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Livro narra viagem de cearenses em rota histórica das grandes navegações
Vida & Arte

Livro narra viagem de cearenses em rota histórica das grandes navegações

Publicação apresenta viagem de cearenses para Portugal a bordo de um veleiro durante 26 dias; obra é lançada no Iate Clube nesta quarta, 17
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Livro
Foto: Arquivo pessoal/Divulgação Livro "Travessia do Atlântico à vela: sem hora para sair, sem dia para chegar - Diários de bordo" mostra viagem de Salvador (BA) a Portugal (PT) em veleiro

O horizonte se estende na infinitude do azul. Por todos os lados, a cor acompanha três navegadores a bordo de um veleiro em uma solidão compartilhada. Cada um escreve suas observações. Peixes, pássaros e a imensidão do Oceano Atlântico se somam aos desejos de uma aventura de 26 dias.

Com esses detalhes, é lançado no Iate Clube de Fortaleza nesta quarta-feira, 17, o livro "Travessia do Atlântico à Vela: Sem Hora Para Sair, Sem Dia Para Chegar - Diários de Bordo". A obra está à venda por R$ 80 e descreve uma viagem oceânica que saiu de Salvador (BA) - com escala em Barra de São Miguel (AL) - para a Marina da Horta, na Ilha do Faial, em Portugal.

Ao longo de 152 páginas, o livro é escrito em forma de diários e reúne depoimentos dos velejadores cearenses Miguel Sávio e Augusto Bastos e do velejador paulista Beto Peixoto. Eles descrevem o dia a dia do percurso, compartilham reflexões e desafios e apresentam informações relativas à travessia, como navegação, segurança no mar, alimentação e lazer.

O livro tem prefácio de João Carlos Feijó e apresentação e posfácio de Maria Ozilea Bezerra Menezes, doutora em Ciências do Mar. O lançamento tem sessão de autógrafos e participação dos autores da obra e convidados especiais. A viagem foi feita em uma rota pouco usual e semelhante a de navegadores europeus de 1500.

A viagem, segundo Miguel Sávio, surgiu "por acaso". Acontece que o veleiro catamarã "My Way", originalmente sediado na Europa, estava no Brasil e ia fazer viagem de retorno. Entretanto, o comandante não tinha tripulação. Foi aí que o Capitão de Mar e Guerra e velejador João Carlos Feijó, autor do prefácio do livro, convidou Augusto Bastos para a experiência.

O catamarã tinha espaço para mais duas pessoas, e então Augusto convidou Miguel Sávio e Beto Peixoto. Equipe formada, hora de realizar as reuniões preliminares de planejamento para a viagem. A partir delas, a ideia de transformar a travessia em um livro.

"Vimos que tínhamos potencialidade para transformar a viagem em um livro pelos nossos currículos e nossas vidas. Pegamos a oportunidade da travessia em uma rota que não é tão comum e partimos para essa ideia. Durante a viagem, cada um fazia seus apontamentos e escritos, além de suas fotografias", compartilha Miguel Sávio.

A rota foi considerada "pouco usual" porque, para o trajeto pretendido, a mais frequente é com passagem pelo Caribe - o que não ocorreu. Neste caso, a travessia repetiu "as rotas utilizadas pelos navegadores quinhentistas europeus quando retornavam do Brasil para a Europa", segundo Miguel Sávio.

Mas, afinal, quais foram os principais desafios da viagem? Para o Capitão de Cabotagem (CCB) da Marinha Mercante, alguns dos pontos mais visíveis passaram pela permanência em um espaço "confinado", com limitação de espaço, no Oceano Atlântico. Além disso, preocupações com avarias no barco, ventos fortes e com possíveis tempestades.

Outro contexto foi o lamento pela falta de atualizações sobre o que estava acontecendo mundo afora. Era possível se comunicar por mensagem e ter informações sobre as condições meteorológicas, mas não consultar o Google, por exemplo. São incontáveis as lembranças que permeiam essa aventura.

"Uma viagem assim é marcante por si só. Costumo dizer que foi uma oportunidade da qual soubemos desfrutar. Ela é marcante pelo seu próprio significado. A travessia foi tão impactante que rendeu o livro. Os diários de bordo são em três tempos, cada um mostrando a sua visão", analisa.

