Logo O POVO+
Com debate sobre sexualidade, "A Filha do Palhaço" estreia nos cinemas
Vida & Arte

Com debate sobre sexualidade, "A Filha do Palhaço" estreia nos cinemas

Sucesso em festivais nacionais e do Estado, "A Filha do Palhaço" estreia em maio nos cinemas do Brasil, meses após a morte de Paulo Diógenes
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Demick Lopes interpreta Renato em
Foto: David Felicio Araujo/Divulgação Demick Lopes interpreta Renato em "A Filha do Palhaço", personagem inspirado em Paulo Diógenes

A valorização do trabalho de um artista é a reverberação de sua arte. Essa é a reflexão que os bastidores da obra "A Filha do Palhaço", de Pedro Diógenes, trazem ao rememorar Paulo Diógenes, que deu vida à célebre Raimundinha e faleceu em fevereiro de 2024.

No entanto, o humorista não foi apagado de nossas memórias. No longa-metragem, que conquistou inúmeros prêmios desde sua estreia no Cine Ceará em 2022, Paulo segue vivo no personagem Renato. O personagem, assim como sua inspiração, é complexo e vive dilemas reais sobre a paternidade e sexualidade.

A trama de "A Filha do Palhaço" conta a história por meio de Joana (Lis Sutter), uma adolescente de 14 anos, que busca o pai Renato (Demick Lopes) para passar uma semana em sua companhia. No entanto, a situação é delicada porque pai e filha não se viam desde a infância da jovem e ela desconhece que ele trabalha como humorista, interpretando a personagem Silvanelly em churrascarias, bares e casas noturnas de Fortaleza.

Demick Lopes, que dá vida ao personagem Renato, destaca que a construção do personagem levou em consideração sua própria vivência de paternidade e seu sofrimento de saudade dos filhos. Além disso, o ator pesquisou sobre o humorista que foi inspiração para o roteiro.

"Quando o Pedrinho me mostrou esse roteiro, eu vi o quão seria desafiador e comecei a pesquisar tudo sobre Paulo Diógenes nas redes sociais que eu consegui encontrar. Ficou muito claro para mim quando eu vi que ele falava que eram duas pessoas: a Raimundinha e o Paulo Diógenes, ele falava sempre na terceira pessoa dos dois, isso é muito doido", afirma.

O ator complementa: "Eu vi o tamanho do desafio e entendi que não seria fácil, que teria que construir duas pessoas de fato, e atrelando a isso com esse desafio dessa coisa da paternidade".

Demick também trouxe a sua interpretação memórias da Terra do Humor, época em que Fortaleza possuía "um show de humor" a cada esquina, como o próprio ator menciona. Segundo ele, as cenas do seu personagem se montando e desmontando com figurinos e equipamentos foram inspirados nas décadas de 1980 e 1990.

Demick Lopes interpreta Renato em "A Filha do Palhaço", personagem inspirado em Paulo Diógenes   (Foto: David Felicio Araujo/Divulgação)
Foto: David Felicio Araujo/Divulgação Demick Lopes interpreta Renato em "A Filha do Palhaço", personagem inspirado em Paulo Diógenes

Lis Sutter, que estreou nos cinemas protagonizando o filme com Demick, elogia a produção do longa-metragem e afirma que "tudo foi feito com muita dedicação e muito amor". Para ela, a sua personagem aborda uma temática importante: "Traz uma mensagem bonita sobre muitas vezes o peso da criação cair para cima da mãe e às vezes, para o homem, é fácil abandonar a criança, sendo que não é assim, é uma vida. O filme fala dessa questão de como a Joana se sentiu abandonada".

A história se desenvolve com conflitos que envolvem também a relação da sexualidade do personagem Renato, que, em boa parte do filme, camufla a si para se apresentar a sua filha. Além disso, o pai, que sente orgulho do seu trabalho, tem medo de como Joana lidará com ele, na prática.

"A Filha do Palhaço" foi vencedor de Melhor Filme pelo júri popular na Mostra Tiradentes de 2023 e na Mostra de Gostoso de 2022 por júri da crítica e júri popular. Citar as conquistas em festivais é importante porque esse é o caminho para que, segundo o diretor Pedro Diógenes, os filmes possam circular.

O cineasta destaca: "Dentro da realidade do cinema brasileiro, que é produzido muitos filmes e poucos conseguem chegar numa sala de cinema, muitos filmes conseguem suas estreias, suas primeiras sessões no circuito de festivais. E também é uma possibilidade do filme circular de uma maneira que não tem custo muito grande, que é diferente de quando o filme chega nas salas de cinema, que aí tem que ter um investimento maior de marketing, de divulgação, lançar no cinema tem um custo".

Pedro Diógenes conta, com muita felicidade, que "A Filha do Palhaço" é seu nono filme longa-metragem e essa é uma conquista potencializada pelos festivais de cinema que distribuíram seu trabalho e permitiram que um grande público pudesse acessar sua arte.

Lis Sutter contracena com Demick Lopes em "A Filha do Palhaço"(Foto: David Felicio Araujo/Divulgação)
Foto: David Felicio Araujo/Divulgação Lis Sutter contracena com Demick Lopes em "A Filha do Palhaço"

"Eu acho que ele pode agora chegar nas salas de cinema do Brasil, para um público diferente desse dos circuitos de festivais, é um momento muito especial. Quando a gente faz filme, tudo que a gente quer é que os filmes sejam vistos e que eles sejam vistos numa sala de cinema, porque é isso que a gente faz, é cinema", diz.

O cineasta, que também realizou os filmes "Inferninho", "Estrada para Ythaca", "Monstros", "Pajeú" e outras produções referências no cinema cearense, brinca que é necessário contemplar o audiovisual "da terra" primeiramente porque "difícil para caralho fazer cinema".

No caso específico de "A Filha do Palhaço", foram 10 anos para que o longa-metragem ficasse pronto e envolveu uma equipe de muitas pessoas para sua realização, com o empecilho da pandemia de Covid-19 neste período. "É muito difícil fazer cinema, mas é maravilhoso porque é a minha paixão. Então saber que o filme está sendo visto e que agora vai poder ser visto na sala de cinema, é muito especial".

Ele conclui: "É muito importante a gente se ver na tela, ver filmes que falam da gente, da nossa cidade, do nosso espaço; filmes que tem o nosso sotaque, nossas questões. Eu acho que é uma maneira da gente estar olhando para nós mesmos e poder estar refletindo, pensando, um olhar crítico sobre isso tudo".

A Filha do Palhaço

 

O que você achou desse conteúdo?