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Cariri recebe segunda parte do Festival Choro Jazz com shows gratuitos
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Cariri recebe segunda parte do Festival Choro Jazz com shows gratuitos

Festival Choro Jazz continua proposta itinerante com evento no Crato; programação mostra repertório do Cariri e aponta interesse do público local
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Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro (Foto: Fotos Samuel Macedo/ Centro Cultural do Cariri/ Divulgação
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Foto: Fotos Samuel Macedo/ Centro Cultural do Cariri/ Divulgação Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro

A tradição fundada na pluralidade do Cariri é berço do pífano, coco, baião, xote e repente. Os gêneros bebem das influências de municípios que fazem fronteira com Pernambuco, Piauí e Paraíba. São estes ritmos que abrem caminhos para as demais manifestações culturais e receberam, entre os dias 17 e 22 de setembro, a última edição do Festival Choro Jazz.

Após passagem pelas cidades de Souré e Belém, no Pará, o evento ancorou pela primeira vez na região sul do Ceará em modelo itinerante, até então inédito nos 15 anos de continuidade comemorados em 2024. Antes do início da programação de shows, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, no Crato, recebeu oficinas de música, um formato característico e diferenciado que destaca a inclusão da educação musical. O idealizador Antônio Ivan Capucho considera esta primeira etapa, composta por aulas de nomes como Cacá Malaquias e Pedro Amorim, um diferencial que mostra além do "showbusiness".

A proposta "andarilha" também configurou novos ares ao projeto, visto que foi adaptado, respectivamente, com a cultura paraense e caririense. Distante das areias de Fortaleza e Jericoacoara, onde os espetáculos são comumente performados, foram dispostos quiosques com expositores caririenses. Entre as opções, ilustrações de Mestres da Cultura e degustação da cachaça Princesa do Cariri, que dispõe aguardente de frutas nos sabores seriguela, manga e acerola.

Logo em frente, no gramado, os espectadores se alinharam para conferir o primeiro dia de apresentações musicais na sexta-feira, 20, inaugurado com cortejo da banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto e do Povo Kariri do Sítio Poço Dantas.

Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro(Foto: Samuel Macedo/Centro Cultural do Cariri)
Foto: Samuel Macedo/Centro Cultural do Cariri Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro

Inicialmente de maneira tímida, o público se acomodou com cangas e espreguiçadeiras para a abertura comandada pelo duo Junior Crato e Fabrício da Rocha, que já daria o tom dos próximos dias. Eles compararam a atmosfera do momento a um "festival dos anos 1970" e apresentaram repertório do projeto "Selestrial", construído em homenagem ao músico Hermeto Pascoal.

A junção dos talentos trouxe dinamicidade à trajetória apresentada, com a fluidez da flauta e o peso dos acordes do violão, configurada por fases da banda Quarteto Novo e da carreira solo. No mês de agosto, Hermeto cancelou shows por questões de saúde e recebeu pedidos de "boas energias" durante o show.

Em seguida, em alusão ao Dia do Gaúcho, celebrado na mesma data, a agrupação Quartchêto subiu ao palco para propagar o som sulista. Composta por Hilton Vaccari (violão), Julio Rizzo (instrumentos de sopro), Luciano Maia (acordeon) e Ricardo Harenhalt (bateria), a banda instrumental ficou responsável por apresentar ritmos do Rio Grande do Sul até então desconhecidos pela maioria dos presentes: valera, chamamé e o xote "à là gaudério", ou seja, o xote gaúcho, com gaita e a viola caipira.

A última faixa foi "Galope do Guará", um tema com influência de gêneros da Argentina e Uruguai que manteve o público animado para a apresentação de Ney Conceição com o Baile do Ney. Às 23 horas, quando ele subiu ao palco, ainda tinham crianças e jovens que continuaram dançando com o groove dos arranjos e as interpretações de músicas populares, a exemplo de "Azul" (Gal Costa), e inéditas, como "Cariraço", versão da canção "Loro", de Egberto Gismonti.

No sábado, 21, os shows começaram com a apresentação do gaúcho Gilberto Monteiro, que convidou Sucinta Orquestra e Gustavo Garoto. Com 50 anos de carreira, o instrumentista surpreende com este formato que percorre outros estados brasileiros: clássicos gaúchos como "Pra ti, Guria" adquiriram nova roupagem com os acordes de Clarissa Ferreira e Miriã Freitas (violino), Gabi Vilanova (viola) e Luyra Dutra (violoncelo), acompanhados pelo talento de Gustavo Garoto, jovem pianista que assina composições inéditas com Gilberto.

Em seguida, foi a vez de Carlinhos Patriolino & Choro Cabuloso. Há cerca de um ano, os músicos trabalham em conjunto com o projeto, que foi até o Club do Choro, em Paris, no mês de março. É uma mistura de jazz e choro feita com nomes já experientes, a exemplo do pianista Tito Freitas, e de integrantes mais contemporâneos, como o violonista José Ramos. Compõem, ainda, Tauí Castro (pandeiro), Thesco Carvalho (trombone e flauta).

Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro(Foto: Samuel Macedo/Centro Cultural do Cariri)
Foto: Samuel Macedo/Centro Cultural do Cariri Programação do Choro Jazz aconteceu entre os dias 17 e 22 de setembro

O encerramento da noite ficou por conta de Moacyr Luz e Samba do Trabalhador. Ao lado dos companheiros do projeto Samba do Trabalhador, roda de samba que preenche as segundas-feiras da capital do RJ, o compositor levantou os espectadores caririenses ao entoar grandes sucessos gravados por nomes como Zeca Pagodinho, Fafá de Belém e Martinho da Vila.

Já o domingo, 22, começaria com uma roda de conversa com Egberto Gismonti. O momento foi cancelado devido atraso no voo do artista, mas foi compensado com um ensaio aberto para músicos no Vila da Música. Quem estava lá era a música Tamara Lacerda, fã do artista e primeira atração do Choro Jazz na data, ao lado de Ranier Oliveira.

Na sequência, foi a vez d'O Trio, formado por Maurício Carrilho, Paulo Sérgio Santos e Pedro Amorim, que mostraram sonoridades formadas por violão, clarinete e bandolim. Para fechar a edição, Egberto Gismonti subiu ao palco com a Orquestra à base de Sopro de Curitiba, com repertório composto por temas clássicos e releituras contemporâneas de sucessos de Gismonti.

Para uma primeira vez, esta "nova" edição do Choro Jazz conseguiu demarcar público com programação inteiramente gratuita e mesclar artistas nacionais com nomes que mantêm a música instrumental local, um ponto forte do Cariri renovado com formações e eventos semelhantes, além da integração dos Mestres da Cultura. O movimento nas áreas abertas do Centro Cultural, preenchidos com crianças, jovens e adultos, mostram que há um interesse no segmento, que tende a ser crescente com a continuidade.

Depois do Crato, o projeto segue para Fortaleza, de 29 de novembro a 1º de dezembro, e Jericoacoara, de 3 a 8 de dezembro. Atrações completas ainda serão divulgadas nas redes sociais (@chorojazz).

*Réporter foi enviada ao Crato pelo Festival Choro Jazz

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