A unidade do Cariri comemorou 18 anos de existência em maio. Para a ocasião, foi preparada programação especial em Juazeiro do Norte, com peças de teatro e performances musicais do Reisado São Francisco.
Ao longo de quase duas décadas, o CCBNB Cariri acumula feitos importantes, como mais de três milhões de usuários e visitantes e mais de seis mil horas de shows musicais. Gerente-executivo da unidade, Ricardo Pinto destaca como o centro cultural ajudou a dar mais visibilidade às manifestações culturais já existentes no Cariri.
"Conseguimos criar redes de parcerias. Nossas ações não estão circunscritas somente à região do Cariri cearense. Conseguimos levar atividades para Quixadá, Quixeramobim, Icó, Jaguaribe, Brejo Santo, já fizemos ações em Pernambuco… Então, no Cariri há esse ar mais regional. Acho que é onde mais se sente como um centro cultural do Nordeste, por conta da proximidade com as manifestações culturais próprias da Região", afirma.
A declaração é de um profissional que acumula passagens pelas três unidades do CCBNB. Ele percebe semelhanças estruturais e de programação entre os centros, mas as localidades apresentam particularidades. Em Sousa, por exemplo, lembra que em "qualquer ação as respostas de público eram imediatas" pelo fato de ser uma cidade na qual "praticamente não havia oferta de equipamentos culturais".
"No primeiro ano de instalação, a resposta do público foi muito grande. Fizemos estimativa de visitação média diária em torno de 300 pessoas, mas nos assustamos, porque percebemos que até duas mil pessoas chegavam a acessar diariamente o centro cultural", indica. Conforme Ricardo Pinto, foi possível notar "mudança comportamental" e formação de plateias "muito evidenciada".
Em Fortaleza, porém, pontua que "não se sente fortemente os impactos diretos" devido à quantidade de equipamentos culturais já existentes. No Cariri, os impactos passam pelo aumento de visibilidade a grupos locais tanto de manifestação da cultura popular, quanto conjuntos teatrais, musicais e artistas visuais.
"Há um número grande de artistas da xilogravura, por exemplo, que só conseguiam apresentar sua arte fazendo capas de cordel ou quando surgia chance de levar as obras para fora daqui, mas localmente não tinham essa oportunidade. O grande impacto - e isso é corroborado pelo depoimento de vários artistas - é que no Centro Cultural ou em espaços parceiros nós realizamos atividades praticamente todos os dias do mês, então há a oportunidade de apresentar a produção artística e receber por isso", revela.
Segundo Ricardo, alguns dos desafios enfrentados pelo CCBNB Cariri passam pela localização do prédio. Por ser no centro da cidade, o ambiente "fica vazio à noite", o que deixa "quase nenhum poder de atratividade para o público".
Assim, há uma dificuldade de renovar o público frequentador: "O mesmo que vai a uma peça é aquele que vai participar de oficina ou ver shows. A renovação desse público acaba sendo pouca por alguns fatores, entre eles a localização".
Ele também aponta: "Outra dificuldade é desmistificar e dessacralizar o ambiente de um equipamento cultural para torná-lo mais acessível, para que as pessoas realmente o enxerguem como um espaço do seu dia a dia".
Há nove anos como produtora cultural do CCBNB Cariri, Janiele Rocha fica à frente das etapas de pré-produção, produção e pós-produção da área de música. Atualmente, é responsável pelo festival Rock Cordel, pela Mostra BNB de Música Instrumental e pela programação mensal de música na instituição.
Pela experiência no Centro, conseguiu trabalhar com nomes importantes da música brasileira, como Cátia de França, Tico Santa Cruz, Abidoral Jamacaru e Marcelo Jeneci. Segundo Janiele, a programação é pensada conforme a particularidade de cada mês, do que a equipe discute ou das bandas de maior notoriedade que têm o Nordeste na rota de shows para facilitar o translado até o Cariri.
Mas, afinal, quais são os principais desafios na construção da programação musical? Ela contextualiza: "O Brasil vive uma onda de cancelamento de festivais motivada pelo alto custo de produção. Acredito que a pandemia tenha contribuído significativamente para esse problema, visto que os custos de logística praticamente triplicaram de valor, causando uma crise no mercado. Diante disso, o principal desafio de montar uma programação é conseguir ofertar condições favoráveis para fazer um show acontecer, e, para isso, é necessário um alinhamento com outros produtores culturais".
Para o gerente-executivo do CCBNB Cariri, Ricardo Pinto, o equipamento foi importante nos últimos 18 anos para estimular a apreciação artística: "Há registros de crianças que vimos no CCBNB e hoje continuam sendo usuárias do centro cultural, participando de atividades, e muitas viraram artistas. Há quem criou grupos de teatro, bandas. Tenho a clareza de que foi uma interferência direta das atividades do Centro Cultural".