O olhar fixo de um idoso, emoldurado por rugas e marcas de expressão, revela mais do que uma angústia do envelhecer ou a solidão do passar dos anos.
É a marca registrada do hiper-realismo, estilo adotado pelo artista plástico paulista Giovani Caramello e um dos pontos altos da exposição "Hiper-realismo no Brasil", que chega à Caixa Cultural Fortaleza no próximo dia 9.
Expressões humanas hiper-realistas em esculturas de resina, silicone e terracota são o ponto de partida do trabalho produzido pelo artista natural de Santo André, no ABC Paulista.
Segundo ele, as pesquisas poéticas que culminam nas obras circundam as emoções e, a princípio, partem de vivências próprias. No entanto, Giovani diz que busca apresentá-las sob uma perspectiva ampliada, buscando a "universalidade condição humana".
Solidão, angústia e melancolia estão bastante presentes no corpo de obra do artista e evidenciados nos títulos adotados, como "Onde Habitam Meus Demônios" (2022); "Sozinho" (2013); "Ansiedade" (2013).
A exposição chega a Fortaleza após temporadas em outras unidades da Caixa Cultural, como São Paulo, Curitiba e Recife. O espaço localizado na avenida Pessoa Anta, na Praia de Iracema, receberá visitantes de 9 de julho a 15 de setembro com entrada gratuita.
A exposição conta com 11 obras assinadas por Giovani Caramello e reúne esculturas em silicone — que reproduzem, com impressionante precisão de detalhes, figuras humanas altamente expressivas — e peças mais recentes produzidas em bronze.
"São várias técnicas utilizadas: cerâmica, resina, as de silicone, que são as mais hiper-realistas, e de bronze, que é a minha nova fase, com uma escultura mais sóbria e monocromática", explica o artista.
A curadoria da exposição é assinada por Icaro Ferraz Vidal, que também fará uma visita guiada pelas obras de arte no dia da inauguração.
"Aqui na curadoria a gente construiu uma espécie de narrativa: os primeiros personagens são crianças e você vai vendo um envelhecimento progressivo", explicou o curador.
Para ele, para além da riqueza técnica, as obras emocionam pela forma poética de "mostrar as inscrições do tempo sobre o corpo humano".
"Então, é como se ele produzisse biografias ficcionais, escrevendo rugas, pintas e cicatrizes sobre esses personagens", descreveu Icaro.
Entre as peças, destaca-se a obra "Nikutai", com impressionantes 2,5 metros de altura.
Giovani Caramello é um dos mais importantes escultores hiper-realistas do Brasil. Ainda no colégio, Caramello descobriu o mercado incipiente, mas promissor, na área de modelagem 3D e efeitos visuais para produção audiovisual.
Para se aperfeiçoar, ele buscou um curso técnico na área e aos 18 anos foi trabalhar em um estúdio de animação que reunia grandes nomes de destaque do mercado brasileiro.
Foi nesse ambiente que o artista conheceu o escultor Cícero D'Ávila e descobriu sua paixão pela linguagem.
"Comecei com o interesse pela escultura tradicional, feita à mão, para me auxiliar no digital. Só que quando iniciei esse estudo me apaixonei pela escultura e mudei de área", resume.
Exposição "Hiper-realismo no Brasil", de Giovani Caramello
Quando: entre 9 de julho e 15 de setembro de 2024
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema)
Visitação: terça-feira a sábado, 10h às 20h; domingos e feriados, 10h às 19h.
Gratuito
Classificação indicativa:
14 anos
Acessível a pessoas
com deficiência