Beleza, poder e elegância são palavras que vem à mente em relação a unhas alongadas e elaboradas. Não à toa, quando uma pessoa se torna vampiro na série “Entrevista com o vampiro” (2022), baseada nos livros de mesmo nome de Anne Rice, ganha um alongamento natural como forma de destacar a transformação em uma criatura sobre humana.
No mundo real, as unhas maiores, coloridas e cheias de acessórios também se tornaram um símbolo de poder e parte da identidade para rappers como Duquesa, Slipmammi, N.I.N.A, Karol Conká entre outras. O estilo também foi apropriado nos últimos anos por divas pop como Rosalía e Karol G.
A nova tendência não se restringe somente as artistas. A demanda por unhas diferentes e que fujam das clássicas francesinhas tem crescido, segundo relatam as profissionais de nail design (design em unhas, em tradução livre para o português). “As artistas são as causadoras para tudo que está relacionado à moda, seja ela de roupas, cabelo e a unha então, nem se fala”, afirma Adrielly Gondim, manicure e nail designer há mais de 10 anos.
“É muito da moda querendo ou não as marcas grandes, grifes acabam de certa forma interferindo no seu dia a dia. Até mesmo no tipo de esmalte que você pinta a sua unha”, concorda Brenda Delfino, que acumula 15 anos no mercado de unhas como nail designer e manicure.
A fortalezense natural do bairro Sapiranga acredita que a pandemia foi outro fator que influenciou na busca de unhas com formas diferentes. “As pessoas viram mais que era gostoso cuidar de si por passarem tanto tempo em casa. E as pessoas ali com mais disponibilidade conseguiram ver mais essa questão do que tá rolando lá fora de produtos de esmalte, acessórios e de unhas diferentes”, salienta Delfino
“Acredito que as pessoas buscam pela vaidade e pela sensação de praticidade ao estar sempre com as unhas prontas”, argumenta Talita Correia, que atua há 7 anos como nail designer e manicure em Croata da Serra.
Dentre as tendências de moda que influenciam as unhas está a gyaru, uma subcultura japonesa que mescla os estilos preppy e lolita, característica por ele bronzeada, laços e exagero, conforme acredita a nail designer Vitória Sampaio. “Ano passada teve forte influência das asiáticas nas unhas, como por exemplo as unhas gyaru, que são um estética de unhas japonesas com consiste em unhas bem enfeitadas com vários acessórios 3D”, explica a profissional, que possui mais de 10 anos de experiência.
“Depois disso percebi a procura em unhas diferentes bem maior, e consequentemente, a procura por outros estilos também. Todo mundo quer sua unha ‘gringa’”, complementa Sampaio, que atende em estúdio próprio na Aldeota.
“A chegada de decorações gringas mudou muito nosso mercado, em relação a decoração extremas e bem trabalhadas, usando até mesmo efeito 3D devido a grande vantagem de deixar as arte bem mais nítida, ter mais espaço para acrescentar acessórios ou desenhos bem trabalhados”, diz a nail designer com mais de 20 anos de atuação na área, Suely Costa.
O tipo de unha a que ela se refere são as unhas longas com acessórios e cores chamativas que começaram a ser usadas ainda na década de 1960 por mulheres negras e periféricas dos Estados Unidos. No Brasil, Alcione e Elza Soares foram durante décadas grandes expoentes do alongamento em unhas.
Algo que antes era associado à periferia e falta de elegância, conquistou o mainstream por causa das já citadas Rosalía, Karol G e as irmãs Kardashians, já conhecidas por apropriarem cultura negra. “Acho que cada geração tem ali a sua época, coisas que se identificam. Atualmente, percebo que a Geração Z gosta muito de bastante cor e de se mostrar como pessoa através das unhas", salienta Brenda, que atende em estúdio próprio na Aldeota.
“As pessoas estão preferindo mais fazer unhas de personagens de animes, cartoons, inspiradas em álbuns de cantores”, acrescenta Delfino, que possui uma grande demanda por unhas baseadas em álbuns de k-pop.
Em relação aos novos modos de fazer, as nail-designers se dividem entre gostar ou preferir as unhas mais tradicionais, como Adrielly Gondim. “Prefiro as mais básicas e delicadas porque o resultado fica mais na pegada do sofisticado e elegante”, defende a designer de unhas, que oferece o serviço a domicílio.
