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Primeiro ator registrado do Ceará completa 30 anos do documento
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Primeiro ator registrado do Ceará completa 30 anos do documento

Conhecido pela atuação no teatro, cinema, televisão e rádio, Augusto Signorelli foi o primeiro ator a emitir o registro profissional no Estado
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Augusto Signorelli foi o primeiro artista a tirar o registo profissional de ator no Ceará (Foto: Levy Mota/Divulgação)
Foto: Levy Mota/Divulgação Augusto Signorelli foi o primeiro artista a tirar o registo profissional de ator no Ceará

Atuar profissionalmente no Brasil exige do ator a emissão do DRT, documento que comprova a legalidade do artista para trabalhar. Diante da oportunidade de compor o elenco de uma novela da rede Globo, Augusto Signorelli, em maio de 1994, transformou a cena das artes cênicas no Ceará.

O professor, roteirista e poeta, foi o primeiro ator a obter o documento no Estado, que neste ano completa 30 anos de emissão. Desde então, o artista natural do Rio de Janeiro que escolheu Fortaleza para viver, reúne mais de 70 personagens interpretados e atuações que contemplam a TV, o cinema e o teatro.

O primeiro papel de Augusto foi na adolescência, quando ele fez Jesus Cristo em uma peça religiosa de Natal apresentada no Colégio Santo Inácio. No início da carreira o artista não imaginava seguir a carreira como ator, visto que tinha mais interesse no desenvolvimento de roteiro e de poemas.

"Atuava como roteirista em uma emissora no Ceará, e nas radionovelas, sempre quando alguém faltava, me chamavam para cobrir os personagens. Apesar de me apresentar e atuar, eu sou uma pessoa muito tímida, eu sempre fugia das câmeras porque gostava da produção", comenta Augusto.

Augusto foi escritor de premiadas obras como:"Copabacana", "Homenagem ao Operário" e "Café Java, 1886". Foi em 1988, quando o Festival Internacional de Cinema (FestRio) aconteceu em Fortaleza, que ele foi selecionado com o filme independente, "Bia e Beto". Alguns anos depois da passagem pela cidade ele voltou para trabalhar na capital alencarina.

"Fui o ator do primeiro filme publicitário cearense, que foi meu primeiro trabalho pago como ator. Naquela época, nem eu, nem ninguém havia se registrado profissionalmente no Ceará. Desde então, já fiz dezenas de personagens nos últimos 38 anos", relembra

Em 1993, começou os trabalhos em Fortaleza diante da idealização e da direção da primeira revista cultural da TV cearense, "Mural", que resultou em uma série de produções locais da década de 1990.

No mesmo período, Augusto já havia escrito o texto, "Carta de Vila Mulher aos Filhos Bardos", que foi publicado pela Secretaria de Cultura do Município. A coleção de obras poéticas lhe rendeu Prêmio Literário Fundação Cultural de Fortaleza.

Em 1995 ele voltou ao Rio de Janeiro para apresentar a rádio-arte "O Grito", na abertura oficial do Mercosul e os Caminhos da Integração, seminário internacional que aconteceu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

De 1997 a 2015, o roteirista e poeta esteve no cargo de Professor Autor da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Dois anos após deixar a ocupação, ele publica o roteiro "Mucuripe" que foi editado em formato de livro e lançado na cidade sulista de Canela.

A responsável pela busca do documento profissionalizante foi a condição imposta pela Rede Globo para a participação do ator na novela "Tropicaliente". Augusto recebeu a proposta para interpretar o personagem Antônio, pianista do hotel onde se passa a trama.

Foi a partir do intermédio do professor Carlos da Silva Frota, amigo de Augusto, com o Radialista e Presidente do Sindicato dos Radialistas, Aderson Maia, conhecido como Dedeco, que o ator conseguiu a emissão do documento.

"O presidente do Sindicato dos Radialistas já conhecia minha história na televisão cearense. Foi ele quem encaminhou meu pedido para o DRT. Entretanto, no Brasil, ator é uma função cadastrada na categoria dos artistas e não dos radialistas", ressalta Augusto.

Após a participação em "Tropicaliente", ele esteve no filme do cineasta Rosemberg Cariry, "Lua Cambará - Nas escadarias do Palácio", de 2002. Na obra ele deu vida ao personagem Lévi, junto a nomes conhecidos do teatro como Dira Paes, Nelson Xavier e Claudio Jaborandy.

Segundo o ator, esta produção desafiou suas habilidades de atuação com a interpretação de um judeu no século XIX. "Olha, foi muito interessante fazer esse personagem, ele é estruturado naquela estrutura toda da história. Eu também tive crédito no início do filme com a Dira, isso é uma honra", explica o artista

Ele também ressalta que o convite para elencar a obra teve um grande significado."Foi um aspecto muito generoso comigo. Primeiro para me convidar para fazer esse personagem e segundo por acreditar no meu trabalho, né? Eu creio que o Oswald Barroso é quem tenha falado para o diretor sobre meu trabalho", relembra do antigo mestre.

Além do longa do cineasta e roteirista cearense, Augusto obteve destaque na produção audiovisual "Onde Acaba a Praia", do cineasta Tiago Pedroso e no espetáculo "O Conflito de Francisco", radionovela de Fátima Almeida realizada pela Comunidade Católica Shalom, em que ele representava cinco personagens.

Contribuiu também na série global "O Caçador", de 2014, atuando junto a Cauã Reymond, Cleo Pires e Nanda Costa. Entre os recentes trabalhos do artista de 61 anos está série de comédia "Se avexe não", lançada no mês de março no canal TV Brasil.

Conhecido pela atuação no teatro, cinema, televisão, rádio e streaming, o primeiro registrado do Ceará acredita que a profissionalização artística no estado é essencial para a cena local. Ele acredita que sua iniciativa foi um fator que abriu novas possibilidades aos atores cearenses que não tinham obtido a documentação profissionalizante.

"Já faz 30 anos que eu era o primeiro ator profissional, agora são mais de 2.000 atores registrados no Ceará profissionalmente. Esse documento é a porta de entrada para o mercado de trabalho", destaca o multiartista.

Signorelli entende o teatro cearense como um espaço com muito potencial e com artistas que têm crescido no cenário nacional. Entretanto, segundo a ele, a falta de seriedade de alguns coletivos de teatro prejudica a profissionalização da carreira de atores.

" Infelizmente alguns grupos do teatro local muitas vezes não profissionalizam, não têm Sindicato, não têm carteira, aí não tem uma referência legal para quem deseja seguir uma carreira profissional no teatro e na televisão", comenta.

Para o futuro de sua carreira, Augusto já tem alguns planos que pensa desenvolver. Uma dessas obras, é baseada nos princípios cristãos que o ator segue e que teve contato desde criança". Eu quero fazer um roteiro, com um personagem que mostre Cristo sob o olhar de Pedro, que é um personagem identificado como afoito, passado pela ansiedade, assim como todos nós", revela.

O artista já interpretou outros papéis de teor religiosos, como Jesus Cristo, Herodes e Pilatos, mas nessa futura produção ele pretende explorar uma narrativa diferente do que já atuou durante todos os seus projetos, assim como busca que a produção toque o público que assiste o seu trabalho.

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