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Festival gratuito reúne cinema e educação com sessões no Cinema do Dragão
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Festival gratuito reúne cinema e educação com sessões no Cinema do Dragão

Primeira edição do Festival Vento da Tarde busca pautar debate sobre a importância do cinema e educação na vida dos jovens de escolas públicas e universidades brasileiras
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Foto: Trava Molovot/ Divulgação Longa "Pedagogias da Navalha " faz parte da programação do Festival Vento da Tarde

O que educação e cinema possuem em comum? Como um pode ajudar o outro na construção de um País pautado pela cultura e com mais oportunidades para todos? Essas são algumas das provocações que compõem o Festival Vento da Tarde.

Focado no debate sobre cinema e educação, o evento gratuito oferece um espaço de formação, troca e reflexão para jovens de escolas públicas e universidades de 19 estados brasileiros.

Entre os dias 17 e 21 de setembro, o festival promove exibições, no Cinema do Dragão, de filmes independentes que compõem as Mostras Aracati e Aragem. Para a estreia, o longa-metragem "Saudade Fez Morada Aqui Dentro", do diretor baiano Haroldo Borges, será exibido, seguido de debates com os produtores Paula Gomes, Marcos Bautista e Ernesto Molinero.

Diretor do festival, Davi Jaguaribe explica que o evento possui três perspectivas a serem abordadas. A primeira é a criação de uma esfera de reconhecimento e promoção da produção audiovisual de jovens realizadores que têm pouco destaque no circuito de festivais tradicionais, através da Mostra Aracati.

A segunda tem como objetivo apresentar filmes produzidos em ambientes de formação superior como cursos universitários, livres e técnicos. Sob a perspectiva de formação de público com a Mostra Aragem. 

A terceira esfera é a Mostra Filme de Formação, que visa investigar e homenagear realizadores já estabelecidos no mercado do audiovisual, e vem para Fortaleza compartilhar suas trajetórias e processos criativos. 

"O debate sobre a importância do diálogo entre cinema e educação tem uma certa tradição no País. É um campo de estudo acadêmico já consolidado, mas não temos no Brasil espaços específicos desse debate, que integre realizações audiovisuais e reflexão acadêmica", pontua o diretor do festival.

Davi afirma que, por meio de conversas com professores e da sua experiência no audiovisual, foi refletida a necessidade urgente de instaurar um lugar no Ceará para ser um elo de reflexão entre audiovisual e formação.

"Talvez tenhamos, mais do que em qualquer outro lugar (do País), mais condições de refletir sobre a aproximação entre cinema e educação. É reunir as experiências exitosas dessas duas áreas e refletir sobre as possibilidades desse diálogo tão importante, especialmente, nesse momento, em que a imagem tem centralidade na vida das pessoas", conta.

Davi destaca ainda que o diálogo entre cinema e educação já é desenvolvido em simultâneo em muitos países, com impactos importantes nos dois campos do conhecimento.

"A imagem tem centralidade no mundo contemporâneo. Especialmente, depois da pandemia. O cinema é uma experiência que instaura um processo de reflexão sobre as imagens, além de favorecer o acesso ao uso das tecnologias. O uso inventivo e crítico das tecnologias potencializa os processos educativos", explica.

Sobre o nome do festival, uma explicação: a inspiração foi o costume do nordestino de sentar nas calçadas de casa para conversar com os vizinhos e sentir a brisa do fim de tarde.

"Esse conceito dialoga diretamente com a ideia de um festival pensado para valorizar a capacidade inventiva de jovens realizadores e a reflexão sobre as práticas audiovisuais que transformam os processos de educação", avança Davi.

O idealizador revela o projeto de levar o festival para além de Fortaleza. "Nós pretendemos expandir para os cinemas existentes no Interior e criar um circuito itinerante, onde levaremos os filmes para as cidades dos sertões, iniciando pela trajetória do Vento Aracati", conta.

Já o curador do festival, Isaac Pipano, conta ao Vida&Arte que o maior desafio na seleção das obras do evento foi justamente o volume, variedade e qualidade dos filmes inscritos, o que tornou a escolha um processo delicado.

A curadoria envolveu a participação de estudantes, professores e foi guiada por uma busca de filmes que escapam ao "padrão dominante", marcado por homogeneidade e previsibilidade estética.

"Nosso desejo era dar visibilidade a obras que provocam novas percepções e sensorialidades, que se arriscam a mostrar o mundo de maneiras inesperadas, explorando seus conflitos, belezas, tensões e invenções. Essa busca por filmes que escapam das expectativas de mercado ou mesmo do circuito dos festivais, e que, ao mesmo tempo, dialogam com questões sociais e pedagógicas contemporâneas", explica Isaac.

No Vento da Tarde, a inclusão plural de vozes em sua programação é um dos destaques. Mais de 50% das obras apresentadas no festival são de mulheres, pessoas negras, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência e integrantes da comunidade LGBTQIA+.

"A diversidade e a representatividade são pilares fundamentais de qualquer festival que se propõe a refletir sobre a sociedade contemporânea. Isso é essencial não apenas em termos numéricos, o que já seria um feito relevante numa cultura tão patriarcal, misógina e racista como a brasileira, mas ainda mais porque essas produções apresentam linguagens, estéticas e experiências frequentemente marginalizadas ou invisibilizadas", chama atenção Isaac.

O festival também vai promover o seminário "Arejar o Pensamento: diálogos entre Cinema e Educação", que será realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS Ceará). A atividade formativa vai abordar temas como a regulamentação do cinema nas escolas, preservação de acervos audiovisuais, entre outros temas, reunindo especialistas, educadores e cineastas em um espaço de reflexão e troca de experiências.

O júri da Mostra Aracati concederá o prêmio "Vento Aracati" para o filme que apresentar propostas estéticas (visuais sonoras) originais, com destaque aos métodos e processos de realização empregados.

"Saudade fez morada aqui dentro" em Fortaleza

Bruno é um garoto de 15 anos que sempre fez vista grossa para a violência e o preconceito gerado pela cultura machista na qual ele está inserido. Uma doença degenerativa, porém, faz com que, pouco a pouco, o jovem perca a visão. Agora, enquanto atravessa a adolescência, ele tem que aprender com as diferenças.

Esse é o enredo do filme "Saudade fez morada aqui dentro" do diretor baiano Haroldo Borges. O longa — que foi vencedor do prêmio de Melhor Longa-Metragem no Festival de Mar del Plata, em 2022, e, em 2023, foi eleito Melhor Filme na mostra Novos Rumos do Festival do Rio — faz sua estreia no Ceará no Festival Vento da Tarde.

Haroldo Borges conta que o filme foi rodado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), período marcado pela extinção do ministério da cultura, e que isso deu a todos os envolvidos o "gostinho de clandestinidade".

"Questionar é veneno para fascista, então todo artista se tornou, naquele momento, um suspeito, um inimigo em potencial. Foi impactante descobrir familiares e amigos próximos defender fervorosamente essas ideias. Parecia ser uma epidemia de cegueira que se espalhava por todo o País. Então a cegueira do personagem no filme se tornou a metáfora perfeita para o que estávamos vivendo" explica.

Vento da Tarde: 1º Festival de Filmes de Formação

Quando: de 17 a 21 de setembro

Onde: Cinema do Dragão - (R. Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema) e MIS-CE (Av. Barão de Studart, 410 - Meireles)

Mais informações: ventodatarde.com.br

Gratuito

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