Logo O POVO+
'É Assim Que Acaba': filme debate sobre relacionamentos abusivos
Vida & Arte

'É Assim Que Acaba': filme debate sobre relacionamentos abusivos

Crítica | Best seller nas livrarias, "É Assim Que Acaba" ganha adaptação fiel com atuações convincentes e debates sobre os traumas dos relacionamentos abusivos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Filme
Foto: Sony Pictures/ Divulgação Filme "É Assim Que Acaba" é estrelado por Blake Lively e Justin Baldoni

Com mais de dois milhões de cópias vendidas do Brasil, o best-seller da norte-americana Coollen Hoover, também queridinho dos leitores usuários do TikTok, "É Assim Que Acaba", ganhou as telas. Na última quinta-feira, 8, a adaptação estrelada por Blake Lively, Justin Baldoni e Brandon Sklenar foi oficialmente lançada para os cinemas de todo o mundo.

Em 2 horas e 10 minutos, o filme apresenta a turbulenta dinâmica dos relacionamentos de Lily Bloom (Blake Lively) com o neurocirurgião Ryle Kincaid (Justin Baldoni) e com o chef gastronômico Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), enquanto aborda temas sensíveis como relacionamento abusivo, violência doméstica e tentativa de estupro.

A adaptação é claramente feita para agradar a ampla comunidade de fãs do livro e da autora, e não ousa em empregar nada além do que está escrito nas páginas já divulgadas em 2016 por Coollen. Mas deve emocionar os telespectadores gerais do meio para o fim da história pela narrativa que emprega.

O começo, ainda que seja fiel à essência da obra inicial, poderia ser mais rápido ou mais profundo, prendendo melhor as emoções e a atenção do telespectador. Em quase uma hora de filme, já era possível entender, por exemplo, o desenvolvimento de Lily e Atlas quando ele era uma pessoa em situação de vulnerabilidade social. Mas a história mais parecia em seus prólogos e ainda muito distante dos plots e reviravoltas do clímax.

Apesar disso, a narração não pecou, principalmente quando a personagem Lily diz que "não é uma narradora confiável", ainda que a história não seja contada em primeira pessoa. Posteriormente, fica bem óbvio o motivo da fala em conexão com a maneira com a qual a personagem capta os traumas vividos.

Em relação ao elenco, as atuações são convincentes, mesmo tendo nomes desconhecidos. Entre os personagens secundários, destaque principalmente para Isabela Ferrer, que, interpretando a versão mais jovem de Lily, conseguiu captar todos os trejeitos da versão adulta. Até a voz! E Jenny Slate, que conseguiu pegar de maneira primorosa todos os pontos da Allysa, irmã de Ryle e querida melhor amiga de Lily. A ambientação do filme também é muito boa. Nenhum ambiente pareceu fugir ao que se esperava lendo o livro.

 

A dor da violência

Para além da parte romântica, "É Assim que Acaba" se tornou uma febre entre pessoas de diferentes idades por mostrar verdades nuas e cruas sobre violência doméstica e relacionamento abusivo. Na vida real, assim como no filme, "o lobo não deixa de voltar a ter pele de cordeiro" após mostrar pela primeira vez que é lobo e nisso a obra de Coollen Hoover é justa.

Tanto o filme quanto a série abordam como é difícil enxergar-se em uma dinâmica de violência e, principalmente, sair dela quando se cresce aprendendo a dar segundas chances. Em uma atuação tocante, Blake Lively soube explorar as dores e os pensamentos de Lily em relação a acabar com um ciclo de violência sem que palavras fossem ditas.

Há ainda a presença de personagens secundários que fortalecem essa narrativa. Apesar da ausência dos amigos de Atlas, Alyssa (Jenny Slate) é um dos pontos altos do filme em geral. Além de ser ponto central do humor da história quando ela ainda é uma história feliz, ela ajuda a direcionar uma mulher para fora de um ciclo negativo quando tudo que ela precisa é sair, sem titubear.

Jenny Slate e Blake Lively em 'É assim eu acaba'
Jenny Slate e Blake Lively em 'É assim eu acaba'

O que faltou na adaptação

Atenção: a parte a seguir pode conter spoilers

Assim como qualquer adaptação, alguns momentos do livro "É assim que Acaba" ficaram de fora das telas ou foram apresentados de maneira mais superficial do que deveria. É o caso da formação da personalidade da personagem principal, Lily, nas cenas da adolescência. O filme até chega a apresentar o diário que ela mantinha, que escrevia como se estivesse contando tudo que ocorreu para a apresentadora Elle DeGeneres, mas esse ponto não é explorado.

No livro, os diários têm um protagonismo maior que a matéria da revista na cena em que um Ryle descobre sobre os sentimentos de Lily por Atlas. No filme, pela ausência do elemento, ficou a cargo da personagem verbalizar isso, quando na obra inicial é importante que o plot tenha surgido da leitura dos diários não só por ser algo mais profundo, mas também por se ver o Ryle atravessando mais uma barreira de toxicidade ao invadir ainda mais a privacidade da esposa.

Além disso, ainda que Blake Lively tenha feito todo o marketing do filme ao lado de Brandon Sklenar, fica pouco explícito a ligação dos dois personagens como adultos. No momento em que Lily mais precisa, Atlas está lá e a conexão entre eles ainda existe. Mas parece que ele está pela ligação anterior deles, da adolescência em que viveram um romance, e pela esperança de um futuro juntos. É palpável que os dois possuem um sentimento um pelo outro, mas faltou explorar de fato que eles se davam bem para além do superficial.

É provável que tenham feito assim pela expectativa da produção de um segundo filme, derivado do livro "É Assim que Começa". Mas dava para se manter uma possibilidade de uma segunda obra aprofundando o relacionamento dos dois a partir do primeiro filme. E, de todo modo, a ligação entre os dois não se perde.

"É Assim Que Acaba"

Onde e quando: Ingresso.com

O que você achou desse conteúdo?