Quem deseja conhecer Minas Gerais pode iniciar o trajeto na Praça da Liberdade, considerada o "coração" de Belo Horizonte. Erguido no final do século XIX, o local de mais de 35 mil m² é adornado por palmeiras-imperiais e estátuas em mármore. A paisagem foi escolhida para iniciar o percurso da Rota das Artes, roteiro apresentado no mês de abril pelo Governo de Minas em parceria com a Secretaria do Estado de Cultura e Turismo.
Os jardins e coretos abrem trajeto que abrange 16 experiências em oito cidades: além de BH, também tem São Joaquim de Bicas, Igarapé, Brumadinho, Congonhas, Ouro Branco, Ouro Preto e Mariana. O novo itinerário busca potencializar o fluxo turístico do Estado, que aumentou cerca de 7,6% em um ano - o maior crescimento do setor no Brasil dentro deste período -, por meio da arte. Para além das já tradicionais rotas que imergem na gastronomia e na história, a proposta foca na cultura como agente de desenvolvimento econômico.
Faz sentido, então, que o começo seja na Praça. Ela integra o Circuito Liberdade, o maior complexo cultural integrado do País, com 32 equipamentos públicos e privados. Inicialmente idealizada como sede do governo administrativo durante a década de 1990, a área começou a receber encontros artísticos em 2010 e, por volta de 2020, foi expandida para agregar instituições culturais do Estado. Desde este ponto, é possível situar cerca de 16 organizações diferentes nos arredores, a exemplo do Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural Minas Tenis Clube e BDMG Cultural.
"Belo Horizonte é uma cidade republicana, que foi construída como um avanço a tudo que representava Minas Gerais na visão de uma colônia. (Ela) já nasce moderna. Em 2010, cria-se o Circuito Liberdade com o objetivo de promover cultura, responsável pelo impulso de turismo de Minas Gerais. Essa iniciativa foi um passo muito ousado e inovador que acontece através de parcerias e congrega 32 espaços, entre públicos e privados. A meta é chegar em 100 espaços", desenvolve Natalie Oliffson, gestora do Circuito Liberdade.
A partir deste eixo, é possível ver os diferentes estilos que contornam os edifícios ao redor - os prédios têm arquiteturas que transitam entre o barroco, modernista e contemporâneo. Entre eles, destaque para o edifício Niemeyer, uma das obras mais famosas do arquiteto carioca falecido em 2012. Desde este primeiro momento, o visitante percebe a dimensão múltipla do programa turístico que pretende entrelaçar atividades que transitam entre arte, natureza e história.
O caminho segue para o MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, museu de ciência e tecnologia que apresenta a história da mineração e da metalurgia. Localizado no Prédio Rosa, o equipamento reúne 44 exposições ao longo de 20 áreas expositivas. O visitante, logo ao adentrar o recinto, é recebido com uma gama de materiais que apresentam uma diferente perspectiva das narrativas nas quais o território brasileiro foi constituído. As salas exibem componentes de todas as províncias geológicas e de oriundos de todos os solos do País.
Poucos metros separam o local do Palácio da Liberdade, cartão-postal e símbolo de Belo Horizonte. Inaugurada em 1898, a edificação mostra como a cidade foi planejada como "escultura viva". Entre os jardins Paul Villon e lustres de Cristal, palavras gravadas no teto representam a ideologia do Estado: ordem, progresso, liberdade e fraternidade.
Para além da capital
O próximo destino, guiado por meio da agência HT Happy Travel, está situado a cerca de 78 km de Belo Horizonte, no município de Congonhas. Por lá, o primeiro anfitrião é Luciomar de Jesus, escultor com pesquisa e obra baseada na história de Aleijadinho (1738 - 1814). Ele abre as portas do ateliê para a experiência Modos Operantes de Aleijadinho, vivência com cerca de uma hora de duração que integra o saber e o sensorial. Entre conversas com os presentes, o artista prepara esculturas de barro ao vivo e compartilha detalhes das técnicas.
"Fui desenvolvendo interesse pelo Aleijadinho após ver a obra dele. Depois conheci Michelangelo, (Auguste) Rodin, mas o Aleijadinho está em outro patamar", opina Luciomar. Após o momento, ele acompanhou uma visita até o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como Patrimônio Cultural pela Unesco. O conjunto edificado consiste em uma igreja com interior em estilo rococó, que comporta escadaria decorada com estátuas dos 12 profetas.
