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Programação diversa leva músicos à Ibiapaba em busca de formação profissional
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Programação diversa leva músicos à Ibiapaba em busca de formação profissional

Festival MI aposta numa formação ampla de olho na perspectiva profissional dos músicos
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2024_07_27_19 Festival Mi_Escola Modelo_Oficina Orquestra de Cordas_Luiz Alves (Foto: Luiz Alves/ Divulgação
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Foto: Luiz Alves/ Divulgação 2024_07_27_19 Festival Mi_Escola Modelo_Oficina Orquestra de Cordas_Luiz Alves

Há três anos, Liu Man Ying está na coordenação pedagógica do Festival Música na Ibiapaba. Dividindo a função com Leandro Serafim, ela comemora poder trazer um corpo qualificado de professores para participar do evento ao longo de uma semana. "É uma conquista grande a gente conseguir trazer os professores de áreas eruditas para dar aulas de instrumento. A técnica do instrumento é o que vai dar a possibilidade de você trabalhar todos os gêneros musicais. Digamos que a pessoa queira tocar baião ou frevo. Quando estuda a técnica erudita, você fornece a potencialidade e a capacidade, a técnica para que o estudante consiga tocar com afinação, velocidade, com articulação correta, entendendo sotaque, a questão estilística", aponta a violinista que também tocou no festival.

Destacando que no passado havia uma separação entre o erudito e o popular, ela comemora que esses universos hoje se misturem e estejam igualmente presentes em Viçosa. "Essa convivência entre instrumentos ditos sinfônicos, eruditos, com instrumentos tipicamente da música popular, como guitarra, sanfona, é totalmente harmoniosa, porque você vai fazer essa conversa. Realmente são complementares, não são antagônicos. Grandes compositores a gente não consegue definir. Tom Jobim é erudito ou popular? A música popular brasileira é tão complexa, profunda, rica que precisa de um conhecimento básico musical para se tocar. Você precisa estudar ritmo, afinação, harmonia, um programa de estudos como esse que a gente oferece dentro do festival", adianta.

Ela conta que uma das preocupações do MI é oferecer uma formação mais abrangente aos alunos. Por isso, os candidatos que se inscrevem em um curso de instrumento precisam também se inscrever numa prática de grupo. "A aula de instrumento vai trazer a capacitação técnica para que ele consiga desenvolver o que ele quer, que é o repertório do grupo. E tem estudante que nunca tocou em orquestra e não sabe que é importante", explica. Para este ano, foram mais 1300 inscritos concorrendo a 700 vagas - 500 delas com direito a hospedagem e alimentação e 200 só com o acesso às aulas.

Leandro Serafim e Liu Man Ying, coordenadores pedagógicos do 19º Festival MI(Foto: Luiz Alves/ Divulgação)
Foto: Luiz Alves/ Divulgação Leandro Serafim e Liu Man Ying, coordenadores pedagógicos do 19º Festival MI

"A procura é imensa e todo ano é assim. Ou seja, nós temos uma demanda muito grande, temos a vontade - muito grande - desses estudantes de terem acesso. E temos poucas oportunidades. Tomara que o festival possa contagiar o nosso governo, as instâncias competentes de que a gente precisa de mais escolas públicas, mais festivais e mais orquestras. Mais grupos onde esses estudantes possam se espelhar, se inspirar", aspira Liu. Para ela, é fundamental uma cadeia de formação musical, desde a orquestra jovem até a profissional. "Essas orquestras, na verdade, abaixo delas, existe uma grande pirâmide de estudantes que, ao ter aquele alvo lá em cima, ao se inspirarem nessa orquestra profissional, todos vão se envolvendo nas atividades de formação musical, vão participando de orquestras jovens ou de orquestras da escola. E aí a coisa vai crescendo, né?"

Ainda sobre o Festival MI, que se prepara para uma edição de 20 anos, ela acrescenta: "Sempre nos surpreende essa diversidade. É uma conversa, uma troca muito rica de experiências entre os estudantes, entre os grupos. Eles chegam, vêm outros que estão na mesma dificuldade, na mesma situação, você se sente e compreendido. E isso também gera um ânimo".

O jornalista viajou a convite do Festival MI 

Amélia Tarcitano, 12 anos, estuda violino e sonha reger uma orquestra em Milão
Amélia Tarcitano, 12 anos, estuda violino e sonha reger uma orquestra em Milão

"Eu tenho três sonhos"

Amélia Tarsitano, 12 anos, natural de Jijoca de Jericoacoara, estuda na Escola Senador Carlos Jereissati. Aos 10 anos, entrou para o Núcleo de Arte, Educação e Cultura (Naec), onde começou os estudos de violão e violino. A paixão maior veio pelo segundo. "Eu amava tocar o violino e, por sinal, ainda tinha uma orquestra lá", relembra. Depois de muita insistência, o maestro permitiu que ela entrasse para o grupo. Com um mês, ela entrou para o primeiro violino da orquestra.

Com pouco tempo, a orquestra acabou, mas ela saiu em busca de formas de estudar e ainda descobriu novos instrumentos, como o clarinete. A internet foi forte aliada nesse momento, com vídeos no Youtube e partituras online. Hoje ela toca numa banda em Jijoca e um professor indicou a ela o Festival MI. A idade dificultaria a participação, mas ela se inscreveu e, durante uma apresentação da banda, recebeu o resultado de que foi aprovada. "É uma experiência muito incrível conhecer novas pessoas e aprimorar a experiência", fala com os olhos acessos.

"A música faz eu ficar mais calma. Ela está comigo desde que eu sou pequena. Faz parte da minha vida", elabora uma definição a fã de Rita Lee, Beatles, Tom Jobim, Michael Jackson e Paganini. "Eu tenho três sonhos na minha vida: gostaria muito de reger uma orquestra em Milão ou na Suíça, participar de Jogos Olímpicos e estudar Astronomia ou Astronáutica", elenca antes de uma boa risada. Mas ela não estava brincando e nenhum desses sonhos é impossível.

 

Felipe Cazaux e Mimi Rocha em homenagem a Cristiano Pinho
Felipe Cazaux e Mimi Rocha em homenagem a Cristiano Pinho

Palco Cristiano Pinho

Além da agenda formativa, o Festival MI contou com uma programação de shows que acontecia na Praça Clóvis Beviláqua, de frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção. Entre as atrações, a cantora Maken cantou Rita Lee, Ednardo celebrou seus 50 anos de música e cinco guitarristas - Lu D'Sosa, Felipe Cazaux, Mimi Rocha, Alex Ramon e Fernando Catatau - prestaram homenagem a Cristiano Pinho (1964-2024), músico natural de Viçosa homenageado com o nome no palco principal.

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