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O legado de Rogaciano Leite Filho em seu aniversário de 70 anos
Vida & Arte

O legado de Rogaciano Leite Filho em seu aniversário de 70 anos

Jornalista, poeta e nome importante no colunismo social cearense, Rogaciano Leite Filho completaria 70 anos neste domingo, 7; familiares e amigos relembram trajetória
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Rogaciano Leite Filho foi nome importante do colunismo social e do jornalismo cearense (Foto: Chico Lima, em 18/10/1983)
Foto: Chico Lima, em 18/10/1983 Rogaciano Leite Filho foi nome importante do colunismo social e do jornalismo cearense

"Inquieto e irreverente", "um dos expoentes de sua geração", "líder" e "companheiro". Entre páginas do O POVO e depoimentos de amigos, o legado do poeta, escritor, jornalista e boêmio Rogaciano Leite Filho é reverenciado tanto por suas contribuições à literatura e ao colunismo social quanto pela pessoa que foi.

Filho do poeta Rogaciano Leite, ele se destacou nas letras e no jornalismo, sendo ponte importante para a divulgação de cronistas, poetas e contistas. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), por exemplo, o homenageou colocando seu nome em um de seus espaços. Neste domingo, 7, completaria 70 anos se estivesse vivo. Sua trajetória é relembrada por amigos e familiares, sendo destacada em diferentes ângulos.

Nascido em 1954, frequentava diferentes locais da boemia em Fortaleza, como a Praia de Iracema, e a frase "bebamos todos" acabou se tornando uma de suas várias marcas. Ele "convergia todas as tendências ideológicas ao seu redor", como ressaltado em matéria do O POVO em 1993.

Roga, como também era conhecido, publicou em 1976 "O Pão Mofado", antologia de poemas.No O POVO, estreou a coluna "Em OFF" em 1987. No espaço, falava de política, arte e literatura com espírito crítico e comentários irônicos e diretos. Ele ficou à frente do espaço até dezembro de 1991, quando foi afastado das atividades por problemas de saúde. Rogaciano faleceu em 5 de março de 1992, aos 37 anos.

O jornalista e poeta também foi um dos responsáveis pelo grupo Siriará, movimento levantado na década de 1970 e que reuniu alguns dos grandes nomes da Literatura Cearense da década de 1980. Autores como Airton Monte, Batista de Lima, Joyce Cavalcante, Oswald Barroso, Rosemberg Cariry e Nirton Venâncio participaram do Siriará.

O poeta, escritor e diplomata cearense Márcio Catunda foi um dos convidados a compor o movimento. Ele pontua seu aprendizado com os "pares daquela confraria", sobre a qual Rogaciano Leite Filho "tinha ascendência muito destacada" devido aos seus "dons de liderança".

"Para mim, ele foi um companheiro de peregrinações poéticas nas noites de tertúlias literárias e de certa boemia. Era um companheiro muito agradável, com muito sentido de humor. Era uma amizade de uma fraternidade muito especial. Éramos verdadeiros irmãos", resgata Márcio Catunda.

O escritor aponta a "generosidade" do jornalista ao publicar poemas, entrevistas e reportagens com propósito de divulgar seus trabalhos e novos autores. Além disso, usava seu espaço no O POVO para "difundir eventos culturais, resenhas e obras literárias", noticiando "todos os acontecimentos importantes". Catunda ressalta sua contribuição ao apoiar movimentos de abertura política no período de redemocratização do Brasil.

Rogaciano Leite Filho foi conhecido por sua presença na boemia fortalezense(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Rogaciano Leite Filho foi conhecido por sua presença na boemia fortalezense

"A trajetória do Rogaciano Leite Filho foi a de um jovem que cresceu lutando para conquistar um lugar de destaque na sociedade. Ele se afirmou brilhantemente como jornalista, poeta e líder de toda uma geração de escritores, foi estimadíssimo não só pelos colegas de profissão, mas por todos os escritores que com ele conviveram", analisa.

Ele cita poemas como os musicados e cantados pelo compositor e escritor Eugênio Leandro, cuja relação com Rogaciano Leite Filho "era de uma sintonia e confiança de irmão". As palavras são do próprio artista, que relata ter sido "levado para a música" por Filho. Foi o jornalista quem o passou os poemas "Canoa Quebrada" e "Caminhos de Mucuripe".

As letras foram transformadas em músicas e inscritas no Festival Universitário da Canção da UFC, em 1978. A dupla ficou em quarto lugar na competição. "Canoa Quebrada" está em "A Cor Mais Bonita" (1996), terceiro álbum de Leandro, e deve ser lançado nas plataformas ainda em julho. "Caminhos de Mucuripe" e "Convite" seguem inéditas "com mais um bocado pelas gavetas, aguardando projeto de gravação".

