O romancista Miguel de Cervantes (1547 - 1616) é o responsável por uma das obras mais lidas do mundo: "Dom Quixote", lançada em 1605. A história funciona como uma sátira da época, narrando as aventuras de Dom Quixote, homem de meia-idade que, de tanto ler romances de cavalaria, decide se tornar um cavaleiro andante.
A obra ganha uma leitura nacional protagonizada pelos atores Leonardo Brício (Dom Quixote) e Kadu Garcia (Sancho Pança), com direção de Fernando Philbert e produção de Carlos Grun. O espetáculo chega a Fortaleza nesta quinta-feira, 5, e fica em cartaz na Caixa Cultural até 15 de setembro. Serão dez apresentações nesta temporada, realizadas às quintas, sextas, sábados e domingos.
LEIA TAMBÉM | Programe-se: confira a agenda cultural desta quinta-feira, 5 de agosto (05/08)
O dramaturgo Geraldo Carneiro é o responsável por fazer a releitura do clássico literário, que tem 126 capítulos divididos em duas partes. Entre os temas da montagem teatral, serão abordados os desafios e perigos contemporâneos enfrentados por Dom Quixote em grandes metrópoles, tendo que sobreviver em meio a superpopulação e aos smartphones que caracterizam a atualidade.
"Dentro da mente sonhadora e às vezes delirante, Quixote enxerga dragões e vilões durante suas caminhadas", descreve Leonardo Brício. Para ele, a peça é o somatório dessas aventuras e reflete a construção da conexão entre os dois personagens.
Vale ressaltar que quase tudo na jornada do personagem é fruto da imaginação, como a luta contra moinhos de vento e a incessante busca pela amada Dulcineia. Brício conta que o maior desafio para dar vida ao protagonista foi encontrar o Quixote possível dentro da própria identidade. "Me identifico com seu lado extremamente sonhador, romântico e, ao mesmo tempo, aventureiro", pondera.
Leonardo também ressalta o trabalho ao lado do ator Kadu Garcia e enfatiza como essa parceria está sendo interessante. "Teatro para mim é jogar, brincar para valer, mexer com nossa criança, nossos ancestrais. Nessa gira, Kadu é um parceiro empolgante, com os olhos sempre brilhando para o jogo do agora".
Responsável por dar vida a Sancho Pança, fiel escudeiro de Quixote, Kadu ressalta que seu personagem passa a olhar o mundo de maneira "quixotesca" - com mais subjetividade, poesia, sonho e justiça - após a amizade dos dois.
"Sancho Pança é um homem que trabalha em taberna, casado, simples e ignorante. De repente, aparece Quixote, lhe fazendo uma proposta e garantindo, que se tudo der certo, Sancho terá uma ilha para governar. Inicialmente, é isso que o atrai", explica Kadu.
Para ele, a leitura da obra é uma prática sobre ampliar horizontes. "Nesse espetáculo, temos o privilégio de promover a mistura entre os procedimentos do teatro e a artesania singular de Cervantes para falar de dois homens que perseguem sonhos, pois o mundo como está não é suficiente", desenvolve.
O intérprete de Sancho Pança também acredita que o texto de Geraldo Carneiro estabelece uma relação muito direta entre os personagens e o público, facilitando o entendimento para quem acha a história de Dom Quixote difícil de ser lida.
"Ambos (as versões dos personagens da peça) trazem Quixote e Sancho para o aqui e agora, para partilharem suas aventuras, dores e conquistas. Os dragões de Quixote são nossas guerras atuais, o alto grau de intolerância entre as diferenças, a injustiça mundial. E o sonho, a tentativa de desentortar todas as coisas tortas que existem no mundo, o combustível que move os personagens de Cervantes, atravessa a história da humanidade", conta.
Quando fala sobre o cenário artístico no Brasil, Kadu Garcia chama a atenção para a falta de incentivo. Para ele, isso é algo que "sempre faltará", pois a dívida com a cultura brasileira é enorme.
"A arte e todas as suas formas precisam ser acessadas integralmente pela sociedade para que esta possa exercer o direito de se repensar, de se reinventar diante de cada música ouvida, diante de cada quadro contemplado, cada livro lido, cada espetáculo assistido", arremata ao acrescentar que o estímulo demanda políticas públicas permanentes e inalteradas.
"Dom Quixote" em Fortaleza