"Não é o material (equipamento) que vai fazer a imagem, é o fotógrafo. É o olhar do fotógrafo e a sensibilidade dele que vai fazer aquela imagem, que a pessoa vai olhar e dizer: 'Uou'. Não adianta ter o material mais 'top' que existe no mundo se eu não souber como utilizar", declara Ruver Bandeira, fotógrafo especializado em imagens subaquáticas.
Aos 53 anos, o cearense é destaque nacional neste tipo de captação de imagem, tendo conquistado, mais de uma vez, o 1º lugar no Concurso de Foto Sub on-line da Associação Brasileira de Imagens Subaquáticas (Abisub). A estreia na premiação acontece em 2015, dois anos depois da primeira inscrição.
Em 2017, ele virou bicampeão, e, em 2024, tornou-se tricampeão na edição que marcava o retorno da premiação após a pandemia da covid-19. Além da posição mais alta do pódio, Ruver já esteve em segundo e terceiro lugar, e chegou até a representar o Brasil em disputas internacionais.
Mas toda essa jornada foi um processo que começou por um acaso. Em 1998, durante uma viagem de férias em Fernando de Noronha, arquipélago em Pernambuco, o também professor conheceu e se encantou pelo mergulho. "Tudo aquilo que eu via lá embaixo, eu tinha a vontade de expor, de mostrar aquelas belezas que estava observando para meus familiares e amigos", lembra.
"Quando chegou em 2006, pela segunda vez que fui para a ilha, levei algumas câmeras, (que) na época eram câmeras subaquáticas e descartáveis. Utilizei delas para poder fazer algumas imagens e, logicamente, mostrar para meus amigos e familiares o quanto era bonito o que eu via ali no mergulho", elabora.
Assim nasceu a paixão pela fotografia subaquática, um amor que foi sendo cultivado aos poucos, ao passo em que ele foi adquirindo material adequado para os registros e estudos na área. "Começava a ver fotos de outras pessoas do fundo do mar, achava aquelas fotos muito mais bonitas. Olhava assim (e dizia): 'Poxa, por que a minha foto é uma porcaria?'. E procurei estudar".
Coincidentemente, Ary Amarante, referência na área - nas palavras de Ruver, o "mestre dos mestres" -, veio a Fortaleza realizar um curso de iniciação à fotografia subaquática, o que agregou nos conhecimentos que estavam sendo obtidos pelo recém-fotógrafo. A prática também foi uma ótima escola para o cearense, que aperfeiçoava e construía com o tempo seu estilo.
O interesse nos registros não se limitou aos cenários submersos. O cearense também começou a estudar e fotografar paisagens terrestres. Ele ressalta, inclusive, a diferença entre fotografar dentro e fora da água: "Lá embaixo, é como se fosse gravidade zero. Você está em um mergulho e não tem gravidade, fica flutuando. Em pé, eu posso virar para um lado, para o outro, andar. Lá embaixo não posso fazer isso".
Isso mostrou para Ruver que estudar procedimentos fotográficos não era o suficiente para a fotografia subaquática: primeiro, o profissional precisa "dominar as técnicas do mergulho". Esta compreensão vai além de aprender a entrar na água, o fotógrafo precisa entender como não prejudicar aquele ecossistema do qual ele não faz parte e está apenas como visitante.
"Primeiro, temos que dominar a flutuabilidade. Tenho que ter uma flutuabilidade muito boa para poder fazer os registros e não acabar o que tem lá embaixo. Não quebrar um coral, não matar animais, porque tem alguns que são bem pequenos, menores do que uma unha, e você não consegue ver às vezes", afirma.
Outra grande diferença apontada por ele é a luz. Fotografias retiradas em terra já contam com a luz natural ou possuem ajuda de instrumentos artificiais. Já na fotografia subaquática, à medida que vai se tornando mais fundo, a "luz vai se perdendo", sendo necessário equipamento especial para driblar essa situação.
Apesar da importância da fotografia na vida de Ruver, esta não é sua ocupação principal e é definida por ele como uma "brincadeira séria". Antes mesmo de começar a sentir interesse em fotografar ecossistemas existentes debaixo d'água, outra área recebia seu carinho: a educação. Se formou como professor de geografia, influenciado pelo gosto que mantinha por paisagens.
Por meio de seu trabalho como educador, o profissional mostra para as pessoas as belezas que o planeta possui e conscientiza sobre o cuidado necessário para a preservação do ambiente. Ele busca transmitir a mesma mensagem por meio das imagens.
Atualmente ocupando um cargo de gestão como diretor de uma escola de Fortaleza, Ruver compartilha ser desafiante conciliar as duas atividades. "O tempo como gestor, como professor, é maior, é minha profissão principal. Eu utilizo o tempo que me sobra nos fins de semana, feriados ou férias para fazer determinadas imagens subaquáticas", pontua.
Ele ainda destaca que se "vivesse só de fotografia" teria um acervo ainda maior de imagens e que amigos desta área já estiveram em situações similares, mas abdicaram de suas outras profissões para viver apenas do mergulho ou da fotografia subaquática.
"Não farei isso, porque eu gosto de trabalhar como professor. Eles estavam exaustos do que eles faziam e procuraram outra coisa para poder ser feliz. Sou apaixonado por fotografia e mergulho, mas também amo minha profissão de educador, então só vou deixar ela quando me aposentar", conclui.
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