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Palhaço Abu une denúncia social e humor no grupo "O Cheiro do Queijo"
Vida & Arte

Palhaço Abu une denúncia social e humor no grupo "O Cheiro do Queijo"

Idealizador do grupo cênico-musical "O Cheiro do Queijo", Igor Cândido mostra que a palhaçaria tem tudo a ver com a sonoridade das ruas no Ceará
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Cheiro do Queijo: Palhaço Abu e Bitobeat na capa do disco
Foto: Lissa Cavalcante/Divulgação Cheiro do Queijo: Palhaço Abu e Bitobeat na capa do disco "Sound Circo"

Há sete anos, era comum encontrar um rapaz nas paradas de ônibus do bairro Benfica, em Fortaleza, carregando caixa de som, microfone e uma pilha de CDs intitulados “O Cheiro do Queijo”, vendidos a R$ 5. Apresentando-se como Abu da Pereba, o Palhaço Abu, esse era Igor Cândido, artista natural de Maracanaú. À época, ele – que já trabalhava com palhaçaria – recitava poesias escritas no transporte público, entre uma viagem e outra, quando saía de sua cidade para trabalhar na Capital. As letras traziam as vivências dele, além da denúncia de mazelas locais, com um humor ácido.

“'O cheiro do queijo' é uma expressão para quando você pega alguém de surpresa, como o rato é surpreendido pela ratoeira ao ser seduzido pelo queijo. Já a gente usa o palhaço como recurso para falar o que queremos falar. Quando a pessoa nos ouve, ela descobre que não é só brincadeira: tem um discurso que põe o dedo na ferida dos nossos problemas sociais”, explica o artista.

De lá para cá, a proposta cresceu e hoje “O Cheiro do Queijo” é um grupo cênico-musical formado por Abu, Bitobeat, Morcego e Iky Lourenço. Na próxima quinta-feira, 30, o quarteto vai lançar no YouTube o clipe da música “Paridos pelo Kaos”, com participação do Sertão Rap e produção audiovisual totalmente independente. A canção é parte do segundo álbum deles, “Sound Circo”, lançado nas plataformas digitais em março deste ano.

O disco é resultado da atuação no Laboratório de Música da Escola Porto Iracema das Artes, equipamento cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). A obra contou com a tutoria de Russo Passapusso, líder da banda Baiana System. O trabalho tem ainda produção de Bitobeat, Morcego, Batuta e glhrmee e participações de Carú Lina e Mumutante.

Já o primeiro álbum, aquele vendido nas paradas de ônibus, foi gravado na casa do artista Batuta, no Pirambu. Em 2019, o disco também foi lançado nas plataformas digitais e isso fez com que o alcance das músicas triplicasse, segundo Igor.

Aos 29 anos, Abu ressalta a importância da abordagem utilizada no projeto. O artista mergulhou na comicidade e na simplicidade e, com isso, foi conquistando público. “A gente tinha que chegar nas pessoas e o palhaço foi ajudando nesse sentido. Diante de coisas como: poucas perspectivas de trabalho para os jovens; você andar de bike na rua e passar por diversas fábricas, respirando veneno; ter um território indígena totalmente isolado, sem uma relação mais direta onde a gente consiga aprender, vivendo como se tivesse um muro; eu pensava ‘como é que abordo tudo isso sem que seja uma questão chata?’. Quando tocamos em temas mais complexos, mas de uma forma um pouco mais leve, as pessoas se abriram pra ouvir”, conta.

Sobre o principal objetivo com “O Cheiro do Queijo”, ele compartilha: “Eu foco muito no povo da minha cidade, as pessoas comuns, a galera trabalhadora, a galera mais jovem de periferia. O meu diálogo é para quem teve essa vivência também, quem teve que batalhar desde cedo”, avalia. “Eu sempre almejei ser um artista popular, no sentido de chegar em todas as idades, das crianças aos mais velhos, quero que gostem e se divirtam com o projeto”, pontua.

Para Igor, atualmente, um dos maiores desafios é a escassez de espaços e produtoras para fortalecer a divulgação dos trabalhos. “São poucos os locais aqui que recebem esse tipo de pesquisa em música mais alternativa”, lamenta. “Quais são as produtoras que existem dentro do Estado para que possam permitir que esses artistas não precisem fazer 30 mil funções? Então, existe esse desafio na esfera de produção e de equipamentos do estado, e também equipamentos privados, que permitam esses trabalhos circularem mais”, completa.

Abu conta que quer organizar uma equipe de produção e expandir “O Cheiro do Queijo" para todo o País, com o intuito de fortalecer as referências locais ao dar visibilidade a elas. Ele acredita que transformar o projeto em uma fonte de renda é o caminho para não abrir mão do próprio sonho e incentivar outros artistas a seguirem os mesmos passos. “A gente tem investido muito mais do que recebido por ele. Mas queremos provar que é possível virar esse jogo e estar nos grandes circuitos de festivais, mostrar que no Ceará existe esse tipo de música. Vamos levar o nome das nossas referências locais para fora do Estado e trazer o holofote para essa galera que tá na caminhada há muito mais tempo também”, finaliza.

Paridos pelo Kaos

  • Quando: quinta, 30, às 12 horas
  • Onde: youtube.com/@ocheirodoqueijo
  • Disco está disponível nos serviços de streaming a exemplo do Spotify 

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