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De Barbalha para o mundo: a arte de Luana Colares, a palhaça Frozinha
Vida & Arte

De Barbalha para o mundo: a arte de Luana Colares, a palhaça Frozinha

Luana Colares leva espetáculos e oficinas para crianças nas comunidades de Barbalha e pelas ruas de Fortaleza 
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Luana Colares realiza espetáculos e oficinas para crianças como Palhaça Frozinha (Foto: Pamela Queiroz/Divulgação)
Foto: Pamela Queiroz/Divulgação Luana Colares realiza espetáculos e oficinas para crianças como Palhaça Frozinha

"Arte para todos" é o lema que a artista Luana Colares leva para as comunidades periféricas da região de Barbalha. A partir do conhecimento que obteve sobre arte circense, atuação, cultura brincante e pedagogia, a cearense desenvolveu um projeto voltado à introdução artístico-cultural para crianças.

Atualmente em temporada em Fortaleza, a brincante realiza atividades artísticas nas ruas da Cidade e em eventos gratuitos. O objetivo é difundir a ideia de democratização do acesso à arte e da representatividade feminina artística de maneira coletiva.

A iniciativa Circo de Quintal, criada por Luana, surgiu diante da necessidade da presença de atividades relacionadas à arte e à cultura no bairro em que ela vive, na região Metropolitana do Cariri.

“A minha avó e minha mãe sempre me ensinaram sobre os saberes brincantes e brincar de uma forma orgânica e acessível. Eu levei esses saberes e fiz uma oficina de brinquedos para o Circo de Quintal e desenvolvi na minha comunidade, pois vi a necessidade de resgatar a infância das crianças daquela rua. Fui uma das primeiras pessoas a levar isso para a comunidade”, relembra

O início da carreira artística da Luana começou a ser lapidada a partir dos 12 anos, quando ingressou no Grupo Mateo de Teatro, coletivo no qual aprofundou seus conhecimentos na cultura de Barbalha.

Depois, com os aprendizados, criou o Circo de Quintal e o trabalho feito no projeto a levou desenvolver a Palhaça Frozinha, personagem que explora as habilidades circenses da artista com as crianças.

“Há quatro anos, eu fui também desenvolvendo para palhaçaria, além disso, aprendi algumas técnicas em alguns cursos e oficinas que eram proporcionadas lá na minha cidade ou aqui em Fortaleza. Aí eu fui me aprimorando, estudando e pesquisando sobre várias figuras da cultura popular, como a atividade dos caretas”, comenta.

Luana complementa e destaca o objetivo que pretende abordar com sua arte. “A minha trajetória é de arte de rua, fazer ronda na rua e democratizar arte. Quero, através da arte e da cultura, proporcionar uma infância alegre às crianças e principalmente para as pessoas em situação de rua, pra que elas possam também ter acesso à cultura”, continua.

Os reflexos das práticas criadas na infância a fizeram desenvolver a ideia de compartilhar com o próximo. “E no meio disso tudo, eu desenvolvo as oficinas na arte-educação, porque eu já fui professora e aí nas minhas aulas eu trabalhava a partir disso com a palhaçaria e alfabetização, oficinas de leitura, tudo através da brincadeira da palhaça”, finaliza a barbalhense.

A manifestação cultural dos caretas, que também é trabalhada pela artista, é um símbolo de resistência "contra a opressão europeia em uma sociedade escravocrata", detalha. A tradição artesanal se mantém presente atualmente, especialmente em Barbalha.

Integrante do Grupo Mateo há mais de 10 anos, a artista reflete sobre a maioria masculina no meio brincante e pontua que essa constatação a levou a pensar nas problemáticas decorrentes da limitação desse espaço.

“Houve essa necessidade na minha trajetória de pensar na representatividade feminina e me deu uma vontade de ir mais a fundo para saber as raízes dessa problemática, como que revoluciona isso ou que faz chegar alguma mensagem na sociedade?”, explica a brincante.

Luana continua discorrendo sobre a tradição que pratica. “Aí, a partir disso, eu fui me vestindo de careta e confeccionando as minhas próprias máscaras de costura com uma técnica que aprendi com a minha avó. Aí eu saio na rua fazendo colagem nas paredes, com colagem negra, a partir de livros que vejo nos nichos e pego as figuras que eu acho interessante representar a atividade negra”, finaliza.

A idealizadora do Circo de Quintal mantém atualmente o projeto que iniciou no quintal da casa da família. Além da apresentação como palhaça Frorzinha, também realiza peças, leituras de livros para crianças e rodas de conversas com mulheres.

A iniciativa já passou por diversos bairros de Barbalha e é mantida pela idealizadora com o trabalho coletivo dos vizinhos e família. Atualmente, Luana está em Fortaleza para buscar novos trabalhos ou apoio para ampliar o seu projeto.

“O fato de eu ir para um sinal (de trânsito) já é uma democratização da arte, usar o tempo do sinal como uma educação está reeducando os motoristas. Estou aqui, eu sou um artista para me ouvir, né? Eu faço parte disso, do repente, do pandeiro, de um pifa, dos malabares, de uma fala politicamente. Eu mostro também a realidade, isso é uma democratização política”, comenta.

Para o futuro do cenário artístico cearense, a atriz destaca que a burocracia para realizar eventos com editais é um ponto que dificulta a chegada dos artistas para os espaços culturais da Cidade. Ela defende que a união entre os coletivos independentes pode ser a situação que irá ajudar a cena cultural do Estado.

“Eu acho que o futuro é coletivo, eu acredito que a junção de mulheres e dos grupos independentes possam fazer a diferença a partir desse intercâmbio. Como eu já estou fazendo aqui, em Fortaleza, conhecendo novas pessoas e fazendo acontecer independentemente de apoio algum", completa.

Circo de Quintal

Mais Informações:
@palhacafrozinha

Grupo Mateu de Teatro

Mais Informações: @osmateu

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