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Crítica: "Mais Pesado é o Céu" e as consequências do desespero
Vida & Arte

Crítica: "Mais Pesado é o Céu" e as consequências do desespero

Estreia nos cinemas "Mais Pesado é o Céu", do diretor cearense Petrus Cariry; longa mescla a sensação de desespero e o lindo céu azul do Ceará
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Mais Pesado é o Céu ganhou destque no 51º Festival de Cinema de Gramado e Matheus Nachtergaele é um dos protagonitas do longa cearense.   (Foto: Petrus Cariry/ Divulgação)
Foto: Petrus Cariry/ Divulgação Mais Pesado é o Céu ganhou destque no 51º Festival de Cinema de Gramado e Matheus Nachtergaele é um dos protagonitas do longa cearense.

Em 1995, a cidade de Jaguaribara foi tomada pelo açude Castanhão. Todas as cores, risadas, histórias e esperanças que lá viviam foram sufocadas, quase como se toda a alegria daquele lugar fosse destinada às profundezas das águas. Por mais que uma Nova Jaguaribara tenha sido construída, isso não mudará o fato de que uma cidade teve que "morrer" para que outra pudesse "nascer".

É nas margens desse açude que "Mais Pesado é o Céu", novo longa escrito e dirigido por Petrus Cariry, começa a dar seus primeiros passos. Assim como as casas daquele antigo lugar, o filme é completamente sufocado, não por água, mas por desesperança.

Já nos primeiros minutos, o roteiro mostra um pouco da dura realidade da dupla de protagonistas que iremos acompanhar. Antônio (Matheus Nachtergaele), que vive de bicos em busca de dinheiro, precisa limpar a traseira de um caminhão cheio de dejetos de animais em troca de uma simples carona para visitar a cidade em que cresceu.

Enquanto isso, Teresa (Ana Luiza Rios) se arrisca na beira da estrada BR-116 com a esperança de ir até sua cidade natal, onde já foi feliz um dia. Mas, ao chegarem lá, ambos só conseguem sentir o vazio da imensidão das águas que inundaram o local. Até que o choro de uma criança abandonada na beira do açude rompe o silêncio.

Após se conectarem nas margens do Castanhão por meio do recém-nascido, Antônio e Teresa partem em uma jornada que não sai do local. A desesperança está sempre presente nas cenas do longa, quase como se sua presença fosse obrigatória na vida daquelas pessoas. E, mesmo quando conseguem um teto para se abrigar ao fim do dia, o choro de fome da criança sem nome encontrada por Teresa quebra qualquer tipo de perspectiva que possa surgir.

Mesmo usando, em boa parte do tempo, grandes planos abertos que fazem questão de mostrar a imensidão e o azul do céu, o filme é sufocante do início ao fim. E reforça a ideia sempre que possível. Desde o choro constante da criança até o olhar perdido de Teresa após ter que se prostituir para conseguir um pouco de dinheiro para comer.

Situação que, apesar de se repetir diversas vezes durante a trama, escalona de forma gradual até o ápice do desespero vivido por alguém que, infelizmente, passa por esta situação.

"Mais Pesado é o Céu" é daqueles filmes em que a atuação nunca vai ser um problema. Desde o menor figurante até a dupla de protagonistas, as performances são impecáveis.

Matheus Nachtergaele traz um Antônio quase enigmático, que, apesar de transparecer bondade, nos faz pensar o porquê de ele não expressar o real motivo de acompanhar a sua, agora, companheira. Além de servir muito bem como apoio à verdadeira estrela desta jornada de desesperança: Teresa.

Ana Luiza Rios é, sem dúvidas, o destaque do longa. O roteiro muito bem escrito para sua personagem só ajuda a atriz a alcançar esse êxito durante o longa. Enquanto Antônio, mesmo com os obstáculos, pode ser visto como a ponta otimista do filme, Teresa é a voz dura e seca da razão. "Quer sonhar?", pergunta ela em dado momento do filme. Quando escuta o "sim" como resposta, rebate: "Então vamos dormir, porque amanhã é outro dia".

"Mais Pesado É o Céu"

  • Quando: a partir de quinta-feira, 8
  • Onde: Ingresso.com

 

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