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Saulo Duarte traz beat "latino-amazônico" em novo disco
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Saulo Duarte traz beat "latino-amazônico" em novo disco

Saulo Duarte lança quinto álbum de estúdio, feito inteiramente com batidas digitais e referências aos ritmos paraenses
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Saulo Duarte une tecnologia e ritmos latino-amazônicos em
Foto: Haroldo Saboia/divulgação Saulo Duarte une tecnologia e ritmos latino-amazônicos em "DIGITAL BELÉM"

Resgatar as raízes para produzir um som autoral, subjetivo e dançante foi a proposta do projeto "Digital Belém", de Saulo Duarte. O artista, que nasceu e morou por 12 anos em Belém do Pará, residiu por seis anos em Fortaleza e, depois, mudou-se para São Paulo, onde está há 18 anos, considera que abraçou sua cigania.

Neste novo disco, o quinto da carreira, Saulo se apropria das referências da infância paraense e de gêneros musicais que marcaram sua vida. "Ele chama 'Digital Belém' exatamente por brincar com os ritmos latino-amazônicos, com elementos digitais", explica.

"Esse disco é um passeio pelas emoções do terceiro mundo, como se eu fosse um andarilho andando pelas periferias e codificando a minha história, já que eu toco com várias pessoas e rodo o Brasil, sendo atravessado pelos artistas que colaboro", destaca o artista em sequência.

O resultado deste trabalho é um atravessamento de muitas vivências pela musicalidade do País, como o tecnobrega, o funk carioca e gêneros periféricos, que passaram a adaptar a criação de canções com o uso de recursos tecnológicos. Em "Digital Belém", as baterias eletrônicas se fazem presente combinadas de ritmos como cumbia, guitarrada e carimbó.

O reggae também está presente como influência sonora e ideológica em toda discografia de Saulo Duarte. A razão para a escolha começou na capital cearense, onde ele conheceu o gênero em meio a uma realidade de vulnerabilidade econômica.

"Minha infância foi na periferia de Belém, e, quando eu me mudei para a Fortaleza, a gente foi para o Montese, depois foi morar no Jardim América, e, depois, em bairros secundários, que não são perto da praia, não são ali nas Aldeotas. A minha vivência sempre foi muito dura. Eu aprendi desde cedo a ser ranzinza, a ser sisudo, a levar tudo ao pé da letra, para um lugar de briga", rememora.

Ele continua: "Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos, ouvi a obra do Bob Marley e entendi que você poderia falar sobre amor e sobre sentimentos de vulnerabilidade com orgulho, com honra. A obra dele é um divisor de águas na minha vida. A minha estética no geral é muito influenciada pela obra do Bob Marley".

Saulo Duarte colabora com Passapusso, Aldo Sena e mais

Para criar "Digital Belém", Saulo pensou que era fundamental fazer parceria com artistas que agregam no trabalho. Ele, então, escolheu colaborar com os artistas Russo Passapusso, Larissa Luz, Aldo Sena, Manoel Cordeiro, Layse e a cantora franco-senegalesa Anaïs Sylla.

"Eu queria muito que tivesse o Aldo Sena, o Manoel Cordeiro e a Laíse. Essas eram as três participações fundamentais, elas fazem o recorte muito bem da produção cultural e musical paraense dos últimos anos. O Aldo Sena é o ato inaugural da guitarrada; o Manuel Cordeiro é um produtor muito importante para a sonoridade pop amazônica dos 1980 porque ele produziu o Beto Barbosa, a Fafá de Belém, o Arilu e tantas outras coisas; e a Laíse é a nova safra da música paraense", explica.

Sobre o elo conceitual das faixas, Saulo afirma que está relacionado com a sua vivência de andarilho e as autodescobertas: "O disco é sobre essa pessoa que está entendendo que está no terceiro mundo, se entendendo também como alguém que, por mais nostalgia que sinta de um lugar, já se está num local diferente".

Lançado em 18 de julho, "Digital Belém" é finalizado quase 12 anos após o seu primeiro trabalho de estúdio, intitulado "Saulo Duarte e a Unidade" (2012). Refletindo sobre os tantos anos de carreira, o artista afirma que sua relação com a música vai muito além de um "ganha-pão".

"Nos momentos de crise, mesmo em crise profunda, eu penso em desistir da carreira porque aqui no Brasil é muito complicado por várias questões, eu penso: 'O que eu vou fazer da minha vida?' E não existe nada, nada que represente o mesmo tamanho e a importância da música para mim. A música foi pano de fundo de transformações pessoais e profissionais", desabafa.

Saulo finaliza: "A música é onde eu sinto que estou contribuindo para a existência da humanidade da melhor forma possível, entregando o melhor de mim. É o que eu amo, é a minha pesquisa, é onde eu vou esmiuçar todo o processo e, dentro dele, vou tirar reflexões, acordes, música".

Digital Belém

Onde ouvir: Spotify, Deezer, Apple Music, Tidal, iTunes Music, Pandora, Youtube Music, Sound Cloud, Amazon Music

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