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De Iza a Paula Toller, Férias na PI mistura públicos e estilos em Fortaleza
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De Iza a Paula Toller, Férias na PI mistura públicos e estilos em Fortaleza

Driblando problemas técnicos com carisma, a carioca IZA apresentou show ao lado de bailarinos e músicos inspirados
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Cantora Iza apresentou repertório de sucessos em show no festival Férias na PI (Foto: Jônatas Pereira/Divulgação)
Foto: Jônatas Pereira/Divulgação Cantora Iza apresentou repertório de sucessos em show no festival Férias na PI

Dezembro de 2017 e a música "Pesadão", lançada dois meses antes, dava os primeiros sinais de que seria um sucesso Brasil afora. A ainda pouco conhecida Iza desembarcava por aqui para fazer o primeiro show em Fortaleza.

A boate Haus, nos arredores do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, estava lotada e, mesmo num palco modesto, ali já ficava evidente o cuidado da carioca com o que seria oferecido ao público presente. Desde o começo, Iza teve ao seu lado, além do DJ, a banda ao vivo e bailarinos.

De lá pra cá, tudo se amplificou e o que a Praia de Iracema presenciou no último sábado, 6, foi a apresentação de uma das maiores cantoras do pop nacional. Atração do festival Férias na PI, a compositora trouxe à Capital a turnê do seu mais recente disco, o confessional "Afrodhit".

Grávida de Nala, sua primeira filha, Iza surgiu radiante ao som de "Uma vida é pouco para te amar", balada lenta - e apaixonada - que convidou o público a acalmar a euforia deixada pelo show de Vitor Kley, que integrou plateia calorosa ao som do hit "O Sol".

Ao longo da sexta, 5, e do sábado, 6, o Aterrinho da Praia de Iracema recebeu, além de Iza e Vitor, artistas como Frejat, Paula Toller, Paulo Façanha, Makem, Rafael Amora, Luh Lívia, Claudine Albuquerque e Yayá Villas Boas. Foram dois dias de festa animada, porém não necessariamente lotada.

Voltando à apresentação da carioca, o volume baixo do som no início do show, que, a priori soou como estética, logo se mostrou um problema técnico. Nas quatro primeiras músicas, o vozeirão da carioca se abafou na multidão, que começou a gritar reclamando do volume.

Diante do impasse, Iza fez o que faz de melhor: sustentou no carisma. Além do talento vocal, a artista é craque em se conectar com o público. Enquanto os técnicos corriam para solucionar o problema de áudio, a cantora conversava e fazia piada com uma Praia de Iracema lotada de sorrisos.

Superada a questão, Iza presenteou os fãs com uma performance intensa da música "Fé". Destaque também para a presença da canção "Droga" no setlist, música que não está em nenhum álbum da cantora e foi desabafo em momento delicado da vida pessoal da artista (que, inclusive, descartou disco inteiro após se separar de Sérgio Santos, que era também seu produtor musical).

Iza tomou a decisão de apresentar repertório focado nas novas músicas - mesmo as mais desconhecidas do grande público. Escolha artística que deixou o setlist levemente irregular, pois as canções mais populares ("Brisa" e "Ginga", por exemplo) ficaram concentradas no último bloco da apresentação.

Ao cantar o maior sucesso da carreira, adaptou a letra: "Iza e Fortal são o bonde pesadão". Organicamente, a artista conseguiu criar essa ponte com quem estava ali naquela noite de sábado. A cantora soube dividir o brilho da festa com o público e com seus parceiros de palco.

Com solos dos músicos ao longo da apresentação, teve espaço ainda para um número de dança final após Iza deixar o palco e os bailarinos tomarem de conta. Com bons vocais, a carioca deu o recado: festeja mais quem festeja junto.

Cantor Frejat revisitou clássicos do grupo Barão Vermelho em show no festival Férias na PI
Cantor Frejat revisitou clássicos do grupo Barão Vermelho em show no festival Férias na PI

Memórias roqueiras

Em novembro de 1963, os Beatles foram convidados para tocar em um evento beneficente diante da rainha mãe e da princesa Margareth, em Londres. Vendo a audiência dividida entre nobres sentados e uma plateia em pé e mais empolgada, John Lennon convidou: “Os dos assentos mais baratos batam palmas. O restante basta chacoalhar as joias”. Em seguida, cantou “Twist and shout”.

