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Motel Destino: Transando entre o noir e a chanchada
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Motel Destino: Transando entre o noir e a chanchada

Novo longa do diretor Karim Aïnouz, "Motel Destino" traz enredo envolvente com atuações marcantes
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Filme cearense concorreu à Palma de Ouro em Cannes
 (Foto: Maria Lobo/Divulgação)
Foto: Maria Lobo/Divulgação Filme cearense concorreu à Palma de Ouro em Cannes

Quando pensamos em motel, o que vem à cabeça é o quarto com luz intimista que prenuncia a relação carnal íntima. Suor, gemidos, prazer. Mas nunca imaginamos o que acontece por trás da porta que dá acesso aos quartos e todo o "mundo" de pessoas que controlam o funcionamento destes locais cheios de histórias e orgasmos.

É a partir de uma dessas histórias que "Motel Destino" toma forma e rumo. Desde o início, fica clara a assinatura cinematográfica do diretor Karim Aïnouz ("A Vida Invisível", de 2021), que nos apresenta uma espécie de "thriller noir" misturado com pornochanchada.

Heraldo (Iago Xavier), um jovem envolvido com uma facção local, quer deixar o Ceará e morar em São Paulo, onde pretende recomeçar sua vida como mecânico. Porém, Bambina, a líder da facção, só irá autorizar a partida do protagonista caso ele cumpra uma última tarefa. Após falhar na execução desse plano, Heraldo se refugia no Motel Destino, onde conhece Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção), donos do local.

Karim "engana" à primeira vista e faz pensar que o longa vai tratar da perseguição de "gato e rato" de Bambina contra Heraldo. Entretanto, ele apresenta o dia a dia do motel e as relações por trás das cortinas dessa peça quente e colorida.

A fotografia é um dos grandes artifícios da narrativa a partir do uso das luzes e cores dentro dos quartos, fazendo com que eles pareçam estar em outro universo. Quando são utilizadas lentes comuns, o ar de "voyeurismo", ponto recorrente na história, muda completamente. São constantes as cenas vistas através de câmeras de vídeo ou de personagens observando outros, o que mantém certo tom de suspense.

A relação entre os três personagens é muito bem construída e existe um grande contraste entre eles, principalmente entre Elias e Heraldo. Destaque para Fábio Assunção, que consegue transmitir muito bem todas as camadas do personagem de forma bastante gradual.

O mesmo pode ser dito a respeito de Nataly Rocha, que traz muita naturalidade para as situações mais absurdas. Iago Xavier trabalha muito bem quando o assunto é interpretação corporal e entrega um monólogo marcante. Apesar da falta de naturalidade em alguns diálogos, o jovem ator faz um ótimo trabalho em "Motel Destino".

Karim Aïnouz entrega, mais uma vez, um filme com enredo marcante e divertido. A produção nos instiga sobre o desejo de mudança que os personagens buscam ao mesmo tempo que permanecem ali, quase que imóveis. Como se o tempo naquele lugar nunca passasse. Tudo isso ao som abafado de gemidos que transpõem as paredes desse motel que tem muito mais para oferecer do que apenas sexo.

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