O Museu da Imagem e do Som do Ceará recebe neste sábado, 31, e domingo, 1º, a mostra "Ocupa MIS 2023", aberta para visitação do público das 18 às 20 horas. Serão expostas dez obras de artistas locais, realizadas a partir do edital "Ocupa MIS - Multilinguagem 2023".
Com fotografias, videografias, instalações sonoras e imersivas - os trabalhos que serão expostos poderão ser encontrados em diferentes linguagens artísticas, escolhidas a partir da proposta de pesquisa de cada autor.
Wellington Gadelha, por exemplo, quando iniciou a pesquisa da obra "Manifesto do Sonho", ainda durante a pandemia de Covid-19, escolheu como primeiro suporte para recebê-la um vídeo. Para o Ocupa MIS 2023, no entanto, ela foi desenvolvida como uma instalação sonora.
"Gostaria de trazer o trabalho para uma perspectiva micro, sútil, relacional. Ela terá um dispositivo instalativo que tem carga política e estética, e, muito influenciado pelos estudos de Lígia Clark que ela fala de objetos relacionais, decidi materializar o desejo de relação também enquanto um sonho", explica.
Para montar sua ideia, o artista utiliza mochilas de entregadores de aplicativo, que no Museu se tornarão mochilas sonoras — elas serão a instalação. A ideia do artista é fazer com que o público se relacione com "uma materialidade de outro lugar", diferente das "circunstâncias que habitualmente ele enxerga na mochila sonora". "Assim, sair um pouco das telas, mas continuar no exercício de produzir uma imagem sonora com o objeto, tem me chegado forte neste trabalho", continua.
Aqueles que visitarem a instalação terão contato com "uma camada sensorial e sonora", que passa por "beats, sons orgânicos e uso de tecnologias e técnicas de eletroacústica", desenvolvida por Wellington em parceria com os artistas Emiciomar e Eric Barbosa. "Som também é materialidade nesta instalação sonora. Som também tem sido meu corpo na obra", sustenta.
Antes de qualquer mensagem que pretende passar por meio da obra, o artista deseja que as pessoas a vejam, escutem e se aproximem. "Quando falo que quero desarmar os dispositivos de urgências com este trabalho, é no sentido de gerar outro regime de temporalidade e relação das pessoas com a instalação sonora".
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E completa: "Além disso, claro, que as pessoas pensem com o seu (próprio) conteúdo quais são seus assombros, e como, a partir dos sonhos, se constrói uma contra narrativa. Temos sonhado pouco e acredito fielmente que é no sonho o lugar em que os assombros não entram. Falo do sonho no sentido de perspectivar, criar, inventar".
Na obra "Memórias da Terra Livre", as fotografias e videografias apresentarão uma proposta e pesquisa totalmente diferentes. O projeto nasceu em 2017, com Iago Barreto e Climério Anacé acompanhando o movimento indígena cearense e sua participação no Acampamento Terra Livre, um encontro nacional de lideranças indígenas.
Ocupando a fachada do anexo do Museu, os pesquisadores unem os textos de Climério com fotos de Iago e de mais quatro fotógrafas indígenas: Clara Kanindé, Débora Anacé, Yakecan Potyguara e Acauã Pitaguary — esta última após conseguir autorização da família, pois ela já faleceu.
"É muito importante o MIS ter dado abertura para esse processo, mas sabendo que ele é só mais uma frente entre várias lutas que estão acontecendo de ocupação, processo de reconhecimento e retomada de espaço", afirma Iago.
E continua: "Acho que também é um bom momento para o MIS avaliar um edital específico para povos indígenas, ainda mais (para) um Estado que tem tanta escola de cinema indígena. Tem a Brotar Cinema, a Maã Makú, a Escola de Cinema Kariri e a Escola de Cinema Jenipapo-Kanindé".
O indigenista afirma que uma reflexão com a obra é a descentralização dos espaços, não apenas pela a exposição no Museu, mas também para chamar atenção para "o que está acontecendo de crimes contra os povos indígenas no próprio Ceará", como os avanços da termelétrica no povo Anacé e invasões territoriais de empreendimentos no povo Tapeba.
"Tentamos trazer a reflexão de que: 'Nossa, essas situações estão até perto de nós'. Embora seja um trabalho que fala sobre a ida para Brasília, é muito sobre essa resistência do Ceará, que vai para todo canto e no próprio Estado às vezes não é reconhecida", aponta.
E conclui: "A Fepoince (Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará) é uma organização muito bonita, que junta todas as etnias do Ceará e alcança coisas que pareciam impossíveis 20 anos atrás. Acredito que existe um futuro esperançoso, apesar dos ataques".
Ocupa MIS 2023