Criada especificamente para o público brasileiro, chega a Fortaleza a exposição coletiva "Atrás da Grande Muralha - Nova Arte Chinesa e Brasileira", que traz elementos da diversidade artística contemporânea chinesa para a cidade. O projeto, que tem curadoria de Clay D'Paula, reúne o trabalho de artistas da China e do Brasil, que se misturam esteticamente ao abordar a ancestralidade.
Clay D'Paula afirma que a escolha do tema da mostra foi por acreditar que os artistas chineses utilizam, em suas produções artísticas, elementos tradicionais da própria cultura, como, por exemplo, a tinta chinesa, a caligrafia, e nos perceptíveis vestígios da pintura realista socialista. Essas ferramentas, para ele, são utilizadas para criar obras criativas e impactantes, que se voltam para questões atuais e globais. Entre os problemas retratados, é possível perceber esteticamente a pandemia da Covid-19, as desigualdades da globalização, a fragilidade da matéria, problemas ambientais, a hipocrisia humana e o território estreito e desolador do preconceito.
"Achei apropriado o tema porque conhecemos muito pouco da produção contemporânea chinesa. Já tivemos a oportunidade de ter várias exposições de pinturas tradicionais, voltadas para a paisagem e repletas de caligrafia, a mais alta expressão artística do povo chinês. Mas esta exposição nos presenteia com obras contemporâneas e com uma linguagem mais atual", declara Clay.
O curador destaca ainda: "Podemos apreciar obras que estão sendo criadas no momento na China com uma linguagem moderna. Mas é importante ressaltar que essas obras, mesmo sendo contemporâneas, carregam elementos tradicionais da cultura local, como a tinta chinesa e a caligrafia. E é justamente isso que difere a produção artística chinesa de outras partes do mundo. Os artistas criam obras contemporâneas, mas sempre revisitando o passado. Ou seja, o passado vive no Brasil".
A mostra, para além das pinturas, traz obras em vários suportes, como caligrafia sobre quadros modernos, pinturas com tinta chinesa, acrílica e a óleo, fotografias e esculturas.
O artista plástico Sérgio Helle, de Fortaleza, é um dos que estão com trabalhos expostos na mostra "Atrás da Grande Muralha - Nova Arte Chinesa e Brasileira", que está disponível no Centro Cultural Banco do Nordeste. Fazendo uma ponte entre o Ceará e a China, ele criou a obra "Mar Ancestral", onde reflete as confluências entre os países por meio da ancestralidade.
O cearense conta que viajou com a jornalista Isabel Gurgel para a região do Cariri cearense em busca de "voltar às suas origens": "A gente passou uma semana visitando os sítios arqueológicos, que ficam em cinco cidades da região do Cariri. Quando eu voltei, estava com muito material para trabalhar sobre a região. De uma certa forma, era até ampliando esse ciclo de vida, como uma região que se modificou totalmente".
Sérgio Helle explica que a relação de sua obra com a China está na ancestralidade, pois foram nas pesquisas arqueológicas que ele viu a relação entre os dois países: "Eu encontrei o link de um trabalho que eu já vinha fazendo sobre os fósseis do Cariri, sobre esse registro de vida que deixou, com a China, uma planta que só existia lá. Então, por essa fala de que a gente tem ligações, de que a gente tem passado, a gente faz parte da mesma origem".
O artista caririense, que nasceu no Crato, finaliza com reflexão sobre as culturas chinesas e brasileiras. "Apesar das distâncias linguísticas, culturais e geográficas, temos as mesmas origens e partilhamos juntos dessa existência", diz.
Atrás da Grande Muralha - Nova Arte Chinesa e Brasileira