Aprender a viver longe dos rótulos diante de classificações sociais impostas diariamente é o desafio proposto pelo espetáculo “E o Que Resta Sou Eu”. Produção que estreia no palco do Teatro B. de Paiva, no Hub Cultural Porto Dragão, nesta quinta-feira, 25 de julho, às 19h30min.
Remontada a partir de uma obra da Companhia de Dança de Itapajé, o espetáculo é dirigido pelo dramaturgo, artista circense e bailarino Rafael Abreu. No elenco de cena estão os artistas Filipe Evans e Igor Lira, que prometem uma reflexão profunda sobre identidade e bagagens emocionais.
“Queremos que o público se veja refletido na obra e desperte para a necessidade de lidar com essas bagagens emocionais e sociais. "E O Que Resta Sou Eu" não é apenas uma história pessoal, mas um espelho para diversas vivências, promovendo uma reflexão profunda sobre a nossa trajetória e os pesos que escolhemos carregar”, destaca Filipe Evans.
A peça narra a jornada de dois passageiros que buscam se libertar de suas cargas emocionais, explorando memórias e histórias entrelaçadas em um cenário atemporal. A cada cena, as personagens revelam suas lembranças, sonhos e traumas, destacando a questão da existência e dos objetivos humanos quando essas "bagagens" são deixadas.
Entre as metáforas, o texto confronta as perspectivas tecidas pela sociedade, pelas tradições e pelas expectativas alheias sobre os personagens. Foi a partir das vivências e experiências dos atores e da direção, que o roteiro ganhou forma.
“Nos baseamos em nossas próprias trajetórias para criar o contexto da obra, mas não é apenas sobre nós. É sobre a infância de uma criança gay que precisa fingir ser outra pessoa por muito tempo, sobre relacionamentos abusivos, e sobre a relação com a família. Quantas pessoas não passaram ou continuam passando por isso?”, explica Evans.
Rafael Abreu, diretor do espetáculo, acrescenta: “Essa mala tem uma representatividade muito forte de que as coisas que você carrega às vezes não definem a sua essência. A gente traz para o público a reflexão sobre olhar para perceber o que se carrega e como isso é usado na vida pessoal, social e profissional”.
O bailarino Igor Lira também reforça como a união entre arte e realidade fortaleceu o projeto. “ Trabalhamos sobre esse embate de lidar com várias memórias durante a viagem chamada vida”, comenta.
Ele continua: “E ficou bem mais especial agora por conta que são duas pessoas que tem uma amizade de 12 anos, então levamos para a cena muitas memórias compartilhadas, camadas e vivências juntos em Fortaleza e no Rio”, conclui.
O encontro da arte
Com longa trajetória juntos, Filipe Evans e Igor Lira, se conheceram durante o ensino médio e fizeram parte de um grupo de dança em comum. Após integrarem o corpo de baile do Centro Cultural Bom Jardim iniciaram a graduação em dança da Universidade Federal do Ceará.
A ideia de remontar o espetáculo surge quando os artistas estavam morando no Rio de Janeiro. Mas após o retorno ao Ceará mostraram a proposta ao Rafael Abreu, que abraçou a direção da obra. No dia 12 de julho aconteceu a remontagem no Centro Cultural Bom Jardim e até então seguem com a apresentação, em data única, no Hub Cultural Porto Dragão.
Mesmo sofrendo adaptação, a produção teve o enredo mantido e contou apenas com acréscimos de cenas. O diretor da obra explica que decidiram fazer uma transformação do conteúdo que já existia nessa nova montagem, sem desvincular do conteúdo original.
“Nós acrescentamos textos às sequências coreográficas, assim como atualizamos os figurinos. Eu, Igor e Filipe tivemos novos ajustes da coreografia, surgindo mais sentido e não abandonando o que já existia. Agregando uma nova roupagem para esse trabalho”, comenta.
Abreu acrescenta sobre os impactos dessas mudanças. “Essas transformações conversam com as linguagens artísticas que trazemos e dão mais química à cena. Desde os movimentos acrobáticos até as estruturas colocadas, eles são sempre adicionados com uma linguagem coesa ao desenvolvimento da trama”, explica.
Para Igor, o espetáculo "E o Que Resta Sou Eu” desperta o caráter de mudança de conceitos culturais que já são enraizados. Ele considera que pela produção tratar sobre o desprendimento de memórias que podem ser prejudiciais, a trama pode exercer uma função de ruptura de velhos hábitos.
“ Quando a gente fala de memória, principalmente quando a gente vem da periferia de Fortaleza tratamos a memória como um lugar etéreo e intocável e não mexemos nela”, complementa o estudante do curso de dança da UFC.
Rafael frisa a importância de ocupar o Hub cultural Porto do Dragão como um espaço que cede oportunidades à classe artística cearense. “É muito especial, porque é um equipamento que proporciona muito é essa possibilidade de aproximar esses trabalhos contemporâneos, né?”, comenta o diretor cearense.
Ele explica a relação do espaço com a juventude. “Esses trabalhos e os jovens da cidade de Fortaleza. Então eles trazem toda essa possibilidade de aproximar esses novos diretores dessas novas curiosidades, esses novos atores e bailarinos para estar aí apresentando”, destaca.
Filipe, assim como todo o elenco, aguarda positivamente pela estreia no hub. “O espaço é excelente para receber essa obra, também estamos ensaiando diariamente lá, vai ser incrível” explica.
“Espero que o público chegue junto, pois estamos nos apresentando de forma independente, sem incentivo financeiro, nossa arrecadação será totalmente através da bilheteria. Estamos torcendo para que os ingressos sejam esgotados”, encerra.
Sob a gestão de produção Cleber Alves, responsável pela Cia de dança de Itapajé e amigo de graduação de Filipe, o espetáculo prevê a presença de aproximadamente 200 pessoas.
A apresentação também conta com a trilha sonora original composta por Aihady Sandymi, e o figurino desenvolvido por Bruno Matos e Rita Andrade. Os ingressos estão à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) no site Sympla.
Espetáculo "E o Que Resta Sou Eu"