A trajetória da fotógrafa Claudia Andujar, sueca radicada no Brasil, é revisitada em exposição na Pinacoteca do Ceará, em mostra com curadoria de Eduardo Brandão. "Claudia Andujar - Minha vida em dois mundos" traz ao público cearense a sensibilidade e a força do olhar da artista sobre a cultura Yanomami.
Claudia dedicou grande parte de sua carreira à documentação e à defesa dos direitos de um dos maiores grupos indígenas do Brasil. Essa população originária tem enfrentado desafios, especialmente pela situação com garimpeiros, que estão atuando ilegalmente nos territórios dos Yanomami e provocando um intenso impacto ambiental, atacando comunidades e levando doenças.
Com um trabalho marcado pelo compromisso com as causas humanitárias, a obra de Claudia transcende a fotografia documental e ocupa um formato de ativismo visual. São registros carregados de críticas sociais e alcançam gerações sem deixar a contemporaneidade.
"São muitos mundos que ela habita. Seja no jornalismo, na arte da militância, na política propriamente do Brasil", afirma Thais Rivitti, pesquisadora da exposição.
Enaltecendo o trabalho da fotógrafa, Thais destaca: "É muito relevante o debate de todo o trabalho dela. A primeira coisa que me chama muita atenção, como alguém que pesquisa esse trabalho, são as mulheres artistas nesse pioneirismo".
A pesquisadora ressalta outros aspectos que mostram o protagonismo de Claudia. "Ela é uma pessoa muito corajosa, atravessou o País na década de 1960 para fotografar. Ela ter sido uma mulher com essa autonomia e essa Independência na época é um diferencial", conclui.
A exposição traz uma seleção de Eduardo Brandão sobre as imagens que Andujar capturou ao longo de décadas.
Para o curador da mostra, que reúne cerca de 200 fotografias, as escolhas da artista criaram novas possibilidades. "Cláudia trabalha pelos direitos desde 1971, foi uma das que ajudou a construir os direitos do território indígenas em 1992 durante o governo de Fernando Collor", destaca.
Ele também comenta sobre a escolha por Fortaleza para realização do evento. "Trazer as fotografias dela é fundamental pelo seu tom de urgência e pela sua qualidade fotográfica, que já foram expostas em diversos lugares no mundo, então acho que não fazia sentido a gente não ter isso em Fortaleza," pontua Eduardo.
Thais Rivitti diz que buscou mergulhar na proposta pensada por Eduardo. "Cláudia tem 93 anos e é dona de uma trajetória super extensa. Eu fui entendendo os recortes que a curadoria fez", pondera.
A pesquisadora ainda comenta sobre a organização da mostra. "A exposição é ela, não é rigorosamente cronológica, mas a mostra acompanha um pouco a trajetória dessa mulher que vem para o Brasil em 1955 e se torna uma grande referência", finaliza.
Por meio de suas fotografias, Andujar constrói um contraste temático com suas representações dos Yanomami, evidenciando as diferenças entre a vida urbana e a indígena. "Ela é uma mulher que vive em trânsito", comenta a pesquisadora paulista.
Além da exposição das imagens, neste sábado, 22, às 17 horas, o evento contará com a exibição do documentário "A Senhora das Flechas - The Lady With the Arrows".
No Longa-metragem, Claudia desenvolve um relacionamento com o povo yanomami e os ajuda a lutar contra a exploração da floresta amazônica e seu extermínio.
No domingo, o espaço recebe o curador, a pesquisadora e o arquiteto da exposição, Eduardo Brandão, Thaís Rivitti e Thiago Guimarães, respectivamente. Eles se juntam ao público para um debate sobre curadoria, expografia e montagem da nova atração da pinacoteca.
Dentre as diferentes facetas da artista, desde os primeiros trabalhos como fotojornalista, Eduardo reforça a atuação de Claudia como artista.
"Uma fotógrafa gigante e uma grande experimentalista que lá em São Paulo ligada ao MASP foi super importante para uma série de gerações não só de fotógrafos, mas de artistas plásticos", comenta o curador.
Ele complementa: "A gente está tendo a atenção a essa parte também de mostrar Claudia dentro desta esfera artística. Ela como uma experimentalista que usa fotografia para diversas entradas cujos são valorizadas na arte contemporânea." encerra.
O horário de visitação para visitar a exposição na Pinacoteca do Ceará é de quinta a sábado, das 12 às 20 horas, e domingos, de 9 às 17 horas.
Atividades
Exibição do documentário "A Senhora das flechas" (The Lady With the Arrows, 2024)
Conversa de Ateliê "Claudia Andujar. Minha vida em dois mundos" Com Eduardo Brandão, Thaís Rivitti e Thiago Guimarães