No segundo dia, a rota inicia com uma tour por Ouro Preto, uma visão histórica no marco zero do Estado. A primeira visitação acontece na Capela São João Batista, o templo mais antigo da Cidade com vista do Pico Itacolomi. Outras paradas envolvem a Igreja Nossa Senhora dos Rosários, feita e frequentada por escravos durante metade do século XVIII. Outro ponto é a Igreja Nossa Senhora do Pilar, a "igreja mais rica do Brasil" quando se fala de ouro e em funcionamento desde o mesmo período.
Depois da saída de Ouro Preto, o roteiro segue para Mariana, mais especificamente para o ateliê do escultor Edney do Carmo, que apresenta um trabalho de releitura do barroco mineiro. Ele apresenta os produtos, feitos com madeira, trabalhado com técnicas tradicionais. "Esses trabalho que eu faço são de resgate do que tem dentro de uma igreja do barroco mineiro", detalha Edney.
O dia encerra em Brumadinho, no Ateliê Eny Amorim, um espaço aconchegante que recebe aqueles que têm interesse pela área da cerâmica e estão dispostos a colocar a mão no barro para modelar a própria peça sob orientação da artista. Uma das últimas paradas dedicadas ao âmbito artístico acontece na visita ao Instituto Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latina. Em meio ao acervo expressivo, destaque para as Galerias Cláudia Andoja e Galeria Miguel Branco, além das obras de Yayoi Kusama - compilado de elementos psicodélicos e coloridos que são amplamente fotografados para as redes sociais.
*Repórter viajou a convite do Governo de Minas
Rota das Artes
Ao todo, são 16 experiências divididas nas seguintes cidades:
Circuito Liberdade (Palácio da Liberdade e MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal)
4 Estações com o Chef
Da Cozinha ao Quintal da Mestra
Arte em Madeira
Inhotim
Arte, Cerâmica e Brunch no Ateliê
Arte em Cerâmica no Mirante
Brunch na Vila Lavanda
Coração em Branco
Alquimia dos Quintais
Santuário do Bom Jesus do Matosinhos e Museu de Congonhas
Cerâmica Saramenha
Restaurante Sebastião
Ateliê Edney do Carmo
Terra da gastronomia
Ao falar de Minas, é claro que não pode faltar pontos de destaque para a gastronomia. O contemporâneo do restaurante Pacato, do chef Caio Soter, faz com que os sabores típicos do Estado recebam um toque de modernidade. Já o Sebastião, situado em Ouro Preto, oferece uma experiência única no desenrolar da gastronomia. Numa casa do século XVIII, a chef Milsane Sebastião apresenta a história de cada prato preparado por uma cozinha comandada por mulheres. Tem feijão tropeiro com couve, modo com o qual a comida era carregada nas expedições; farofa de milho com linguiça, ingredientes chaves para a culinária; além de sorvete de leite com calda de laranja, combinação inusitada que valoriza insumos produzidos por locais.
Em Brumadinho, a surpresa fica por conta da alquimia dos drinks preparada pela mixóloga Marcela Azevedo. A base da gastronomia molecular permite que a profissional utilize a mixologia para apresentar sabores de maneiras até então inusitadas. No cardápio, que recebe entre quatro e dez pessoas mediante reservas, destaque para o Macarrão de Cenoura preparado com cachaça de aniz. Para os que preferem se manter no tradicional, também tem uma versão sólida da caipirinha.
Ainda nas bebidas, a cidade também apresenta uma experiência cervejeira na cultura cervejeira por meio da Bebrum Cervejaria, comandada por Bruno Martinelli. O estabelecimento abre os segredos da produção dos mais de 15 tipos de cerveja disponíveis. Por fim, é indispensável a passagem pelo quitanda da Mestra Lilia da Quarta, uma verdadeira experiência na culinária mineira. Após almoço preparado com carne de lata, frango caipira e doces caseiros, ela ensina a receita do famoso biscoito de polvilho.
Para conhecer
*Mais informações sobre a Rota das Artes podem ser consultadas nos perfis @visiteminasgerais, @culturaeturismomg e @governomg