O Theatro José de Alencar (TJA), situado no Centro de Fortaleza, é privilegiado com a existência de um conjunto de jardins desenhados por Roberto Burle Marx (1909-1994), paisagista brasileiro reconhecido mundialmente. O equipamento lança estudo que avalia e identifica as espécies vegetais do espaço, realizado a partir do projeto "Portas Abertas - Experiências e Aprendizagem Cultural".
Intitulado "Diagnóstico dos Jardins de Burle Marx no Theatro José de Alencar", o documento de 111 páginas avalia e identifica as espécies vegetais que compõem a área verde, assim como as ações necessárias para o manejo adequado dos jardins históricos. O levantamento foi contemplado com o 2º lugar na primeira edição do Prêmio Abap Roberto Burle Marx, evento realizado no dia 27 de maio em Curitiba.
A arquiteta e urbanista Fernanda Rocha considera a premiação relevante para o reconhecimento nacional da composição arquitetônica e vegetal. Situados na lateral leste do teatro, os jardins têm quase 60 anos e refletem a importância da preservação de áreas verdes em espaços públicos. Após décadas, eles ainda mantêm a exuberância de parte da vegetação inaugurada em 1975.
O projeto inicialmente implantado por Burle Marx era um tipo de "jardim contemplativo", com espelhos d'água e vegetação aquática. Não durou muito tempo até ser reconfigurado pelo paisagista nos anos 1990, devido às dificuldades de manutenção provocadas pelo clima e pelas condições meteorológicas da Capital, explica a arquiteta.
O desenvolvimento do diagnóstico começou em abril de 2022 a partir da observação da inclinação de um oitizeiro que, ao passar por meses de monitoramento e isolamento, continuava inclinando e "apontando para a difícil decisão de supressão".
Por meio dessa verificação, feita por peritos e órgãos oficiais, constatou-se "a urgência na realização do completo diagnóstico desses jardins, somado a ações para sua manutenção preventiva", de acordo com procedimento descrito no estudo.
O trabalho, então, foi desenvolvido por equipe técnica multidisciplinar coordenada pelos arquitetos e urbanistas Fernanda Rocha e Matheus Moreira. O grupo, composto por agrônomos, botânicos e jardineiros, realizou ações e viabilizou "orientações práticas" para garantir a manutenção do espaço em curto, médio e longo prazo.
Para o engenheiro agrônomo Lamartine Oliveira, o principal desafio da preservação de áreas verdes urbanas "é o entendimento de que é preciso o olhar técnico para realização do manejo adequado". Ele explica que os jardins são importantes para a valorização das espécies nativas, que garantem equilíbrio e biodiversidade no ecossistema urbano - apenas no TJA, por exemplo, há especies nativas do Ceará como o Cajueiro, Jucá, Pacavira e Chanana.
Já para Fernanda, o principal desafio de garantir a conservação dos jardins históricos do teatro é a ausência de recursos e a falta de entendimento da real importância da manutenção desse espaço. "Precisa ser tombado", diz, visto que "um jardim tombado recebe mais recursos" que podem garantir a preservação.
"Trata-se de um oásis, um refúgio no caos urbano, povoado de verde, de sombra segura e espaços para descanso, além de proporcionar uma ampliação dos espaços cênicos e das mais variadas atividades do TJA", defende a urbanista.
Diagnóstico dos Jardins
A pesquisa "Diagnóstico dos Jardins de Burle Marx no Theatro José de Alencar" pode ser consultada pelo link