Amy com sua querida avó Cynthia Winehouse (Lesley Manville), que deu inspiração ao seu visual pin-up. Nan, como Amy chamava carinhosamente sua avó, tem uma participação muito tocante durante o longa, apesar de seu pouco tempo de tela.
Apesar dos erros, "Back to Black" tenta honrar o legado de Amy Winehouse, mas acaba por culpabilizá-la por muitos de seus problemas enquanto isenta outros ao seu redor. Extremamente melodramático como as canções que o guiam, o longa passa longe de ser ruim, mas falha ao honrar a história de alguém que deixou sua marca na música para sempre.
"Back to black"