“Eu prefiro os estilos mais básicos, pois gosto do resultado e acho mais elegante; é o famoso ‘menos é mais’”, salienta Talita Correia. Já Suely Costa prefere trabalhar em unhas que exijam extrema dedicação. “Adoro quando uma cliente traz uma decoração bem trabalhada. Já cheguei a passar 6 horas em uma cliente só devido a unha ter muitos detalhes”, conta a manicure.
“Eu gosto muito de trabalhar com elaborado, porque trabalho realmente com pessoas com gostos diferentes. Tem clientes que em um mês pedem unha preto com prata, mais dark e no outro já quer uma coisa mais fofinha, sabe?, alega Brenda Delfino. “Nail Art para mim é prazeroso, fico boba com a algumas artes tão bem feitas, decoração tão minuciosa que consigo dominar em uma unha”, revela Suely, que atende no bairro Quintino Cunha.
“Adoro isso porque acaba me trazendo pessoas com muita personalidade e acho muito massa, porque vai além da unha. Tem uma troca, a vivência do dia a dia, aquela cliente acaba se tornando amiga”, detalha Brenda.
Desafios de ser nail-designer em Fortaleza
Nascida e criada na Sapiranga, Brenda Delfino começou a trabalhar com unhas por inspiração na mãe. “Ela revendia produtos de beleza e era muito vaidosa. Sempre fazia as próprias unhas todo final de semana e eu adorava acompanhar aquele ritual”, relembra. “Eu costumava roer a unha, então comecei a pintar até que fui gostando, me aperfeiçoando na cuticulagem e esmalação”, conta a manicure e nail designer com 15 anos de experiência.
“Comecei a fazer unha das tias, das vizinhas e aí eu fui cobrando. E aí intercalava eu estudava de manhã e à tarde e às vezes no final de semana fazia a unha para as pessoas do meu bairro”, explica Brenda, que tinha 14 anos quando começou a se interessar por unhas.
Vitória Sampaio seguiu uma trajetória parecida com a de Delfino. “Comecei a trabalhar com unhas por volta dos 11 anos de idade. Fazia apenas desenhos simples em um salão de bairro na minha rua. Sempre me interessei por desenhar, então quando descobri que conseguia desenhar em unhas também eu quis colocar em prática”, conta Sampaio que é do bairro Aracape.
“Quando eu era criança, sempre gostei de desenhar, era meu único hobby. Então, aproveitava para desenhar nas unhas da minha mãe, mas logo pedi para ela falar com a dona do salão do bairro para que pudesse ficar aprendendo lá”, rememora Vitória, que atualmente atende em estúdio próprio na Aldeota, assim como Brenda. A designer de unhas passou pouco tempo no espaço e em 2017 voltou a trabalhar na área, em um salão mais profissional.
No início de 2023, a manicure decidiu abrir seu próprio estúdio. “Porque o ambiente de salão te ensina muito, mas também te prende muito e eu queria muito expandir”, conta, a nail designer que faz alongamento com fibras de vidro. Brenda Delfino, que atuou em salão de 2018 a 2021. “Querendo ou não o salão acaba limitando as possibilidades, eu também percebia que algumas clientes nem sempre se sentiam tão à vontade nesse tipo de ambiente”, detalha Delfino, que trabalha com alongamento com gel para unhas.
Suely Costa por sua vez encontrou nas unhas uma nova possibilidade de carreira, já que antes ela trabalhava como empregada doméstica. “Desde os meus 14 anos atuo como manicure simples, sou da época em que fazíamos aquelas florzinhas com palito, que era com as bolinhas”, alega.
A profissional em unhas iniciou no ramo atendendo a domicílio, mas hoje atende no próprio estúdio, localizado no bairro Quintino Cunha. “Sempre gostei muito de fazer unha, fazer desenhos, meio-arte, sempre foi um hiperfoco bastante bom para mim”, pontua Suely, que produziu unhas de artistas como Taty Girl. A designer de unhas afirma que quando começou não havia tantas formações disponíveis e na área, as poucas que tinham eram caras.