Para Eugênio Leandro, Rogaciano Leite Filho foi "um grande criador, sem ter tido o devido tempo para criar". "Era como se ele já fosse a própria arte ali, ambulante, dando-se por inteiro a causa da arte e da cultura, sem esquecer o bom e franco jornalismo", enfatiza. "Sempre muito requisitado", ele era "incentivador, divulgador, articulador, inquieto, crítico, ativista, disposto, de sorriso na cara e dando-se por inteiro à causa da cultura".

"Tinha um crivo, um senso, que não era fácil. Peça fundamental no movimento de cultura daquela Fortaleza efervescente de luta, num momento sensível de ditadura no país", acrescenta. De tantas memórias com Rogaciano Leite Filho, as principais se relacionam com sua "disponibilidade aos outros" e do seu "espírito público".

"Claro, há a lembrança da luta e das farras memoráveis, de não deixar ninguém quieto, com sua voz de tenor, a entoar o 'bebamos, cantemos!'", compartilha.

Rogaciano Leite Filho ao lado dos filhos, Cibele Leite e Rogaciano Leite Neto(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Rogaciano Leite Filho ao lado dos filhos, Cibele Leite e Rogaciano Leite Neto

"Presença constante"

Depoimento de Cibele Leite, filha

"No aniversário de 70 anos do meu pai, recordo com carinho os momentos preciosos que compartilhamos, apesar de sua partida prematura. Ele sempre foi presença constante e afetuosa em minha vida, moldando muitos dos meus valores e interesses. Todos os fins de semana eram dedicados a estar ao seu lado, explorando juntos o mundo ao nosso redor. Foi com ele que descobri o verdadeiro significado de vida social, aprendi a apreciar o mar e sua imensidão. Suas lições sobre respeito, honestidade e amor ao próximo ecoam em mim até hoje, inspirando meu caminho e minhas escolhas. Seu sorriso caloroso e seu abraço protetor são lembranças que guardo com saudade e gratidão. Em seu aniversário, celebro não apenas seus setenta anos de vida, mas também o legado de amor e ensinamentos que ele deixou para mim e para todos aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo. Que sua luz continue a guiar meu caminho, mesmo na ausência física, e que eu possa honrar sua memória, vivendo uma vida plena e com o mesmo amor que ele sempre me dedicou".

 

"Figura inspiradora"

Depoimento de Rogaciano Leite Neto, filho

No próximo dia 7 de julho, meu pai completaria 70 anos. Embora sua vida tenha sido curta, a profunda marca que deixou em nós permanece. Jornalista brilhante e agitador cultural, ele se destacou no colunismo político e se entregou com paixão à sua profissão. Mas, acima de tudo, ele era uma figura inspiradora e um pai presente.

Lembro-me de como ele gostava de nos apresentar a mim e à minha irmã a novas experiências e descobertas. Suas palavras eram sempre um incentivo para vivermos a vida ao máximo. Seu amor pelo mar, sua alegria de estar em meio às pessoas e seu desejo inesgotável de aprender e compartilhar fizeram dele uma presença constante em nossas vidas.

Ele nos ensinou a importância de seguir nossos sonhos, a valorizar a educação e a cultura e a apreciar as pequenas belezas do mundo. Hoje, ao lembrarmos dele, percebemos a importância de aproveitar cada momento, sabendo que, em cada um deles, a essência de quem ele foi permanece.

 

Sensibilidade de poeta

Depoimento de Helena Leite, irmã

A grandeza de Rogaciano Leite Filho está além da belíssima trajetória profissional e intelectual conquistada durante os seus quase 37 anos. "Viveu" menos que o pai, que morreu com 49, mas ambos viveram tão intensa e precocemente e deixaram tantas marcas e legados que parece que viveram 100 anos. Rogaciano herdou do nosso pai o nome, talento, inteligência, oralidade, perspicácia, benevolência, compaixão e a sensibilidade para ser poeta e compositor. Cada um com o seu estilo, mas com a mesma dedicação, seriedade e necessidade de aprender e de ler, eles usaram a coragem, palavra e a escrita para serem os profissionais respeitados e imortais que são. Rogaciano Filho promoveu inúmeros "novos" poetas, artistas e escritores com seus festivais, grupos literários (Siriará), revistas, espaços no Segundo Caderno do O Povo, prefácios e lançamentos de livros. Merecidamente, um belo espaço no Centro Dragão do Mar leva o seu nome. Ademais, o Roga foi exemplo, amigão e o meu irmão-pai, companheiro de arrimo. Deixou-nos rico legado e herdeiros: Cibele e Rogaciano Neto.

 

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