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CCBNB celebra 26 anos em Fortaleza e mira expansão no Nordeste
Vida & Arte

CCBNB celebra 26 anos em Fortaleza e mira expansão no Nordeste

Com três unidades no Nordeste, Centro Cultural Banco do Nordeste oferece programação para destacar produção cultural na região
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Fortaleza, CE, BR 24.05.16 - Centro Cultural BNB (Banco do Nordeste) (Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 24.05.16 - Centro Cultural BNB (Banco do Nordeste) (Fco Fontenele/O POVO)

“Um espaço onde é permitido experimentar a diversidade de conceitos, estilos e suportes”: essa é uma das definições assumidas pelo Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Braço “físico” do Banco do Nordeste voltado à Cultura, a política de desenvolvimento oferece programação gratuita em diferentes linguagens artísticas.

A primeira unidade foi inaugurada em Fortaleza em 1998 e se consolidou como espaço importante na capital cearense para a circulação cultural de artistas iniciantes na cena e de personalidades já consagradas. Já se apresentaram no palco musical, por exemplo, Ednardo, Belchior, Zeca Baleiro, Amelinha, Ceumar, Amir Haddad e Xangai.

Hoje, o CCBNB também se encontra em Juazeiro do Norte e em Sousa (PB). Para além da música, visa democratizar o acesso cultural a linguagens como Artes Visuais, Literatura e Artes Cênicas. Pioneira, a unidade de Fortaleza completa 26 anos em julho como espaço de destaque para a fruição artística.
Com biblioteca, palco para espetáculos, mini auditório, Corredor Galeria, caixa cênica, espaço para shows e sala de oficinas, o CCBNB Fortaleza destaca a produção local em atividades de terça-feira a domingo. O movimento, claro, também ocorre nas demais unidades.

CCBNB investe em atividades voltadas ao patrimônio cultural, formação e circulação 

Ao longo dos últimos dez anos, foram investidos cerca de R$ 60 milhões nos CCBNBs e aproximadamente 4,5 milhões de visitantes passaram pelos equipamentos. Atualmente com três unidades, há autorização para abertura de mais dois centros, sendo eles em Mossoró (RN) e Recife (PE).

O orçamento para os Centros Culturais é dividido pelas linguagens artísticas, sendo elas Artes Visuais, Cênicas, Audiovisual, Literatura, Humanidades e Música. A partir delas, é organizada a programação mensal com atividades voltadas ao patrimônio cultural, formação e circulação.

De acordo com Evineide Dias, superintendente de Marketing e Comunicação do BNB, o Banco do Nordeste tem como estratégia de atuação “fortalecer a base dos agentes produtivos da cultura por meio do apoio à circulação da sua produção, o acesso a ela pela população e também o acesso ao crédito”.

Com a pandemia, a programação passou a ser feita a partir do “radar” dos curadores das diferentes linguagens e por demandas enviadas por e-mail.

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A situação é apresentada por Gildomar Marinho, gerente-executivo do CCBNB Fortaleza. A tendência, conta, é trabalhar com novos editais para ampliar as oportunidades aos artistas. O foco do Centro Cultural é dar oportunidade à circulação, em sua análise.

“O CCBNB tem o tripé fincado na formação de plateia, no incentivo aos novos talentos e na circulação de bens e produtos culturais. Como nossa programação é inteiramente gratuita, não estamos interessados nos riscos sistêmicos, como se ‘vai dar dinheiro ou não’ ou se ‘terá público ou não’”, indica.

Alguns dos desafios do CCBNB passam pela territorialidade. Por estar no Centro, é “quase impossível trazer eventos de grande porte durante o dia devido ao estacionamento”, pois a região é ocupada pelo movimento de lojas. À noite, surge o outro desafio: a segurança.

Gildomar sugere “diálogo forte” com equipamentos do entorno para “revitalizar o Centro e romper o paradigma de que é somente para comércio”. “Precisa ser um espaço de vivência da Cidade também”, aponta.

Um dos carros-chefes do CCBNB é a programação musical. Em Fortaleza, um dos produtores culturais da instituição na área é o jornalista e compositor Dalwton Moura. Ao lado de Lucas Benedetti, ele coordena o projeto Jazz em Cena, realizado desde 2017 e cujo objetivo é “construir uma temporada permanente de jazz em Fortaleza”.

“Precisávamos de um projeto permanente na Cidade no qual os músicos pudessem tocar com liberdade e que o público tivesse a oportunidade de escutá-los tocando o que desejam, fora das necessidades comerciais. Até hoje é muito gratificante realizar o projeto. Ele reúne grandes plateias e já promovemos muitos shows ao longo desse período”, afirma.

