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O único filme cearense no Festival de Gramado
Vida & Arte

O único filme cearense no Festival de Gramado

Dirigido por Lis Paim, "Fenda" é o único filme com produção cearense no Festival de Gramado; evento também destaca "Pasárgada", com Dira Paes e Fafá de Belém
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Foto: Reprodução/52º Festival de Cinema de Gramado Filme "Fenda" foi exibido na terça-feira, 13

Ainda em junho, foi recebida com estranheza a informação de que os curtas-metragens brasileiros não seriam exibidos de forma presencial no 52º Festival de Cinema de Gramado. A organização do evento alegou os desafios logísticos de trazer todos os convidados para a cidade devido a paralisação do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. O anúncio de parceria para exibição com exclusividade no Canal Brasil, porém, não agradou os realizadores, o que acabou revertendo a decisão.

Na noite de terça-feira, 13, o segundo bloco de filmes da mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros exibiu o único cearense nesta edição: "Fenda", de Lis Paim. No palco, ela celebrou a oportunidade de estrear sua primeira direção de ficção no festival e agradeceu sua equipe.

"É um filme entre o Ceará e a Bahia. A ideia surgiu do desejo de ter um filme protagonizado por mulheres negras, entre a maturidade e a velhice, numa história que veio aparecendo a partir de uma experiencia pessoal de família depois do falecimento da minha avó aos 100 anos", comentou para apresentar a obra.

Ainda na primeira cena, a ideia da fenda alcançou a plateia quando surge um rasgo que divide a película da janela do carro ao meio, sugerindo os conflitos que surgiriam a seguir. Interpretada por Noélia Montanhas com uma simpatia contagiante, Diná visita sua filha Marta, uma cientista botânica que vive numa casa labiríntica permeada de plantas. Na feição do seu rosto, Edvana Carvalho imprime um mal-estar concreto. O que está no passado das duas que não conseguimos ver? É a questão que segura a projeção até o fim.

O filme tem fotografia de Petrus Cariry, autor prolífico do cinema cearense que está atualmente em cartaz com "Mais Pesado é o Céu", protagonizado por Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios. No curta, a imagem sempre radiante com cores vivas não é a tradução de uma felicidade plena, mas de uma dúvida que, mesmo tão áspera, é permeada de carinho.

"É um filme que fala também das fissuras sociais no Brasil, um país profundamente desigual. Tentamos olhar isso de uma perspectiva mais intima, de como essas fissuras atravessam nossas casas, nossas famílias,
e também o tempo", conclui a diretora.

*O repórter viajou a convite do Festival de Gramado

 

Atriz, roteirista e diretora Dira Paes com a atriz e cantora Fafá de Belém, do longa-metragem brasileiro
Atriz, roteirista e diretora Dira Paes com a atriz e cantora Fafá de Belém, do longa-metragem brasileiro "Pasargada"

Dira Paes e Fafá de Belém escutam os sons da floresta

"Eu tenho a cara do Pará, o calor do Tarubá. Um Uirapuru que sonha. Sou muito mais... Eu sou Amazônia", cantou Fafá de Belém no palco do 52º Festival de Gramado na terça-feira, 13, para homenagear Dira Paes, ao seu lado, que naquela noite apresentaria pela primeira vez um longa-metragem como diretora. Com a forte presença que já conhecemos bem, sua voz à capela ecoou com potência pelo Palácio dos Festivais, sintonizando a plateia que logo mais seria mergulhada em imagens e sons da floresta.

"É uma honra estar aqui ao lado dela. Foi uma coincidência de últimos momentos, uma confluência para nós estarmos aqui juntas", comentou Dira sobre a preciosidade do momento. Fafá usava cadeira de rodas porque ainda estava se recuperando de uma fratura na perna após um acidente doméstico. No filme tocam duas músicas interpretadas pela cantora paraense.

Apesar da cidade natal das autoras e das referências da canção, a história do filme "Pasárgada" se passa na Mata Atlântica do Rio de Janeiro, longe das grandes cidades, rimando com a relação que o Pará tem com sua Amazônia. Dira Paes interpreta uma ornitóloga que se vê dividida entre um conflito ético e o respeito que ela acredita ter pela ancestralidade,
enquanto procura por pássaros raros que se escondem pelas matas virgens.

Em cena, Dira reforça a excelência do seu trabalho construído ao longo de uma carreira sólida. Mesmo maravilhada com a diversidade de espécies que encontra, às vezes emocionada com o que vê e escuta, há angústia e tensão que nunca saem do rosto da sua personagem, e que nos anuncia muito cedo o que está errado nessa busca.

Guiando as transformações do enredo, ela divide sua presença com outra mais quieta, a de Humberto Carrão, que aparece em cena quase irreconhecível. Na pele de um "mateiro" que nasceu ali e fala a língua dos pássaros, seu trabalho corporal e de fala consegue ser muito distante dos trabalhos anteriores, fugindo também da caricatura que seria óbvia na imagem de um "homem rural".

"Ver é ouvir de olhos fechados. A mata é feminina. O filme observa essa mulher em desarmonia, penetrando em si mesma. No começo não queria que houvesse músicas, mas precisei também desse elemento para esquentar e para sublinhar algumas coisas", comentou Dira sobre o processo de criação.

Projetando uma denúncia sobre o crescente tráfico de animais silvestres no Brasil, "Pasárgada" pega emprestado a palavra do poema de Manuel Bandeira para construir a contradição que é seu grande drama central, a de que os agentes dessa rede criminosa entendem muito bem por que a natureza desses bichos provoca tanta beleza. A produção está prevista para estrear no dia 26 de setembro nos cinemas.

 

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