Após temporada dedicada à TV e ao audiovisual, o ator Silvero Pereira retorna aos palcos de Fortaleza para apresentar o espetáculo "Pequeno Monstro", que aborda a violência sofrida pelas populações LGBTQIA desde a infância. É na postura de quem conseguiu superar as expectativas para um homem gay do interior do Estado que o multiartista realiza o solo, com relatos de episódios de homofobia e bullying.
"'Pequeno Monstro' não é uma peça totalmente sobre a minha história. É sobre a situação real das violências LGBTQIA sofridas na infância, que eu, enquanto uma figura LGBTQIA+, (também) passei", afirma Silvero.
Ele conta que passou por "diversas violências verbais" durante os anos 1980 e 1990. Os ataques desencadearam traumas na vida adulta e precisaram ser tratados em acompanhamento psicológico. "E quando não se pode fazer isso, não se tem condições de fazer isso (acompanhamento psicológico)? A gente precisa entender sobre uma sociedade extremamente violenta, que não respeita a diversidade e que precisa, principalmente, olhar para as crianças. Afinal de contas, a criança de hoje é o futuro de amanhã", constata.
"A gente precisa proteger essas crianças, permitir que elas tenham liberdade de pensar e agir, com todo o cuidado que se possa ter, mas não interferir nos seus desejos e vontades, na sua forma de construir a sua maneira de pensar e ser feliz", defende.
O ator, natural de Mombaça e residente do Rio de Janeiro, aponta a importância de voltar para seu Estado com o trabalho: "Sou dessa geração que insiste que a gente não precisa sair da nossa terra, da nossa origem, para construir uma carreira, principalmente quando a gente é reconhecido no nosso lugar. É muito importante que o público esteja presente, porque isso só fortalece o meu desejo de continuar produzindo arte na minha cidade", continua.
Silvero explica que a produção busca atingir, principalmente, pessoas que não sofrem com as violências narradas na montagem. "Essas violências são culpa da gente, não é o nosso nicho que tem que falar sobre isso. A gente quer rasgar o verbo, falar sobre essas coisas para que elas não sejam mais veladas, queremos quebrar esse muro e fazer as pessoas enxergarem o que tem depois dele", destaca.
O ator argumenta que foi em busca de retratar esse tema em seu solo após um resgate da própria vida e da relação ancestral da família. Para ele, os problemas relatados em cena continuam se repetindo, principalmente na vida de homens gays.
"Vou lembrando de situações que aconteceram comigo e, quando olho para a sociedade atual, percebo que ainda se repetem".
O espetáculo possui duas "músicas chaves" para o seu desenvolvimento, uma criada pela própria diretora, Andreia Pires, e uma releitura do clássico "Fera Ferida", de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Segundo Silvero, as canções fazem parte da narrativa e representam pontos altos da montagem. A canção adaptada, por exemplo, ganha versos modificados na voz do ator: "Eu sou uma fera ferida/ No corpo, na alma/ E, para isso, não tem solução".
"É uma música que fala sobre amor, mas, dentro da estrutura em que a gente colocou na peça, ela denuncia esse lugar de alguém que se sente fora da sociedade cheia de normas. 'O coração perdoa, mas não esquece à toa' é uma das frases mais importantes", conta.
Para além dessa peça, Silvero Pereira vive um momento de grandes oportunidades profissionais e está engajado com diversas outras linguagens artísticas. Recentemente, o ator, que esteve em destaque nas telenovelas "A Força do Querer" e "Pantanal", da Rede Globo, divide sua agenda entre teatro, TV e música.
"Hoje eu me defino como multiartista. Eu consigo não só transitar, como consigo organizar muito bem todos esses setores. Eu acabei de lançar um projeto extremamente importante porque faz parte do meu show que está circulando, que é o 'Silvero Interpreta Belchior'. Na televisão, eu começo a entrar numa nova fase como apresentador do reality 'Estrela da Casa'. Além disso, em outubro, estreia o filme 'Maníaco do Parque'", anuncia.
Pequeno Monstro