As memórias partilhadas pelo casal formado pela atriz Cássia Damasceno e o cineasta Aristeu Araújo foram o mote para a criação do monólogo “Três Luzes”, que será apresentado na Caixa Cultural Fortaleza de 29 de agosto a 1º de setembro. A montagem acompanha uma mulher que fica presa no elevador durante um blecaute e passa a refletir sobre memórias de família.
“Nós começamos a escrever na pandemia quando a gente estava sem saber o que fazer da vida, presos dentro de um apartamento. Eu compartilhei a história do meu pai e Aristeu compartilhou a história da mãe dele num determinado momento da nossa relação e na pandemia a gente resolveu colocar isso para pensar nisso no teatro” relembra a atriz paranaense.
Embora o texto tenha sido produzido durante a pandemia, em 2020, Damasceno pontua que a produção não se relaciona com o contexto da época. “Nós nos desdobramos em pensar sobre os anseios sonhos e medos de todos os pais e mães do mundo porque a gente parte dos nossos pais, de questões que eles viveram”, explica a artista.
Cássia destaca que as memórias compartilhadas são um ponto de identificação para quem já assistiu a peça.”Sempre tem alguém no final do espetáculo que fala ‘isso também aconteceu comigo’, ou ‘eu conheço uma pessoa que passou por isso’”. Uma das histórias presentes na trama é focada em uma mãe que tem o sonho de morar em uma casa com energia elétrica.
“Ela passou a infância dela inteira numa cidade no interior do Rio Grande do Norte, sem energia. Então dava 6 horas da tarde, ficava tudo escuro. E aí eu desejo dela era um dia ter energia elétrica em casa. Levou muito tempo para ela conquistar isso e é uma memória que surge durante o blecaute”, ilustra a atriz.
Além da ausência de luz, o cabelo é outro recurso narrativo de “Três Luzes”. Damasceno usa um penteado com tranças e muitos cachos para pontuar as questões de raça visualmente. “O fato de querer um cabelo gigante tem a ver também com apagamento, porque as crianças negras tinham que prender os cabelos porque atrapalha a visão de quem tá atrás ou porque é feio. Então assim, eu quero esse cabelo e ele vai ser a primeira coisa que o público vai ver quando eu entrar em cena”.
Monólogo "Três Luzes"