Cachaça, pinga, cana ou caninha é como o aguardente produzido a partir da cana-de-açúcar é conhecido em diversas regiões no Brasil. Usada na caipirinha, a bebida surgiu durante a época colonial.
Durante a produção de açúcar, cachaça era o nome designado à primeira espuma quando o caldo de cana estava sendo fervido. Costumava ser oferecida aos animais ou descartada. A segunda espuma, por sua vez, era consumida pelas pessoas escravizadas, sequestradas em países africanos e trazidas para trabalhar forçadamente no País.
A essa segunda espuma também passou a ser chamada de cachaça após passar pelo processo de destilação da espuma e da fermentação do melaço. O nome também possui origem colonial, de “Cachaza”, original da língua ibérica, que era um vinho de baixa qualidade bebido em Portugal e Espanha. Também se atribui o termo aos cachaços, os porcos, que bebiam do destilado.
Além de pessoas negras escravizadas, era consumida por pessoas de baixa renda sendo moeda de troca. Em dado momento, Portugal chegou a proibir a produção do destilado, no século XVII, devido à popularidade. Viçosa do Ceará foi um dos municípios do Estado que se destacou na produção da bebida, não à toa, é considerada a capital da cachaça no Estado.
Para fazer jus ao título surge o Roteiro dos Engenhos, realizado pela Experiências Ibiapaba projeto do Sebrae. “O Roteiro de Engenhos de Viçosa, nasceu a partir de um conjunto de ações que a gente via desenvolvendo desde o ano passado lá no município, como o Festival Viçosa, Mel e Cachaça”, explica Márcia Pereira, consultora comercial do Sebrae.
“Desenvolvemos essa experiência como forma de organizar o roteiro dos engenhos, que já existia, mas precisava de uma estruturação”, explica Márcia Pereira, consultora comercial do Sebrae. A iniciativa faz parte da marca turística “Viçosa do Ceará - Cidade Patrimônio”, que prevê ações para comercializar cada vez mais o turismo em Viçosa.
“Fizemos uma consultoria com essas nove empresas que mapeamos, uma consultoria individual com elas para identificar as potências de cada uma, as experiências que cada uma tem e principalmente a gente ajudar a organizar cada empresa com a experiência que o turista pode buscar vai ter a procurar”, detalha.
A escolha dos empreendimentos participantes foi feita com base nos que já são atendidos pelo projeto de turismo do Sebrae. “Mapeamos esses equipamentos que hoje já estão prontos para o turismo, ou seja, com horário de funcionamento estabelecido, rede social, se tem uma entrada estabelecida, se é gratuito ou se tem uma entrada mínima, e já participa dos nossos eventos”, descreve Márcia.
A Cachaça Aviador é uma das nove empresas que estarão presentes no roteiro. A marca cearense e de Viçosa criada em 2020 por Caio Carvalho, já acumula prêmios como a Medalha de Ouro 2021 no Brasil, Melhor do Mundo 2022 em Londres e Cachaça do Ano 2023 na Austrália.
O proprietário celebra a iniciativa do Roteiro dos Engenhos. “Antes, a cachaça era algo pejorativo, mas hoje, lugares como Minas Gerais são conhecidos mundialmente pela produção de cachaça. Hoje, Viçosa é conhecida por sua arquitetura colonial, mas aos poucos ganha mais notoriedade pela produção dessa bebida. São 519 alambiques ao todo no município”, destaca Caio, que também é piloto de avião.
Por outro lado, Márcia destaca que o roteiro vai além da produção de cachaça. “Também promovemos o contato com o artesanato da região, com lojas que vendem cachaças na região e cachaçarias também com visitação turística”, destaca.
Cachaça Aviador: De Viçosa para o mundo
Recém-nascida, mas já muito premiada, a cachaça Aviador surge da vontade de seu fundador Caio Carvalho de transformar uma tradição de família em uma marca reconhecida e assim trazer mais visibilidade para Viçosa do Ceará. O bisavô do também piloto de avião possuía plantações de cana-de-açúcar e costumava produzir rapadura e melaço para a venda local.
“O meu pai começou a fazer cachaça e a Aviador surgiu comigo, na quarta geração da família. Envasamos a primeira garrafa em 23 de outubro de 2020, que é Dia do Aviador”, relembra Caio, que decidiu dar o nome da profissão ao destilado. “Depois que comecei a trabalhar como piloto e conhecer outros lugares, passei a valorizar os produtos de onde vim. Por isso, foi surgindo uma vontade de melhorar os produtos, profissionalizar o que é feito para auxiliar no desenvolvimento do município”, pontua o empresário.
Mesmo com a ampliação, a marca mescla o modo de fazer tradicional com os mais modernos para conferir sabor diferenciado aos destilados que produz. “Nós ainda produzimos cachaça de alambique de cobre, porque tudo que é feito no cobre tem um sabor distinto, mas nossos equipamentos eram, como muitos da região, arcaicos. Então, passamos a trabalhar com maquinários mais tecnólogicos”, descreve.
Desde a criação, a Aviador vem se consolidando no mercado e conquistando prêmios como Medalha de Ouro em 2021, no Brasil; Melhor do Mundo em 2022, em Londres e Cachaça do ano em 2023, na Austrália. As honrarias motivaram Caio a criar a Associação dos Produtores de Cachaça de Viçosa, da qual é presidente.
“Buscamos não só nosso crescimento, mas sim é melhorar uma região”, defende Carvalho. “Inicialmente a associação veio com o objetivo de gerar indicação geográfica da cachaça de Viçosa, em parceria com o Sebrae. Veio muito da vontade da nova geração de mudar o cenário da região”, detalha. A organização surgiu em 2022 e, de acordo com Caio, já colheu frutos.
“Nós conseguimos o título de Capital da Cachaça e estamos no processo da indicação geográfica”, conta. Concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o termo diz respeito a um alimento que só é produzido de uma determinada forma em um local específico, como o queijo Canastra, por exemplo.
Roteiro dos Engenhos
Saiba mais sobre o roteiro dos engenhos no site experienciasibiapaba.tur.br
Cachaça de alambique e cachaça industrial
Para além dos dois modos de produção, a cachaça de alambique e a industrial acabam tendo diferença entre os sabores. A primeira é desenvolvida de modo mais artesanal nos engenhos, onde o objetivo maior é qualidade. O aroma e o sabor são dois fatores levados em consideração pelos produtores.
O processo começa a partir da colheita da cana-de-açúcar, retirando as palhas secas. Em seguida, ela é limpa manualmente antes da moagem. A destilação é feita em um alambique de cobre e a bebida passa um período envelhecendo em barris de madeira para sofrerem uma alteração química que modifica o sabor e o cheiro.
Já a industrial é feita por empresas de grande porte, não há uma seleção minuciosa da cana, nem a limpeza é feita manualmente. A queima e a fermentação do destilado são acelerados por agentes químicos. O processo é similar a produção de álcool para automóveis, com destilação feita em colunas de aço inox.
Para agregar mais valor à bebida é adicionado açúcar na composição em alguns casos. A maioria das cachaças industriais não são envelhecidas em nenhum tipo de madeira, sendo engarrafadas após ficarem prontas. em alguns casos é adicionado açúcar em sua composição.
Confira entrevista com Caio Carvalho, dono da Cachaça Aviador, no Pause
Confira lista das empresas
Cada marca tem especificidades como lojas, rotas de visitação, degustação, almoço, visata a vagão de trem, entre outros atrativos