“Não tinha como a gente investir em curso porque era muito difícil arcar com os custos. Na época, as unhas de porcelana dominavam o mercado e era um produto caro. “Tem muitos produtos no mercado com preço bem acessível e profissionais em lojas dando suporte”, afirma Suely que trabalha tanto com fibra de vidro, acrílico e gel para alongamento de unhas.
Apesar do avanço do mercado para acompanhar as novas tendências em nail design, as profissionais reclamam que ainda tem que importar muitos dos produtos necessários para o trabalho. “Infelizmente, o mercado nacional é muito limitado para diferenciação de esmaltes, os tipos de gel para fazer esculturas, acessórios. Acho que 90% do que eu uso em mesa é importado”, lamenta Brenda.
“Grande parte do meu material para o nail design vem de fora do País”, acrescenta Vitória. “Acho que ao mesmo tempo que as unhas elaboradas estão tendo um grande reconhecimento e vejo as lojas investindo nisso também, acredito que a lojas poderiam investir mais em produtos mais diferentes, sair mais do “mesmo”, entende?”, defende a nail designer.
Tendências atuais e o que vem para o futuro
As unhas mais procuradas no estúdio de Vitória Sampaio, na Aldeota, são as cyber nails. “Atualmente eu trabalho com todos os tipos de unhas artísticas, as cyber nails são as mais procuradas, que são unhas com detalhes cromados com um estilo mais futurista”, diz Sampaio. A trend é muito usada por membros de bandas de K-Pop.
Já Brenda Delfino tem uma demanda diversificada. Recentemente ela incluiu fotos de ídolos sul-coreanos como opções de decoração para as unhas. Porém, sua maior demanda são as unhas no estilo coquette. O termo em francês significa mulher galante e sedutora, no entanto, diz respeito a uma estética mais delicada e fofa.
“Uma coisa meio rococó, que é aquela coisa que tem o rendado, um laço, transparência, brilho, lilás, cores mais pastéis assim. É uma tendência que vem durando bastante e acredito que veremos mais no futuro”, destaca Delfino.
O trabalho que mais chamou atenção recente foi de uma unha inspirada na série “A Casa do Dragão” (2022). “A minha cliente já veio com uma ideia na cabeça, porque ela tem o time dela na série, que é o preto. Procuramos juntas referências no Pinterest como seria a pele de um dragão, se seria toda preta e também como o olho poderia ser”, ilustra Brenda.
Para criara a textura de escamas, a nail designer usou espuma de água e gel na unha. “A camada que a gente passa que é o top coat antes de finalizar, coloquei as bolhas de sabão por cima da unha e leve para cabine. Quando sai a bolha ela faz uma camadinha em cima do finalizador do top coat que deixava que tivesse uma textura de pele de dragão, toda granulada”, detalha Delfino, que montou a unha inteiramente do zero usando gel e efeitos 3D.
Mitos e verdades sobre alongamento de unhas
Outro desafio enfrentado pelas nail designers da Capital é a falta de conhecimento em relação ao processo. “Ainda há pessoas que acreditam que o alongamento prejudica as unhas naturais”, revela Brenda Delfino. No entanto, “depende muito da forma como o alongamento é feito, se as ferramentas usadas foram devidamente higienizadas, dentre outros fatores”, ilustra Delfino.
Quando o alongamento é realizado, quer seja de fibra de vidro, gel ou acrílico, é feita uma fina camada sobre a unha, que funciona como uma proteção. Além disso, o alongamento não impossibilita o uso de removedor de esmalte, caso a pessoa enjoe da cor usada, já que as unhas com esses materiais costumam durar 30 dias.
Embora seja uma opção prática para quem quer manter as unhas bonitas, o alongamento ou até mesmo a blindagem em gel não é indicada para quem tem micose ou algum tipo de fungo nas unhas. Para as pessoas que têm alergia é interessante consultar um dermatologista antes de realizar o procedimento e usar esmaltes hipoalergênicos.
Acompanhe as designers de unha nas redes sociais
Brenda Delfino: @brendadelfinonails
Adrielly Gondim: @adryellenaildesignerr
Suely Costa: @esmalteria_de_luxo_
Vitória Sampaio: @vitoriasampaionails
Talita Correia: @nailsvalentine4