O pianista Osmar Milito, por exemplo, foi uma das atrações do Jazz em Cena que passaram pelo CCBNB em 2023. Evidentemente, a programação abarca outras iniciativas e, segundo Dalwton Moura, a curadoria tem o objetivo de “construir pontes com o público e mostrar a diversidade da cena musical de Fortaleza”.

É fato, porém, que desafios acabam se impondo, como a questão da “viabilidade” dos shows e da necessidade de “arregimentar público” - assim, é preciso “mobilizar e divulgar ao máximo”. “É algo que abraçamos com muita energia e muita intensidade, porque sabemos da diversidade da oferta. Queremos que aquele artista ou grupo em destaque tenha uma alta exposição nas semanas que antecedem o show”, explica.

Outra área forte no CCBNB é a Literatura, cuja programação é conduzida pela atriz e escritora Sara Síntique desde 2021. Enquanto produtora e curadora literária, a artista, que também atua na área de Humanidades, defende uma programação “muito diversificada” e que apoie autores cearenses e nordestinos.

Ela afirma que “quase 90%” da agenda dá prioridade a essas pessoas, abarcando desde jovens escritores a profissionais de longa trajetória. Além disso, é importante observar a literatura produzida por pessoas LGBTQIA+, não-brancas, mulheres e da periferia, buscando ofertar sempre uma programação equilibrada em diferentes aspectos.

“Como curadora, tenho muito esse olhar de apoio a pessoas do nosso Ceará e do nosso Nordeste, seja com trajetórias iniciantes ou de longa data”, pontua.

Fortaleza, CE, BR 24.05.16 - Centro Cultural BNB (Banco do Nordeste)Na foto: Luiz Claudio (percussionista e produtor musical)(Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, CE, BR 24.05.16 - Centro Cultural BNB (Banco do Nordeste)Na foto: Luiz Claudio (percussionista e produtor musical)(Fco Fontenele/O POVO)

Circulação cultural

Além de reforçar o papel da cultura local das cidades nas quais estão instalados, os centros culturais do Banco do Nordeste assumem o compromisso de promover a circulação de artistas entre as unidades. O percussionista Luiz Cláudio, paraense radicado em São Luiz (MA), é exemplo de profissional atingido por essa mobilização.

Pesquisador da cultura popular e da percussão brasileira, especialmente as do Pará e do Maranhão, tem 40 anos de carreira e trabalhos com nomes como Zeca Baleiro e Ceumar. Em maio, fez circulação pelo Nordeste, começando por Fortaleza e passando depois por Cajazeiras (PB) e Juazeiro do Norte como atividades promovidas pelo CCBNB.

A turnê divulgou "O Som É Cruel", álbum autoral com direção artística de Luiz Cláudio e Zeca Baleiro. O trabalho destaca ritmos tradicionais da música maranhense, como Tambor de Mina, em combinações originais com a música eletrônica. Para o músico, que completou 60 anos em março, foi como um "presente".

"Essa circulação representa o intercâmbio de culturas diferentes. Trago um pouco das duas culturas que fazem parte da minha formação, que são o Pará e o Maranhão. A circulação (pelo CCBNB) permite conhecer plateias e ajuda a formar novas plateias. Isso é muito importante".

Ele acrescenta: "Essa descentralização de não ser só na Capital é um fator determinante para a gente lembrar da democratização e da acessibilidade na cultura em todas as artes".

 

Fachada do Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (CCBNB-Cariri)
Fachada do Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (CCBNB-Cariri)

CCBNB Cariri

Se o CCBNB Fortaleza completa aniversário em julho, a unidade do Cariri comemorou 18 anos de existência em maio. Para a ocasião, foi preparada programação especial em Juazeiro do Norte, com peças de teatro e performances musicais do Reisado São Francisco. O percussionista Luiz Cláudio fez parte, aliás, das atividades com o show "O Som É Cruel".

Ao longo de quase duas décadas, o CCBNB acumula feitos importantes, como mais de três milhões de usuários e visitantes e mais de seis mil horas de shows musicais. Gerente-executivo da unidade, Ricardo Pinto destaca como o centro cultural ajudou a dar mais visibilidade às manifestações culturais já existentes no Cariri.

"É interessante, porque aqui no Cariri conseguimos criar redes de parcerias. Nossas ações não estão circunscritas somente à região do Cariri cearense. Conseguimos levar atividades para Quixadá, Quixeramobim, Icó, Jaguaribe, Brejo Santo, já fizemos ações em Pernambuco… Então, no Cariri há esse ar mais regional. Acho que é onde mais se sente como um centro cultural do Nordeste, por conta da proximidade com as manifestações culturais próprias da Região", afirma.

