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Festival de literatura discute a presença do Nordeste na cena nacional
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Festival de literatura discute a presença do Nordeste na cena nacional

Segunda edição do Festival RioMar de Literatura reúne personalidades e linguagens em evento plural
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Exposição interativa
Foto: Roberto Abreu/ Divulgação Exposição interativa "Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento" no RioMar

 Contos de Ariano Suassuna, músicas de Luiz Gonzaga e poesias de Jarid Arraes, o que todos esses produtos têm em comum? A valorização da cultura nordestina em cada estrofe, frase e rima. E é isso que propõe a segunda edição do Festival RioMar de Literatura, que acontece neste sábado, 14.

Com o intuito de celebrar a literatura nordestina e o imaginário coletivo da região, o festival vai reunir nomes da literatura nacional como Josué Limeira, Pedro Pacifico, Jarid Arraes, João Suassuna, Paulo Vanderley e show de Fausto Nilo. O acesso é gratuito.

João Suassuna é neto de Ariano Suassuna e em sua participação vai apresentar a aula-espetáculo "Na Trilha do Mestre", criada em 2018. O projeto acontece por meio de uma grande interação entre João, seu avô e o público.

Ao Vida&Arte João conta que acredita que a influência de seu avô para a literatura brasileira é fundamental, inclusive dentro das salas de aulas. "Meu avô costumava dizer que foi a leitura que o abriu para o mundo. Ele completava dizendo que não conseguia fazer distinção entre a literatura e a vida. Ou seja, ele não conseguia dissociar uma coisa da outra. E, da mesma forma e medida, eu posso dizer que não tem como a gente compreender a literatura brasileira sem entender Ariano Suassuna", destaca João.

Ele pontua que Ariano em suas obras literárias usa o riso com uma ferramenta poderosa para trazer um profundo olhar e reflexão social. "Os professores com os alunos trabalhando essas camadas dentro de obras de fácil entendimento, leitura, com aquela leveza e característica de Ariano, mas, ao mesmo tempo, com a profundidade trazida em obras curtas. Existe essa grande densidade de possibilidade de serem trabalhadas. E isso é um legado muito importante que Ariano deixou para a literatura nacional", explica Suassuna.

Segundo ele, um dos maiores desafios no Brasil é justamente manter um povo interessado em literatura e é preciso democratizar o acesso ao conhecimento e aos livros. "A gente tem um país de dimensão continental e meu avô costuma dizer que o primeiro bem cultural de um país é a língua. Ou seja, no Brasil nosso primeiro bem cultural é a língua portuguesa. O que nos aproxima de norte a sul é a língua. Vivemos em um País plural e diverso culturalmente", declara.

Vivendo em uma época totalmente diferente de Ariano Suassuna, mas com as mesmas convicções de valorizar a literatura nordestina pelo Brasil, Jarid Arraes é escritora, cordelista e poeta cearense. Para ela os eventos literários precisam cumprir o papel de tornar a literatura acessível para todos. Ela enxerga como uma grande responsabilidade fazer parte e curadoria de um festival literário, pois é preciso se alimentar de referências e ter um repertório de leitura amplo, que contemple o que tem sido publicado e que se comprometa em criar um evento que demonstre essa diversidade que existe na literatura brasileira.

"No caso do Nordeste do Brasil, existe a responsabilidade de alavancar a valorização das autoras e autores nordestinos, pois ainda são menos reconhecidos e menos convidados para eventos pelo País. Nada mais justo do que garantir esse reconhecimento onde vivem suas origens", afirma a cearense vencedora com o livro "Redemoinho em dia quente" do Prêmio Biblioteca Nacional, do APCA de Literatura na Categoria Contos.

Sua participação no festival literário será ao lado de Pedro Pacífico e abordará temas na literatura que possam inspirar novos leitores no Brasil. "Espero falar sobre o trabalho literário que tenho feito e como ele representa nossa riqueza cultural cearense e caririense, com nosso vocabulário, nossas referências, nossa ambientação. Essa é uma escolha que faço todos os dias e que amo fazer", afirma Jarid.

Ela conta que a literatura é seu movimento de vida e que o incômodo move sua escrita. Escreve, em primeiro lugar, provocada pelo sentimento de angústia e pelo ímpeto de falar sobre o que é afiado e muitas vezes evitado por muitas pessoas. "Gosto de escrever e ler a partir desse lugar. E foi assim que me compreendi como escritora. Não apenas pela familiaridade com os livros ou pelo amor pela literatura, mas principalmente porque sempre me via no mesmo lugar: na insistência de expressar aquilo que me deixava desconfortável", revela.

Questionada sobre o surgimento cada vez maior de autores e autoras crescidos em condições periféricas, a caririense afirma que a literatura escrita por pessoas das periferias, de outros estados brasileiros fora do Sudeste, e por mulheres sempre existiu. "O que mudou um pouco nos últimos anos foi uma parte do foco do mercado editorial e dos eventos e isso aconteceu porque se mostrou impossível ignorar a força dessa literatura brasileira que derruba muros e circula mesmo diante de tantas dificuldades", afirma Jarid.

E entre poesias e cordel, a música também faz parte dessa valorização da cultura nordestina. Luiz Gonzaga e suas obras também estarão presentes no segundo Festival RioMar de Literatura. O autor Paulo Vanderley, que há mais de 30 anos se dedica à pesquisa da musicalidade e universo do Rei do Baião, vai contar sobre a importância do artista na cultura nordestina ao lado de Josué Limeira.

"Luiz Gonzaga já é a própria literatura brasileira. Ele é o artista brasileiro mais biografado. As músicas nos trazem experiências sensoriais e afetivas. Ele retratou o sertão, o sofrimento, as alegrias, o nosso amor. É um patrimônio que deve continuar sendo divulgado e dialogando com a literatura, com o cinema, e principalmente, evidentemente, com a música", conta Paulo Vanderley, que também vai estar com a exposição "Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento" no RioMar, a partir do dia 17 de setembro.

Paulo chama atenção para o contexto atual da literatura brasileira e conta que enxerga um cenário em crescimento, mas que ainda existe um caminho grande a percorrer. E cita a Bienal de São Paulo, onde viu uma renovação tanto de escritores quanto de leitores jovens. "Agora a gente precisa dessa valorização principalmente no interior do Brasil, subindo o Nordeste. Claro que a internet acaba meio que encurtando um pouco isso, mas acaba também distanciando. Eu espero ver mais espaços para essa diversidade, mais gente consumindo, respeitando a literatura brasileira. O futuro pode ser promissor se continuarmos apostando em espaços como esse, em feiras e eventos como o que está acontecendo aqui no RioMar", aponta. E acrescenta: "Essas feiras são fundamentais. Elas aproximam o público dos autores, é um momento de descontração, de mostrar e contar um pouco como foram as criações das obras. E ajuda a mostrar a nossa voz, a nossa história, que merece ser contada, merece ser ouvida, tanto aqui no Brasil quanto no mundo todo", afirma o paraibano Paulo Vanderley.

Além das atrações no auditório do teatro, o festival também conta com lançamentos de livros, feira literária com coletivos, editores e escritores independentes, apresentações artísticas e bate-papo com autores.

Festival RioMar de Literatura

  • Quando: sábado, 14, de 10 às 21h30min
  • Onde: Teatro RioMar Fortaleza (Rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
  • Inscrições: riomarfortaleza.com.br
  • Instagram: @riomarfortaleza
  • Gratuito
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