As diversas cores das flores do jardim cultivado em casa inspiraram Roberto Galvão a criar telas inéditas brincando com paletas distintas. As obras serão exibidas pela primeira vez ao público na exposição "Sertão Galvão", que celebra os 60 anos de carreira do artista plástico. A abertura acontece neste sábado, 24, às 10 horas, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. A mostra é inteiramente gratuita.
Para Galvão, a mostra é um modo de mostrar às pessoas que permanece na ativa. “Quando as pessoas se aposentam, elas querem ficar mais quietas, ociosas. Mas no meu caso, me senti mais produtivo e com mais vontade de criar coisas novas”, explica Galvão, cuja rotina é preenchida por pinceladas de manhã, de tarde, de noite. “Pinto até de madrugada. É algo que me acalma”, brinca.
O museólogo Saulo Moreno é o curador responsável pela exibição. A proposta inicial era realizar uma retrospectiva, no entanto, como Roberto segue produzindo no presente, a ideia foi deixada de lado. “Considerando o número significativo de obras do artista na coleção do Mauc, acrescida recentemente de generosa doação de um conjunto da série Mato Branco, apresentada no museu em exposição homônima realizada em 2019”.
“Ater-se à sua obra contemporânea é a melhor forma de celebrar a sua vida e a sua carreira, com contribuições tão fecundas e duradouras para o campo artístico cearense e nacional”, pontua o curador. Fugir de uma exposição que fosse uma retrospectiva foi uma exigência do próprio artista plástico.
“A visão de uma retrospectiva requer uma análise mais detalhada da obra como um todo, então imagino sempre que uma retrospectiva legal é com carreira finalizada. Para mim não faz sentido no momento porque ando produzindo mais e sempre produzi, tenho obras que ainda não foram vistas”, explica Roberto Galvão.
Saulo argumenta que “Sertão Galvão” é um encontro com um artista que ainda está explorando modos diversos de fazer arte. “Assim, a curadoria está fundamentada nesse universo de obras produzidas nos últimos anos e, ao mesmo tempo, busca conectar diferentes temporalidades de sua trajetória, a partir de fragmentos de memória que o Mauc preserva em seu Arquivo Histórico e Institucional”.
“Serão apresentados ao público recortes de jornais, catálogos, convites para exposições e fotografias que documentam uma trajetória partilhada entre o artista e o museu há mais de 50 anos, além de exemplares de sua vasta produção bibliográfica, aspectos que permitirão uma visão alargada sobre as suas contribuições nos campos da arte, da cultura e da ciência”, detalha o museólogo.
Os quadros a serem apresentados na exibição foram inspirados pelas flores cultivadas na casa que Roberto divide com a esposa Lúcia Helena Galvão. Durante a pandemia, transformar as plantas em uma de suas obras era um dos modos que o artista encontrava para passar o tempo. Foi um período em que o olhar artístico de Galvão também foi se modificando.
“A pandemia mudou muito a minha maneira de ver as coisas. Como ficava mais tempo em casa, por causa do isolamento social, passei a olhar mais detalhadamente as coisas que me cercam na minha casa. Coisas que não costumava dar importância, como uma florzinha pequenininha que era tão linda, que tentei transformar em algo que fizesse jus aquela beleza”, ilustra Roberto, que também ficou fascinado pelas cores presentes no jardim.
“As flores tem um colorido exuberante. Quando pensamos em sertão fica limitado a uma paleta restrita de marrom. Mas na verdade, existem flores bonitas e coloridas no sertão, que passam despercebidas pela representação usual”, conta Roberto. Além da presença de cores, a exibição pretende provocar reflexões no público.
“O artista nos toca pela elaboração cuidadosa e minuciosa de cada obra, apresentando ao público um jardim aberto ao sonho e à impregnação dos sentidos. ‘Sertão Galvão’ é um convite ao deleite estético, mas também à reflexão e à crítica”, destaca o curador e museólogo Saulo.
“O seu grande diferencial é apresentar ao público um artista com vasta experiência e trajetória que não cessa de nos presentear com sua capacidade inventiva e criadora, convidando-nos a olhar o mundo por outros recortes e possibilidades. É polinizar com arte, matriz do infindável desejo por construir novos mundos e realidades, tão próprio ao fazer daqueles e daquelas que chamamos artistas”, finaliza o museólogo da exposição.
Mostra "Sertão Galvão"