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Thomaz Farkas é tema de exposição e debate no MIS
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Thomaz Farkas é tema de exposição e debate no MIS

No mês em que completaria 100 anos, Thomaz Farkas é tema de exposição que revela seu olhar único para imagens do cotidiano
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Fotografia de Thomaz Farkas (1924-2011), artista cujo centenário de nascimento é celebrado com exposição no Museu da Imagem e do Som do Ceará  (Foto: Thomaz Farkas/Acervo Instituto Moreira Salles )
Foto: Thomaz Farkas/Acervo Instituto Moreira Salles Fotografia de Thomaz Farkas (1924-2011), artista cujo centenário de nascimento é celebrado com exposição no Museu da Imagem e do Som do Ceará

O museu de Imagem e do Som realiza exposição em homenagem a Thomaz Farkas no mês em que o fotógrafo e cineasta se tornaria centenário. A exposição "A beleza diante dos olhos" tem como propósito trazer o reconhecimento da fotografia dele enquanto manifestação artística, além de debater seu léxico estético e a arte moderna brasileira nas primeiras décadas do século XX. Sob a curadoria de Simonetta Persichetti e Rubens Fernandes Junior e a presença do fotógrafo e filho de Thomaz, João Farkas, a abertura acontece neste sábado, 21, às 18 horas, na praça do MIS.

Durante a abertura, haverá a exibição do curta-metragem documental "Improvável Encontro - Frente e Verso" (2016), dirigido por Lauro Escorel, focado nos fotógrafos Thomaz Farkas e José Medeiros. Ao final da exibição, haverá um bate-papo do diretor com o público.

Nascido em Budapeste, Hungria, em 1924, Farkas chegou ao Brasil com seis anos de idade. Considerado um dos pioneiros e um dos principais expoentes da fotografia moderna no País, se formou em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, fez doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP, onde também atuou como professor. Em 1960, após o falecimento do pai, assumiu a direção da Fotoptica, empresa varejista de equipamentos de óptica. Entre 1964 a 1981, produziu em média 38 documentários de curta e média-metragem.

A exposição ocupa diversos espaços do MIS. No andar 2, está uma coleção de fotografias da autoria de Farkas, e na biblioteca estão alguns livros e objetos pessoais. Interessado pelo abstracionismo geométrico e com espírito livre e investigativo, ele usava composições diagonais, jogo de sombras e uma certa brincadeira com os enquadramentos e os pontos de vista inusitados.

Simonetta Persichetti e Rubens Fernandes Junior, curadores da mostra sobre Farkas (Foto: Deivyson Teixeira/Divulgação )
Foto: Deivyson Teixeira/Divulgação Simonetta Persichetti e Rubens Fernandes Junior, curadores da mostra sobre Farkas

Simonetta Persichetti, crítica de fotografia e curadora da exposição, conta que a percepção do público evolui com as obras fotográficas, com o equilíbrio sutil entre o documental, o olhar sensível e a surpresa do encantamento com o povo brasileiro. "Para o público em geral, foi um grande espanto. O quanto de fotografia o Thomaz já tinha feito, mas estava guardado, vamos dizer assim, uma metáfora, nas caixas de sapato, nas suas gavetas", conta. Segundo Simonetta, a partir do lançamento de seu próprio livro, "Thomaz Farkas, Fotógrafo", em 1997, houve a mudança de alguém que até então era visto como empresário, e ficou conhecido como um homem da imagem.

Para o pesquisador e curador de fotografia Rubens Fernandes Junior, o trabalho de Thomaz Farkas traça uma linha fina entre o campo da arte moderna e a contemporânea. "Se você pegar duas vertentes do trabalho dele, que é um trabalho mais gráfico, um trabalho mais de forma, composição, luz, sombra etc. Esse trabalho é impactante até hoje. Como hoje todo mundo fotografa, na hora que as pessoas veem essas fotografias, elas morrem de inveja, vamos dizer assim. 'Nossa, como uma coisa tão simples virou uma imagem tão potente?' Nesse sentido, o olhar do Thomaz é um olhar muito sofisticado", afirma Rubens.

Rubens, que também participou em conjunto com Farkas na curadoria da Coleção Pirelli/Masp de Fotografia por 20 anos, afirma que ele tinha um projeto de educação visual. "Quando ele está no Foto Clube Bandeirantes (uma das mais antigas escolas de fotografia de São Paulo), o que ele faz em termos de produção cinematográfica são pequenas experiências, pequenos filmes de dois, três minutos. Experiências que, naquele momento, o próprio fotoclubismo internacional estava fazendo", conta. Farkas idealizou mostrar o Brasil aos brasileiros, montando um repertório de mais de 30 documentários para um projeto educacional que não vingou. "O projeto não deu certo porque, de 1964 a 1968, o golpe se acentuou, e o projeto não mostrava o Brasil com o olhar de novela da Globo, era uma crueza total", acrescenta.

