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Moda modesta: mulheres muçulmanas mostram individualidade com estilo
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Moda modesta: mulheres muçulmanas mostram individualidade com estilo

Sem marcar ou mostrar demais, a moda modesta é o estilo que mulheres muçulmanas usam para expressar sua identidade e fé
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Mulheres muçulmanas entreleçam moda e fé em seu dia a dia (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Mulheres muçulmanas entreleçam moda e fé em seu dia a dia

Se você fechar os olhos e imaginar uma mulher muçulmana, o que passará pela sua cabeça?

Permita um palpite: mangas longas que se estendem até o pulso, comprimentos de calças ou vestidos que alcançam os pés, e o véu que cobre os cabelos. Os detalhes não estão errados, mas, conhecendo-os de forma rasa, há aqueles que associam essa imagem à opressão.

Mas as muçulmanas realmente não desfrutam da moda e beleza de forma plena, suprimindo seu comportamento e gostos pela religião? Talvez para os que acreditam nisso, a resposta seja sim. Porém, o apreço pela chamada "moda modesta" faz parte da realidade de muitas dessas mulheres.

Esse estilo vai se entrelaçar com as seguidoras do Islã, já que o livro sagrado aponta para seguir a modéstia nas roupas e acessórios, além do uso do véu — sendo isso uma escolha, elas decidem se querem ou não usá-lo.

Para entender o que a moda modesta representa é necessário, primeiramente, entender o que essas duas palavras significam para as vestimentas. O termo é autoexplicativo: se vestir com modéstia é optar por roupas que não marcam o corpo, compridas no comprimento e nas mangas, e sem decote — ou com o mínimo dele.

Na prática, os looks são montados com calças de boca larga, como a wide leg, macacões frouxos, maiores do que tamanho real daquela veste; as blusas, além da mangas longas, são com decotes como o canoa (fechado), ou de gola U. Casacos e blazers também são bem-vindos.=

É uma moda na qual sua indumentária traz peças "extremamente confortáveis e sem transparência", como explica a influenciadora digital Mag Halat. Dona de uma marca que produz roupas na linha modesta, ela pontua que o objetivo do estilo é a preservação e a elegância da mulher.

"Não é necessariamente religiosa, mas para pessoas que queiram se preservar e se vestir com mais conforto, mas ainda com elegância e se sentindo bem", elabora.

Por isso, mais pessoas vêm se tornando adeptas a essas peças nos últimos anos. E vale lembrar que não se trata de uma tendência nova, já que mulheres cristãs, como as evangélicas, costumam seguir a mesma moda, apenas a estilizando de outra maneira para que se encaixe em sua cultura.

Voltando às mulheres muçulmanas, a moda modesta não está presente apenas na indumentária. Dedicando parte de seu tempo para estudar sobre estilo, Mag chegou a uma conclusão: "Vejo que a moda modesta não seria um estilo de vestimenta, ela é realmente um estilo de vida, um comportamento; é uma decisão", afirma.

Para as muçulmanas, no entanto, pode se levantar questionamentos — não porque adotá-lo seja algo de "outro mundo" ou que atinja negativamente o próximo, mas apenas por também usarem o hijab (véu).

Mag revela que um dos maiores questionamentos que recebe nas redes sociais é sobre o uso do véu.

"Sempre me falam: 'Você mora no Brasil, não precisa disso. Larga esse véu, tira esse véu'. Mas eu falo: 'O meu véu é a minha liberdade'. As pessoas têm direito de escolha de como elas querem viver (e) eu escolhi viver assim, sou muito feliz. E isso não interfere na vida das pessoas", desabafa.

Fabiola Oliveira, também influenciadora digital, ressalta que muitas muçulmanas optam por não usar o hijab, mas, em sua experiência pessoal, o uso dele foi libertador, pois foi como se soltar de pressões estéticas que a sociedade impõe na mulher.

"Não fiquei mais escrava da chapinha, da escova; de todas essas químicas de cabelo. Se eu faço, se pinto meu cabelo, é para mim, para eu me sentir bem — até porque eu uso o lenço e ninguém vai ver".

"As pessoas questionam isso: 'O que você vai fazer se ninguém vai ver?'. Eu vou ver. A minha família, as pessoas que eu amo, minhas amigas vão ver. Então, em primeiro lugar faço por mim. Eu sou vaidosa, mas nesse sentido mais para mim, de autocuidado", arremata.

A professora também destaca que cada mulher muçulmana tem um "caminho espiritual e individual", construindo sua identidade e forma de expressar. Ainda assim, ela relembra que às vezes, até a forma como ela amarra o véu é questionada por ser diferente de outra.

"Uma muçulmana não vai ser igual a outra", enfatiza. "Algumas não usam maquiagem e tem aquelas que usam. Tem as que não usam perfume e outras sim. Então, que bom que somos diferentes e que há essa pluralidade, porque a religião protege essa diversidade", completa.

Bárbara Queiroz usa um par de brincos para prender o hijab
Bárbara Queiroz usa um par de brincos para prender o hijab

Glossário

Hijab: Usado pela maioria das muçulmanas, é um véu usado para cobrir cabelo, orelhas e pescoço. A forma como ele será enrolado é escolhido por quem o usa. 

Niqab: Também sendo um véu, além das partes que são cobertas usualmente pelo hijab, ele também cobre a face, deixando apenas os olhos aparecendo. 

Burca: Trata-se de uma vestimenta que cobre todo o corpo, da cabeça aos pés. Na área dos olhos, uma tela é colocada para ser possível enxergar - ainda impossibilitando que outra pessoa veja os olhos de quem. 

Burkini, ou burquíni: É o traje de banho utilizado pelas mulheres muçulmanas para frequentar praias e piscinas públicas. O traje cobre todo corpo, deixando apenas o rosto, mãos e pés aparecendo. 

 

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