A declaração é de um profissional que acumula passagens pelas três unidades do CCBNB. Ele percebe semelhanças estruturais e de programação entre os centros, mas as localidades apresentam particularidades. Em Sousa, por exemplo, lembra que em "qualquer ação as respostas de público eram imediatas" pelo fato de ser uma cidade na qual "praticamente não havia oferta de equipamentos culturais".

"No primeiro ano de instalação, a resposta do público foi muito grande. Fizemos estimativa de visitação média diária em torno de 300 pessoas, mas nos assustamos, porque percebemos que até duas mil pessoas chegavam a acessar diariamente o centro cultural", indica. Conforme Ricardo Pinto, foi possível notar "mudança comportamental" e formação de plateias "muito evidenciada".

Em Fortaleza, porém, pontua que "não se sente fortemente os impactos diretos" devido à quantidade de equipamentos culturais já existentes. No Cariri,os impactos passam pelo aumento de visibilidade a grupos locais tanto de manifestação da cultura popular quanto conjuntos teatrais, musicais e artistas visuais.

"Há um número grande de artistas da xilogravura, por exemplo, que só conseguiam apresentar sua arte fazendo capas de cordel ou quando surgia chance de levar as obras para fora daqui, mas localmente não tinham essa oportunidade. O grande impacto - e isso é corroborado pelo depoimento de vários artistas - é que no Centro Cultural ou em espaços parceiros nós realizamos atividades praticamente todos os dias do mês, então há a oportunidade de apresentar a produção artística e receber por isso", revela.

Segundo Ricardo, alguns dos desafios enfrentados pelo CCBNB Cariri passam pela localização do prédio. Por ser no centro da cidade, o ambiente "fica vazio à noite", o que deixa "quase nenhum poder de atratividade para o público" devido à falta de circulação de pessoas no entorno.

Assim, há uma dificuldade de renovar o público frequentador: "O mesmo que vai a uma peça é aquele que vai participar de oficina ou ver shows. A renovação desse público acaba sendo pouca por alguns fatores, entre eles a localização".

Ele também aponta: "Outra dificuldade é desmistificar e dessacralizar o ambiente de um equipamento cultural para torná-lo mais acessível, para que as pessoas realmente o enxerguem como um espaço do seu dia a dia".

Há nove anos como produtora cultural do CCBNB Cariri, Janiele Rocha fica à frente das etapas de pré-produção, produção e pós-produção da área de música. Atualmente, é responsável pelo festival Rock Cordel, pela Mostra BNB de Música Instrumental e pela programação mensal de música na instituição.

Pela experiência no Centro, conseguiu trabalhar com nomes importantes da música brasileira, como Cátia de França, Tico Santa Cruz, Abidoral Jamacaru e Marcelo Jeneci. Segundo Janiele, a programação é pensada conforme a particularidade de cada mês, do que a equipe discute ou das bandas de maior notoriedade que têm o Nordeste na rota de shows para facilitar o translado até o Cariri.

Mas, afinal, quais são os principais desafios na construção da programação musical? Ela contextualiza: "O Brasil vive uma onda de cancelamento de festivais motivada pelo alto custo de produção. Acredito que a pandemia tenha contribuído significativamente para esse problema, visto que os custos de logística praticamente triplicaram de valor, causando uma crise no mercado. Diante disso, o principal desafio de montar uma programação é conseguir ofertar condições favoráveis para fazer um show acontecer, e, para isso, é necessário um alinhamento com outros produtores culturais do nordeste e Brasil".

Para o gerente-executivo do CCBNB Cariri, Ricardo Pinto, o centro cultural foi importante nos últimos 18 anos para estimular a apreciação artística: "Há registros de crianças que vimos no CCBNB e hoje continuam sendo usuárias do centro cultural, participando de atividades, fazendo oficinas, indo assistir a espetáculos teatrais, e muitas viraram artistas. Há quem criou grupos de teatro, bandas, alguns são fotógrafos, outros são operadores técnicos. Tenho a clareza de que foi uma interferência direta das atividades do Centro Cultural".

 

Investimentos

Em 18 anos, o CCBNB Cariri:

  • teve R$ 30 milhões investidos
  • somou 3 milhões de usuários e visitantes
  • somou 11 mil eventos realizados
  • atendeu 30 municípios
  • ofereceu 6 mil horas de shows musicais e 5 mil horas de espetáculos
  • realizou mais de 200 parcerias institucionais

Onde encontrar

CCBNB Fortaleza

  • Onde: Rua Conde D'Eu, 560 - Centro
  • Instagram: @ccbnb_fortaleza

CCBNB Cariri

  • Onde: Rua São Pedro, 337 - Centro - Juazeiro do Norte - CE
  • Instagram: @ccbnb_cariri

CCBNB Sousa

  • Onde: Rua Cel. José Gomes de Sá, 07 - Centro (Sousa-PB)
  • Instagram: @ccbnb_sousa

 

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