Após a demissão da coordenadora da Escola de Dança da Vila das Artes, Marina Carleial, alunos e responsáveis organizaram nessa segunda-feira, 1º, uma ocupação do equipamento. Em sua pauta, reivindicavam a volta da coordenadora afastada e uma gestão mais aberta com os pais dos estudantes.
O ponto de partida da mobilização aconteceu na sexta-feira, 28, quando Marina foi desligada da coordenação da escola de dança — cargo que ocupava há mais de cinco anos. Na ocasião, se encerrava a semana das aulas públicas, organizado pelo curso formativo, abertas aos pais e responsáveis.
No mesmo dia, o Instituto Cultural Iracema (ICI), responsável pela administração do equipamento, divulgou em seu perfil do Instagram a reabertura do edital e inscrições para credenciamento de professores para os cursos de dança e teatro. O processo seletivo iniciou originalmente no início de junho, mas precisou ser suspenso para ajustes e recomeçado.
Iara Vanessa Fraga de Santana, mãe de dois alunos da escola de dança — o mais velho de 14 anos estuda na escola há seis anos —-, lembra de já ter acompanhado uma seleção durante o semestre letivo.
“Já acompanhamos algumas situações semelhantes, mas a coordenadora ser demitida e a escola iniciar esse período de férias sem o quadro docente, sem coordenação, sem nada? (Essa) é a primeira vez”, afirma.
A assistente social define ter sido “pega de surpresa” com o afastamento de Marina, já que está a frente do curso de dança formativa desde quando seu primeiro filho ingressou na formação, e questiona “como uma escola funciona sem coordenação”. “Acho um acontecimento muito grave e para mim chega como um descuido e falta de zelo com o equipamento público”, sustenta
A preocupação de Iara em relação a situação está no planejamento pedagógico e na continuação das atividades da escola no segundo semestre letivo de 2024. Ela defende que é um curso importante, pois ensina para além da dança, empregando valores sociais em sua formação.
“São famílias que se mobilizam para garantir que seus filhos estejam lá nesse espaço”, defende a ocupação.
Jordana Rafaela dos Santos é integrante do Corpo de Representantes dos Responsáveis pelos Estudantes do Curso de Formação Básica em Dança, uma organização civil de pais e responsáveis que acompanha os projetos da escola.
A frente da mobilização na Vila das Artes, ela explica que eles buscavam se reunir para dialogar sobre o ocorrido, declarando que não tinham ainda o nome para assumir o cargo vago, mas que os pais gostariam que Marina Carleial retornasse a ele.
“Após as férias, temos a (organização) do espetáculo. E essa nova coordenação que pode ser colocada por eles não sabe como isso funciona, não tem conhecimento do processo”, elabora.
Mãe de duas alunas que frequentam a formação em dança, ela explica que a antiga coordenadora também assumia um papel de “psicóloga” com as famílias.
“Ela que abraça e acolhe esses anos todos cada família com suas demandas e dificuldades. Ela quem dava suporte e às vezes um direcionamento”, arremata, acrescentando que após uma mobilização anterior também conseguiram um profissional indicado para esse acolhimento.
Liana Maria Barbosa, estudante formada pelo curso, corrobora com a declaração de Jordana, definindo que a Carleial era muito presente na conversa “de uma maneira humanizada e atenciosa”. “Eu era uma criança transitando para a adolescência e isso realmente me ajudou muito”, defende.
A ex-aluna faz parte do Corpo Artístico de Jovens Formados em Dança — carinhosamente apelidado de Caju —, composto por antigos estudantes que já completaram o curso, mas se mantém atuando dentro da Vila das Artes. O grupo estava se mobilizando com os atuais estudantes, produzindo cartazes que expressavam seus desejos.
Ela conta que um dos professores da escola que atuavam com o Caju foi afastado no início do ano e que, para que o projeto fique atuando bem, é importante mais de um profissional. “Nós temos muito receio que projeto não continue”, compartilha o receio em relação ao projeto — que também atua na monitoria das turmas.
“Retirar a coordenadora no meio do ano, fazer esse desmonte do corpo docente da escola no meio do ano, é uma coisa extremamente complicada e uma falta de respeito com as crianças, pais e também com a instituição VIla das Artes”, sustenta.
O Vida&Arte entrou em contato com a Vila das Artes via assessoria, para apurar sobre o atual cenário da Escola de Dança e como o desligamento da antiga coordenadora afeta os estudantes. Em nota, o Instituto Cultural Iracema (ICI) informou que a demissão “foi motivada por necessárias adequações administrativas”.
“Ressaltamos que o plano de curso e de trabalho da Escola de Dança serão mantidos conforme o previsto, com a contratação de um novo coordenador para assumir a função”, afirmaram.
Sobre a previsão de um novo nome para assumir o cargo, eles responderam: “Estamos atualmente em período de férias, mas ressaltamos que o processo para a contratação do novo coordenador já está em andamento, garantindo que não haverá interrupções nas atividades educativas da escola em questão”.
Sobre o corpo docente, a seleção dos antigos professores havia sido realizada em 2022 e o edital previa que o contrato teria duração entre janeiro de 2023 a janeiro de 2024. Esse período poderia ser prorrogado com aditivo, mas o documento não informa por quanto tempo. O site do ICI também não tinha informações sobre a prorrogação da duração do contrato ligado dessa seleção.
No atual processo de credenciamento, que está na fase de inscrições, o edital prevê que todas as fases acontecerão ainda em julho e o resultado será divulgado em 1º de agosto. Ele também informa que os professores selecionados têm previsão para começarem a atuar a partir de agosto e que os nomes credenciados estarão elegíveis até 2026.