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Livro de Leila Tabosa aborda diferentes violências sofridas por mulheres
Vida & Arte

Livro de Leila Tabosa aborda diferentes violências sofridas por mulheres

Em livro de contos, cearense Leila Tabosa disserta sobre diferentes violências sofridas por mulheres ao longo da vida
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Foto: Daiany Dantas/Divulgação Autora de "Ela Nasceu Lilás"

Há várias razões para escrever uma obra: compartilhar conhecimento, expressar sentimentos, estimular a criatividade, aliviar sentimentos ruins, entre outros. No caso da escritora cearense Leila Tabosa, foi o "autoacolhimento" que a motivou a produzir "Ela nasceu lilás & outras mulheres", um livro que aborda a violência contra a mulher.

A escritora demonstra na escrita sua própria vivência na periferia de Fortaleza. Até os 18 anos, morou no bairro Antônio Bezerra, onde cresceu percebendo pessoas e situações em seu entorno. Na mesm região, ficava a sua escola, o Instituto Pollyanna, onde ela começou seu contato com a literatura, com a criação de livros com adaptações para peças teatrais.

Sua relação com artes cênicas foi o que nutriu seu apresso por linguagens, que se tornou sua formação acadêmica posteriormente. Seus estudos seguiram o coração de escritora, levando a um pós-doutorado em Literatura e Teatro pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Ela Nasceu Lilás & Outras Mulheres" é o seu primeiro livro de escrita ficcional e possui um conjunto de 16 contos que narram histórias de mulheres que vivem situações de abusos e abandonos. 

"A questão de registrar, pelas letras minhas emoções e observações ao meu redor, sempre foi um hábito que procurei cultivar na vida, em cada fase dela, como lugar de autoacolhimento necessário", conta Leila, professora de Literatura em Mossoró, no Rio Grande do Norte.

A escritora discorre sobre ser a fonte das histórias de sua obra. "Acredito que todo livro literário sempre vai se relacionar com a vida vivida de quem o escreve. Às vezes mais, às vezes menos, pois o que somos e o que experienciamos de alguma maneira está ou estará na escrita literária, no labor narrativo, na criação de personagens, na ambientação dos contos ou romances, ou na criação de poemas", pontua.

Leila completa: "Eu sou uma escritora mulher que está tratando de violência contra a mulher. Acho muito natural que se associe a escritora com as narradoras que criei. E eu estaria sendo contraditória se dissesse que este livro não tem nada de meu no âmbito infantil pessoal ou se dissesse que não tem nada de meu nos meandros dessas narrativas", afirma.

O livro é focado no eu-lírico feminino, seja por meio da narradora, ou como testemunha ou como protagonista das histórias, que abordam o gênero em suas vivências invisibilizadas, fraturadas e esquecidas na realidade hostil para o gênero.

São diversas as mulheres retratadas na obra, como mulheres grávidas periféricas, crianças, mães doentes e adolescentes no período escolar. Em todos os casos, existe grande dor envolvida. "Há momentos em que escrever faz bem ao corpo, trazendo uma espécie de expurgação. Em outros a escrita pode nos levar a uma dor profunda, quase abismal. Aí eu paro, fecho o caderno ou desligo o computador e vou procurar contato com a natureza, com os animais, dançar ou ouvir meus discos antigos", desabafa a autora.

Leila conta que o livro recém-lançado está sendo chamado de "ficção neorrealista" e de "autoficção", devido ao seu caráter verossímil. "Doeu, mas justamente por se tratar de uma escrita que, a meu ver, não sei se interessa quando a questão é pessoal porque esse problema é coletivo. Esse problema da violência doméstica é um problema brasileiro. Um problema da América Latina", diz.

O livro é ambientado na periferia de Fortaleza, "ponto de partida na vida" da autora. Bairros da Capital estão presentes em quase todos os 16 contos do livro. "A questão socioeconômica impacta ainda mais a essas vítimas expropriadas de suas necessidades mais básicas. Isso eu considero mais grave do que qualquer outro ponto. A falta de assistência às vítimas periféricas desomologadas, vilipendiadas de quase tudo: isso é muito mais doloroso do que escrever a obra", afirma a escritora.

Além das mulheres de sua família, o "Ela Nasceu Lilás & outras mulheres" é inspirado em pessoas que a autora cresceu convivendo. "O livro é dedicado às idosas periféricas e, sobretudo, às crianças dotadas de quase nenhuma oportunidade e com extrema capacidade de sabedoria, passem a possuir conferência de visibilidade. Há uma visibilidade nordestina urbana periférica que é reivindicada nessa obra: a faceta urbana periférica do Nordeste e que não é nem sertaneja e nem praieira/turística. Essa é minha ampla rede na construção das imagens e personagens para o livro, esse coletivo invisibilizado".

Para Leila, a necessidade de escrever nasce da vontade de demonstrar a "urgência social do direito de existir e de existir com dignidade". Ainda que o Brasil tenha tido avanço em relação ao direito das mulheres, como a Lei Maria da Penha, ainda falta muito para melhorar a realidade feminina.

"A Lei Maria da Penha nos ampara legalmente. Mas, infelizmente, existe o fator dignidade feminina de sobrevivência em muitas esferas, especialmente a da independência emocional, financeira e intelectual, que ainda estamos distantes de conquistar por vivermos em um país cujo sistema patriarcal ainda predomina em vários espaços, especialmente onde a lei não alcança", destaca.

A autora finaliza lembrando que a obra, que começou a ser pensada em 1992, ainda na sua adolescência, passou muito tempo engavetada. Te-lo publicado agora é mostrar seu trabalho "cheio de sonhos, de elevações femininas, de corajosas sobrevivências femininas e de lutas infantis para não sucumbir".

Ela Nasceu Lilás

Sessão de autógrafos em Fortaleza

  • Quando: sexta-feira, 27, às 14 horas
  • Onde: Universidade Federal do Ceará - Campus do Pici (Av. Humberto Monte, s/n - Pici)
  • Gratuito
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