O professor, artista, pesquisador e colunista do O POVO, Lúcio Flávio Gondim, lança no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) nesta quinta-feira, 29, o projeto literário e audiovisual “24”. O lançamento ocorre às 19 horas, com presença do autor e mediação da escritora Tércia Montenegro. O acesso é gratuito e o livro estará à venda por R$ 49,90.
A partir de 12 contos autorais e 12 crônicas, o livro propõe debates em torno de figuras LBGTQIA+ de Fortaleza e do Ceará - “cujos corpos e identidades desviantes reelaborar as narrativas convencionais de suas existências”. O projeto foi aprovado no edital voltado à comunidade LGBTQIA+ da Secretaria da Cultura de Fortaleza por meio da Lei Paulo Gustavo.
Nas palavras de Lúcio Flávio Gondim, o livro “é uma combinação de várias possibilidades de trabalho com a palavra”, sendo a junção do autor enquanto ficcionista, pesquisador e até “possível jornalista”. A ideia surgiu a partir dos seus dois livros anteriores - sendo um resultado da dissertação de mestrado e o outro produto do doutorado.
O desejo era escrever um livro que agregasse essas frentes e contemplasse a população LGBTQIA+ no Ceará. Para Gondim, existe uma “dificuldade de memória” e de referências na comunidade.
“Há, entre os homens gays, mas também em relação às outras siglas, uma dificuldade grande de memória, de termos referências, o que chamamos de ancestralidade. Conquistas teóricas são observadas nos movimentos feministas e negros, mas na comunidade LGBTQIA+ isso ainda não é uma realidade”, explica.
Ele elenca possíveis motivos para essa situação, como “precariedade de muitas vidas LGBTQIA, pouca inserção no mercado de trabalho — levando a uma precarização dos estudos — e até uma hiperssexualização”. “A ideia da leitura, da escuta, da conversa e da profundidade é muito distanciada. Precisamos fazer as pessoas conhecerem melhor como chegamos até aqui”, afirma.
Assim, o livro aborda 12 personalidades do Ceará em várias frentes, como no humor, na política, na educação e na cultura. Lúcio Flávio Gondim também leva ao leitor 12 histórias ficcionais “dessas diferentes siglas, com diferentes maneiras de amar, de se relacionar e de estar em sociedade.
A construção da obra passa também por “duas inspirações diretas”, sendo uma delas o livro “Amora”, de Natália Borges Polesso, que venceu o Prêmio Jabuti em 2016 e reúne histórias sobre relacionamentos lésbicos. Nesse caso, Lúcio Flávio refletiu sobre a dificuldade das “outras siglas” terem maior dificuldade de contar esses afetos e narrativas.
Outra inspiração foi o livro “Devassos no Paraíso”, de João Silvério Trevisan, que realiza um estudo pioneiro sobre a homoafetividade no Brasil. Ao desejo de compartilhar narrativas do seu repertório foi somada a necessidade de tratar do assunto em meio à constatação de que, pelo terceiro ano consecutivo, o Ceará foi o estado brasileiro que mais registrou homicídios contra a população LGBTQIA+, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública.
O projeto do livro também se estende para o audiovisual, composto por série de vídeos publicados no YouTube com entrevistas com diferentes personalidades. Dentro de “24” há um QR code que redireciona os leitores à plataforma, como um mecanismo de “retroalimentação” do conceito de literatura expandida trabalhado pelo autor.
As homenagens ocorrem por meio de perfis. Cada um dos 12 contos é dedicado a uma pessoa importante para a comunidade LGBTQIA+ no Estado e, no final de cada texto, há uma apresentação biográfica dessas pessoas, com comentários em formato de crônicas.
São destacadas as trajetórias de Lena Oxa, Leonilson, Thina Rodrigues, Janaína Dutra, Faela Maya, Max Petterson, Paulo Diógenes, Alice Oliveira, Jonathann Kiss, Stenio Gardel, Silvero Pereira e Dandara dos Santos. “Acho que é uma mescla bastante interessante e que pode render algumas discussões e pensamentos”, compreende.
Lúcio Flávio Gondim espera que o livro seja “uma primeira ferramenta de aproximação entre pessoas”. “Precisamos ter mais livros assim. Citei o ‘Amora’, do Rio Grande do Sul, que chegou a mim porque ganhou um prêmio nacional, mas quantos livros são escritos e acabam não chegando até nós?”, reflete.
Ele acrescenta: “São discussões que temos que fazer em sociedade, sobretudo em um tempo como esse, em que são necessários livros para podermos disputar pelo menos um pouco da atenção das pessoas”.
Lançamento de "24"