Décadas depois, o rock ficou mais comportado e não se presta mais a esse tipo de malcriação. No entanto, foi impossível não lembrar desse episódio chegando na primeira noite do Férias na PI. Na sexta-feira, 5, havia uma grande área reservada para convidados que mantinha o público comum há uma distância considerável do palco montado na Praia de Iracema. Para chegar mais perto, era preciso dar uma longa volta por trás da mesa de som e luz. Curiosamente, a área reservada era maior e mais deselegante do que o necessário e ficou bem vazia na maior parte do tempo.

Para esta noite de abertura do festival, as principais atrações vieram lá dos anos 1980 e traziam na bagagem hits que marcaram gerações. Diante de um público mais velho, muitos deles trazendo filhos e netos, essas atrações fizeram questão de abusar desses hits. Que bom! Antes das atrações vindas de fora, a abertura foi com o cearense Paulo Façanha, um dos nomes mais experientes da noite de Fortaleza. Em seguida, deveria acontecer um show dos Selvagens à Procura de Lei, mas houve uma confusão, eles foram substituídos por Gabriel Aragão (vocalista do SAPL!), também cancelado. Sobrou para um DJ fazer as bases para a entrada de Roberto Frejat.

O ex-vocalista e guitarrista do Barão Vermelho chegou com uma banda enxuta, sem estrelas, mas todos muito entrosados para enfileirar hits da banda carioca, da carreira solo de Frejat e versões que ele incorporou ao repertório nas últimas décadas. Desse último tópico, ele apresentou “Amor meu grande amor”, de Ângela Rorô, e “Na rua, na chuva, na fazenda”, de Hyldon. Da carreira solo, teve “Segredos”, “Túnel do tempo” e “Amor pra recomeçar”. Do Barão, ele “Por que a gente é assim”, “Bete balanço” e homenagem ao parceiro Cazuza, numa releitura de “Exagerado”.

Com um casaco de mangas longas e cachecol, Frejat, 62 anos, sendo 42 de carreira, chegou com o jogo ganho e dedicou seu tempo a fazer festa para o público que vem acumulando desde os anos 1980. Sua contemporânea de geração, Paula Toller foi a atração seguinte. Apresentando a turnê “Amorosa”, a cantora carioca foi até mais ousada quando optou por um acompanhamento semiacústico e intimista. Mas o repertório foi igualmente confortável e certeiro, com um apanhado de hits do Kid Abelha, banda da qual foi vocalista por mais de 30 anos.

Em Fortaleza, Paula teve o acompanhamento luxuoso de Liminha, um dos mais importantes produtores do Brasil, tocando violão. Outro destaque foi o baterista Adal Fonseca, responsável pelo peso do show. Além deles, Gustavo Camadella (violão), Pedro Dias (baixo) e Gê Fonseca (teclados). E Paula que promoveu um luau na Praia de Iracema cantando “Fixação”, “Amanhã é 23”, “Lágrimas e chuva” e “Nada sei”, que naquela sexta-feira foi relançada nas plataformas digitais em dueto com Luiza Sonza.

Ora sentada, ora mexendo um pouco, Paula Toller usou sua simpatia bem medida para convidar o público a cantar junto canções que cruzaram décadas e fez muitos casais celebrarem juntos o momento. Tinha fã de carteirinha, que acompanha desde os anos 1980, cantando tudo do começo ao fim. Teve público mais jovem, também empolgado, que já conheceu o Kid depois do sucesso do “Acústico MTV”. Tinha aquela turma que estava ali curtindo já que era de graça mesmo. E teve uma senhora, vendedora de bebidas, que me perguntou “quem é essa mulher que tava cantando”. Respondi e ela devolveu “nunca ouvi falar”. Mas gostou do show? “Foi legal. E ela é bonita, né?”. (Marcos Sampaio)

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