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Peça debate o histórico das secas no Nordeste em apresentações gratuitas
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Peça debate o histórico das secas no Nordeste em apresentações gratuitas

Trapiá Cia Teatral , do Rio Grande do Norte, chega a Fortaleza com espetáculo gratuito. A peça retrata a Grande Seca de 1877 no sertão nordestino sob as reflexões das histórias da região
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Foto: Brunno Martins/Divulgação "1877" é uma peça convidada a integrar a Série Cênica Especial no Theatro José de Alencar

Como um grito ecoando as histórias do sertão, a peça “1877” lembra que as reflexões e experiências humanas podem se repetir apesar de longos intervalos de tempo entre diferentes gerações. A Trapiá Cia Teatral, de Caicó, no Rio Grande do Norte, leva este tema como referência para apresentação gratuita que acontece no Theatro José de Alencar.

Neste sábado, 21, e domingo, 22, o equipamento cultural será o cenário onde as memórias nordestinas serão relembradas. A montagem resgata o sofrimento e a resistência dos sertanejos durante a Grande Seca de 1877.

A obra do historiador e dramaturgo Lourival Andrade mergulha nas dores e na humanidade de personagens que precisam lidar com fome, doenças, abandono do poder público e com "a lei" dos cangaceiros. Apesar do desafio, Lourival afirma que o trabalho conseguiu unir suas áreas favoritas de pesquisa: o teatro e a história.

“Foi muita pesquisa para poder chegar na teatralidade, porque eu queria algo que falasse do passado, mas que tivesse uma linguagem teatral contemporânea. Foram muitos ensaios para os atores se encontrarem nas personagens e tivemos uma ajuda de uma preparadora vocal (Heli Medeiros) que nos ajudou a encontrar uma variedade de vozes”, relembra o diretor.

Mônica Belotto, atriz do espetáculo e responsável pela preparação corporal do elenco, complementa o dramaturgo acerca da versatilidade do elenco para interpretação dos papéis. Ela destaca como a personagem Maria de Severino foi um dos maiores desafios de sua carreira.

“Ela é uma mãe que está sendo julgada por algo que fez em consequência da situação de miséria e flagelo. Foi muito intenso. Eu sou mãe e precisei ativar essas emoções, me colocar no lugar daquela mulher. Até hoje, me emociono com essa cena", relembra a também bailarina.

Segundo o dramaturgo de "1877", a encenação convida o público a percorrer um cenário habitado por romeiros que depositaram sua esperança na fé, por beatos que prometiam salvação e por um governo que "pouco se importava" com os mais vulneráveis.

Além de buscar trazer a reflexão da complexidade e a resiliência dos sertanejos, a obra traça paralelos com situações contemporâneas, a exemplo do desenvolvimento e distribuição da vacina de covid-19 e as teorias conspiratórias, movimento semelhante ao vivido no surgimento do imunizante de varíola em séculos passados.

Fundada por Lourival Andrade, ator natural de Santa Catarina, a Trapiá Cia Teatral foi oficialmente criada em 2017, mas já atua desde 2014 em Caicó, Rio Grande do Norte. A companhia expandiu sua atuação além das montagens teatrais, para trabalhar em um projeto voltado às crianças e adolescentes do município em que estão localizados.

Ator da peça "1877" e também professor do projeto, Alexandre Muniz aponta a importância de repassar os ensinamentos que o grupo consegue acessar quando viajam por outras capitais. O artista defende ser fundamental levar um pouco desta arte para a região no Interior, onde geralmente não é comum ter o incentivo ao contato artístico.

"É preciso que as políticas públicas cheguem cada vez mais ao interior, é o que a gente chama de interiorização, que nos permite levar essas linguagens a essas regiões fazendo que jovem possa ter escolha. Torcemos para que essas crianças e desses jovens, surjam novos atores para alimentar a nossa arte", destaca o artista

A Associação cultural é composta por quatro núcleos de produção de conteúdo e formação sendo dividida em “Trapiá Cia Teatral”, que já montou seis espetáculos e uma intervenção teatral, e “Trapiá Filmes”, que produziu e coproduziu 13 filmes.

Também fazem parte do projeto a Jurema Coletivo de Dança, responsável por três espetáculos e duas performances, e o núcleo das Oficinas, que já contabilizam cerca de 21 oficinas em diversas linguagens.

“A Trapiá é fundamental para o bairro (Soledade, em Caicó), o Rio Grande do Norte e o Nordeste. Não se limita apenas à produção de conteúdo, mas busca formação e capacitação, mostrando de forma objetiva que a arte salva e mobiliza. Acredita-se que a arte pode melhorar vidas e ajudar a comunidade a se conhecer melhor”, explica o fundador do grupo.

Através dessa perspectiva local, o grupo busca conectar-se com questões universais. O coletivo defende a importância de preservar e valorizar o patrimônio cultural do sertão, usando a arte como instrumento de conscientização e mudança.

A chegada de Trapiá ao Theatro José de Alencar representa uma extensão do diálogo proposto pela dramaturgia de "1877". É a oportunidade de expandir as vozes do sertão por outras capitais do Nordeste.

A companhia potiguar espera alcançar um público mais amplo, compartilhando histórias que se relacionam com os personagens cearenses Rodolfo Teófilo e José do Patrocínio, apesar de terem se passado há séculos, ainda encontram eco atualmente.

“O Theatro José de Alencar é um dos mais belos do Brasil, com uma arquitetura espetacular e uma equipe técnica muito atenciosa. Esperamos que o público conheça a história do Nordeste e do sertão através da peça. O teatro é essencial para refletirmos sobre nossa humanidade e esperamos que todos se emocionem e aprendam com a experiência”, ressalta Andrade.

A bailarina formada pela Escola do Ballet Nacional de Cuba e a professora do projeto complementa: “Estamos empolgados para apresentar no teatro José de Alencar, que tem uma forte conexão com a seca de 1877 no Ceará. Queremos discutir essa história e sua relevância hoje. Esperamos compartilhar a experiência com o público”.

O ator Alexandre Muniz se junta às expectativas positivas para o evento e enfatiza também a importância do Ceará para a produção.

“Estamos animados para apresentar nossa peça na cidade, devido à conexão com a história local e à expectativa do público. Acreditamos que o espetáculo será recebido com a vivência da população e estamos ansiosos para essa troca. É uma grande oportunidade e a primeira vez que voltamos desde 2015”, encerra.

Espetáculo "1877", da Trapiá Cia Teatral

  • Quando: sábado, 21, e domingo, 22, às 19 horas
  • Onde: Palco Principal do Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
  • Gratuito. Distribuição pelo Sympla
  • Capacidade: 711 lugares
  • Duração: 55 minutos
  • Classificação indicativa: 12 anos

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