A moda está presente na vida de Liamê Alves desde que ela nasceu. Isso porque sua mãe, Eliene Pereira, é costureira. "A moda, as roupas, a costura, tudo isso foi o que sustentou a minha família e sustenta até hoje", aponta. Natural do Rio de Janeiro, a jovem mora na capital cearense desde os 13 anos e foi em Fortaleza que começou sua carreira na área.
Atualmente, ela coleciona no currículo a assinatura de styling - um trabalho onde se combinam roupas e acessórios - e criação de figurinos para artistas como Mallu Viturino, Mateus Fazeno Rock e Mumutante, além de figurinos para o teatro.
"A Mallu foi a primeira pessoa a me chamar para produzir um figurino de show", compartilha. Depois, Liamê realizou trabalhos de styling para a Mateus Fazeno Rock, criando, em seguida, figurinos completos da banda para shows realizados em grandes festivais como Zepelim e Primavera Sound. "A inspiração surge a partir do tema que o artista me dá, porque tenho uma referência visual para encaixar na estética dele", comenta.
Ela criou também para Mumutante, que se apresentou no Festival Elos com um figurino proposto por Liamê. "Eu gosto muito de pensar que aquele figurino foi feito exatamente para aquelas pessoas usarem. Eu gosto de olhar, por exemplo, para a Mumutante e pensar 'essa roupa aqui é para ela. Foi feita pra ela subir nesse palco'", contextualiza.
A jovem conta que, desde criança, já desenhava roupas no papel e queria que elas existissem. Foi assim que caminhou para o curso de Designer de Moda e formou-se na Universidade Federal do Ceará. Durante a faculdade, participou do projeto "Meu Primeiro Corre na Moda", do Instituto C&A, voltado para estudantes da área nos primeiros semestres de graduação. Na época, ela compartilhou aprendizados com a marca Baba.
Em 2023, Liamê Alves fez parte da programação da 1ª edição do Festival Moda de Favela, onde partilhou em uma roda de conversa seus processos de criação e produção de figurinos, além de dialogar sobre a moda criada dentro das comunidades no Ceará. Segundo a figurinista, "existe muita gente criando, estudando, se profissionalizando, querendo montar marca, querendo ver pessoas vestindo as roupas da marca e traduzindo para quem não é da periferia como as pessoas da periferia se vestem", conta. "A gente precisa desmistificar que a moda está só dentro dos bairros nobres", avalia.
Sobre o cenário de moda no Ceará, Liamê comenta que, atualmente, os eventos do setor têm mudado a postura de dois anos atrás, quando davam uma maior atenção ao que era criado e produzido fora do Estado. "O nosso maior desafio é a desvalorização", explica. "Agora, finalmente, estamos vendo eventos de moda organizados por pessoas que realmente estão na área, que fazem questão de colocar pessoas de Fortaleza e do Ceará neles", analisa. Para ela, é preciso que esses profissionais sejam valorizados dentro da própria cidade porque são eles quem constroem a história da moda local. "Estamos começando a crescer, de fato, a mostrar para o Brasil que fazemos moda tão bem quanto o restante do País", enfatiza a jovem.
Com orgulho, Liamê conta que sua principal referência na moda é sua mãe, Eliene: "O ato de vestir outras pessoas foi o que construiu quem nós somos hoje", compartilha. "Eu vou sempre exaltar essa figura da minha mãe porque sem ela nada disso seria possível. Então, para mim, é muito importante que as pessoas saibam que não existe Liamê sem Eliene", completa.
Além da moda, a artista conta que o sonho de ser atriz caminha lado a lado com as roupas que desenha. Inclusive, ela foi uma das indicadas ao 7° Prêmio Ceará Encena na categoria de Melhor Atriz por sua atuação no espetáculo "Rastros", resultado da conclusão do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), do Theatro José de Alencar. A jovem é ainda um dos nomes que assinam o figurino da peça, que também recebeu indicação como melhor da categoria.
Hoje Liamê está focada no trabalho que faz com a marca Ranishi, de roupas de ciclismo, e quer construir ateliê e acervo próprios para também dedicar-se aos figurinos. Ela já tem em mente um projeto de figurino para um show que a Mateus Fazeno Rock fará em novembro deste ano.
Liamê acredita que seu trabalho tem o propósito de representar as pessoas em suas singularidades. E, ao ajudá-las nessa expressão de autenticidades, vai fortalecendo os próprios desejos. "Ver minhas criações ocupando grandes palcos do Brasil tem sido como um sonho realizado", diz. E reforça: "O meu maior sonho, de fato, é continuar vendo o que eu crio em lugares que nunca imaginei alcançar".
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