Promovendo mais de 40 horas de atividades culturais e educativas, todas gratuitas, a Kuya - Centro de Design do Ceará realiza a primeira edição do Festival de Design Sul-americano. O evento ocorre entre os dias 12 e 15 de setembro no Complexo Estação das Artes, no Centro.
Unindo artistas e criadores que atuam com diferentes técnicas, o festival visa ressaltar o papel do design como uma ferramenta para enfrentar desafios sociais, econômicos, culturais e ambientais. O evento contempla design gráfico, de objetos, de mobiliário, editorial e outros eixos dentro dessa área de conhecimento.
A programação conta com ateliês formativos, apresentações musicais, oficinas práticas, feiras, exposições e mesas temáticas.
Uma das convidadas é Michele Alves, professora e consultora em gestão e finanças da Ubunttu, negócio voltado ao setor cultural e criativo. A empreendedora conta que, ao enxergar os rumos do design na América Latina e suas implicações globais, vê um futuro promissor com ganhos para quem estiver disposto a investir tempo e conhecimento.
A especialista frisa que, apesar de a descolonização do design ser “um processo lento e realizado a muitas mãos”, a busca dos designers de sair dos moldes europeus e ter linguagem própria e autonomia significa valorização e desenvolvimento constante.
“Precisamos organizar e fortalecer do micro ao macro, ou seja, as cidades, estados e o País para, então, essa escala América Latina funcionar como rede e colaborar com outros mercados”, pontua.
Para Michele, o festival trabalhar com as tradições e ancestralidades no design é “mais do que necessário”, já que elas devem fazer parte do repertório dos artistas.
“São anos e anos de histórias e cultura que enriquecem a prática do design com significado. O cuidado deve estar na ética e no respeito para não cometer erros, sempre incluir as comunidades com seu lugar de fala”, conta.
A profissional destaca que a pauta de valorização do design sul-americano levantada no festival é uma “questão de ESG” (Governança ambiental, social e corporativa), mais especificamente do “S”, o social. Michele afirma que buscar inclusão e diversidade no design ajuda a abrir portas para artistas de diferentes identidades e atuações.
“Isso permite que todos ganhem: o coletivo, em potencializar o setor artístico e regional, e o artista que se empodera, amplia rede e conhecimento, alcança novos lugares e projetos, inclusive tem possibilidade de melhores condições financeiras e de vida. As palavras-chave são oportunidade e reconhecimento”, completa.
Assessora executiva da Kuya, Mônica Rodrigues conta que o evento é uma adição significativa ao calendário nacional de eventos do segmento.
“O festival e as iniciativas da Kuya buscam trazer luz para a importância do design nos mais diversos âmbitos, seja na cultura ou nos campos sociais e econômicos. Olhar para o design apenas como algo que vai tornar um produto e/ou imagem esteticamente mais agradável é algo muito raso para as possibilidades que o design nos oferece, por isso precisamos fortalecer o design como propulsor dos diálogos para além disso”, conta.
Mônica ressalta que o evento em Fortaleza tem potencial como “divisor de águas” no cenário do design local e nacional.
“Esperamos que o festival possa destacar o Ceará como essa potência e traga legados que possam refletir nas ações individuais e coletivas, que os designers possam se integrar mais como coletivo, entender as necessidades e aplicações do design nos mais diversos âmbitos que nos cercam” expõe.
Em relação à curadoria do evento, a coordenadora conta que foram feitas duas distintas que se complementam.
“A primeira é dos selecionados que estarão nas exposições do LADAwards (Prêmio Latino-americano de Design), Tipos Latinos (Espaço tipográfico internacional integrado por 14 países latino-americanos), Prêmio Filex (Festival de ilustração e literatura expandido) e ‘Des-vãos’ (Exposição sobre Design Cearense) que têm curadoria própria (da Kuya). A segunda parte dessa seleção está na proposição dos participantes que estarão conduzindo as oficinas e mesas temáticas do Festival”, explica.
A designer gráfica Tereza Bettinardi, que atua em São Paulo, vem a Fortaleza para compartilhar sua experiência de mais de 15 anos com ações na economia criativa.
“Acredito que estamos sofrendo os impactos do mundo do trabalho. Uma realidade mais flexível, ágil, dinâmica, mas também mais incerta, em um terreno um pouco mais movediço”, reflete Tereza sobre o atual cenário para os profissionais do setor.
Para o futuro do design, a artista espera que essas oportunidades de encontro e discussão propiciem mudanças, acrescentando que o festival ocorrer no Ceará, fora do eixo Rio-São Paulo, é importante para lembrar que o Brasil também faz parte da América Latina, apesar da sua dificuldade de se enxergar assim.
“Sou uma pessoa cheia de esperança e gosto de pensar que o diálogo é capaz de criar futuros alternativos e alianças para uma mudança que agregue mais pessoas”, completa Tereza.
Exposições pela Cidade
Além das fronteiras da Kuya, no Centro, as ações do Festival de Design Sul-Americano se espalham por outros equipamentos culturais em Fortaleza.
Na Pinacoteca do Ceará, a exposição "Tipos Latinos" presta homenagem à diversidade tipográfica da América Latina. Já na Universidade Federal do Ceará (UFC) ocorre a exposição dos projetos laureados com o Prêmio Filex, uma vitrine com as produções brasileiras em ilustrações e livros ilustrados. A exposição é uma oportunidade para estudantes e visitantes se conectarem com as tendências atuais e a excelência em design ilustrativo.
Oferecendo uma perspectiva sobre a evolução do design no Ceará, a mostra o "DES-VÃOS: Passado/Presente no Design Cearense", ocorre no Complexo Cultural Estação das Artes.
O Museu da Imagem e do Som (MIS) prepara uma experiência audiovisual com projetos imersivos que capturam a essência do design latino-americano contemporâneo.
O evento contempla ainda as ações do LADawards 2024, premiação que celebra o talento e a criatividade dos designers latino-americanos.
Festival de Design Sul-Americano em Fortaleza