Fotografia de Thomaz Farkas (1924-2011), artista cujo centenário de nascimento é celebrado com exposição no Museu da Imagem e do Som do Ceará (Foto: Thomaz Farkas/Acervo Instituto Moreira Salles )
Foto: Thomaz Farkas/Acervo Instituto Moreira Salles Fotografia de Thomaz Farkas (1924-2011), artista cujo centenário de nascimento é celebrado com exposição no Museu da Imagem e do Som do Ceará

Thomaz Farkas - A beleza diante dos olhos

  • Quando: sábado, 21, às 18 horas
  • Onde: Museu da Imagem e do Som (Av. Barão de Studart, 410 - Meireles)
  • Gratuita
  • Mais informações: @mis_ceara

Bate-pronto

Wellington Gadelha é artista multidisciplinar, desenvolve trabalhos na Plataforma Afrontamento, realiza performances, dança, artes visuais, arte tecnológica, arte sonora, instalações e processos imersivos, possui conexões de projetos em Zurich, Suíça e desenvolve projetos coletivos com ênfase em direitos humanos. Responsável pela sala imersiva onde serão exibidas as obras de Thomaz Farkas, ele detalha a exposição do MIS.

O POVO - Como traduzir para o ambiente da sala imersiva a obra de Thomas Farkas?

Wellington Gadelha - Acredito que o museu convida Farkas desde sua inauguração. O MIS tem um largo acervo de Farkas e que dá nome a sua biblioteca. O que fizemos foi mergulhar em Farkas. Na sua produção e pensamento. Uma pessoa muito generosa e positiva. Ele dava muita atenção ao valor da amizade, de práticas e ações de boa vizinhança. Foi por este motivo que comecei a conceber a obra para sala imersiva. Poder a partir do convite, do encontro, da importância que ele dava para a amizade e as pessoas, o acionador dramatúrgico da obra que é chamado de Imaginário Farkas: uma experiência imersiva. Após um longo estudo em sua obra, conversas com a curadoria, cheguei a concepção do trabalho e em seguida convidei artistas/amigos de Fortaleza e Crato: Eric Barbosa, Matheus Rocha, Fabienne Maia, Diego Ricca, Rafa Diniz, Fluxo Marginal e João Barreto. Assim como Farkas era coletivo, a obra imersiva também se faz a partir desse lugar tão importante. O coletivo é um lugar!

O POVO - Como é trazer um artista centenário ao museu?

Wellington Gadelha - A oportunidade de trabalhar com a obra de Farkas foi uma oportunidade única de ampliar o entendimento sobre acervos e museus. Os acervos em museus são acionadores também de memória e tempo que resguardam histórias e que estão em constante movimento. Desta forma, além do acervo do MIS, o Instituto Moreira Sales e Guilherme Farkas contribuíram neste ponto. Além disso, a obra de Farkas fez com que me provocasse enquanto artista no direcionamento do olhar que estava se dando para o que poderia ser compartilhado na obra da sala imersiva. Mediante a estes pontos, tracei diálogos entre a obra do artista e interfaces digitais. Farkas dizia que ainda iria fotografar com o digital…. Tracei diálogos a tal ponto que chegamos a utilização de realidade aumentada para criarmos um teto virtual para a sala imersiva, bem como animações nas paredes a partir de seis carimbos. Desta forma o acervo de Farkas, bem como seu pensamento sobre a imagem potencializou pesquisas que venho desenvolvendo sobre obras e espaços imersivos em diálogo com arte tecnologia. Com esta obra, o museu, o acervo do MIS, se coloca num lugar cada vez mais vivo e interativo, cuidando e resguardando memórias, mas também mirando e projetando futuros.

O POVO - Que tipo de interação você planejou para o público?

Wellington Gadelha - A partir do conceito que venho desenvolvendo sobre imersão preliminar e imersão de profundidade, consegui chegar a um lugar na criação que, utilizando de realidade aumentada, poderia aumentar mais ainda o grau de imersão das pessoas na obra. Ir além das projeções na parede e no chão, construir com um teto virtual e animações na parede, uma profundidade capaz de radicalizar a experiência imersiva e produzir uma verticalização sobre o que concebemos como imersão. O público poderá acessar com seus celulares um teto e alguns momentos durante a obra, o universo ampliado de Farkas. Muita coisa ainda terei de aprofundar e avançar sobre este conceito, mas no trabalho já é uma materialização real do que venho pensando.

O POVO - Quais elementos mais relevantes você utilizou na criação da sala?

Wellington Gadelha - Além da realidade aumentada, teremos um sistema de som em 5.1, utilizamos de técnicas de rasterizacao, processing, colagem e sobreposição de imagem, além de arte sonora e vieses eletroacústicos de ambientações. Outro fator também que fiz questão de ter na obra é a utilização de recursos de acessibilidade, tais como legendagem, libras e audiodescrição. Construí um conjunto de técnicas e ações que se somam para tentar ao máximo entregar uma obra que amplia sentidos e constrói outros regimes de temporalidade em uma obra imersiva. Propor um entendimento que obras imersivas não são consideradas somente como trabalhos com largas escala de projeções e ambientações, mas um espaço que amplia sensorialidades e nos coloca como parte integral de um espaço político que é a experiência estética.

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