Ele acrescenta: A obra traz justamente como há três viagens dentro de uma, com a viagem interior de cada navegante. A minha viagem foi a conquista de saber que estava fazendo algo que tinha muita vontade: atravessar o Oceano Atlântico em um veleiro. Eu desfrutei a imensidão oceânica, vendo a natureza, pássaros, peixes, mudança de temperatura… Coisas que são todas pertinentes para mim".

Além de descrições particulares dos sentimentos dos navegantes, o livro reúne informações para aprofundar conhecimentos náuticos dos leitores. "O livro não é uma coisa personificada em nós. Tentamos passar informações que vão desde o otimismo da possibilidade da viagem a mostrar como eram as manobras de vela, nossas rotas, velocidades atingidas pelo barco, marcações de pontos notáveis e características de constelações", indica.

Assim, a obra apresenta conteúdos relevantes não só para navegadores, mas para estudantes de Oceanografia, Engenharia de Pesca ou para quem tem proximidade com o mar. Além disso, o livro é importante para destacar a necessidade de preservar os oceanos em meio à chamada "Década dos Oceanos".

"Estamos em uma campanha muito grande em termos de mostrar o mar como um grande companheiro", pontua.

Augusto Barros

"Essa estória foi uma sucessão de acasos. Dois telefonemas e um encontro casual no Iate Clube de Fortaleza foram suficientes para formar a tripulação e embarcar nessa grande aventura.

Eu, em particular, estava saindo de um casamento de 35 anos, alguns quilos mais magro, fazendo terapia, tomando antidepressivo e remédio para dormir. Estava atravessando um dos momentos mais difíceis da minha vida quando tomei a decisão de embarcar.

Como em toda longa navegação, enfrentamos chuva, ventos fortes, ausência de vento e frio. Mergulhar no meio do Oceano para limpar peça no casco, horas acordado nos turnos de vigia e atenção ao tráfego marítimo para evitar colisões.

Baleias ao largo, golfinhos e tartarugas, sem esquecer de marés de sargaços e alguns poucos objetos que vinham boiando e tínhamos que evitar o contato com o barco.

Para nossa sorte já nos conhecíamos eu, Miguel e o Beto, o que facilitou muito durante o período confinado no mar, 30 dias entre saída e chegada. Não é fácil dividir um espaço, isolado do mundo, sem ver terra, ou poder dar uma parada para ir tomar uma cervejinha quando quisesse.
Ao final, chegamos, e na minha travessia interna resolvi minhas questões. Desde então não precisei mais de terapia, remédios e voltei ao meu peso normal.

Acho que foi uma decisão que me colocou novamente no meu rumo".

Beto Peixoto

“Realizar a travessia do Oceano Atlântico a bordo de um barco à vela foi viver um sonho que nunca imaginei que tivesse. Um feito tão distante da minha realidade, que nunca apareceu no desejo ou na lista de viagens para fazer. Foi um desafio fascinante, o contato com a natureza, a imensidão do céu e do mar, as pescarias, os animais que vimos, cada dia uma surpresa e muitos aprendizados sobre a arte de velejar, navegação oceânica, convívio a bordo e muito mais. Transformar essa odisseia em livro permitiu compartilhar as experiências e levar mais gente a bordo. A descrição dos Diários de Bordo é um convite a três visões de mundo, pessoas diferentes contando sobre o mesmo dia de viagem, cada um com suas impressões, olhares e sentimentos. Os relatos se somam a fotografias incríveis e uma descrição detalhada de tudo que se passa a bordo de um barco cruzando um dos sete mares. Fica um convite à leitura e a fazer parte dessa jornada.”

Capa do livro
Capa do livro "Travessia do Atlântico à Vela"

Lançamento de "Travessia do Atlântico à Vela"

  • Quando: quarta-feira, 17, às 19h30min
  • Onde: Iate Clube (Av. Vicente de Castro, 4813 - Cais do Porto)
  • Entrada gratuita
  • Preço do livro: R$ 80; após o lançamento, exemplares serão vendidos pelos autores e depois estarão disponíveis na Livraria Leitura do Shopping Del Paseo (Av. Santos Dumont, 3131 - Aldeota) e na Livraria Arte & Ciência (Av. Treze de Maio, 2400 - Benfica)

 

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